Com sintomas silenciosos que acabam levando ao tratamento tardio, o linfoma é uma doença muito perigosa, que pode ser fatal. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 4 mil pessoas morrem anualmente deste tipo de tumor no Brasil. Os casos vêm dobrando nos últimos 20 anos, chegando a 12 mil em 2022. O Inca prevê que mais de 15 mil brasileiros serão diagnosticados com linfoma anualmente entre 2023 e 2025, reforçando a necessidade de conscientização sobre a doença.

Segundo dados do Inca, o número estimado de casos novos de linfoma não Hodgkin (LNH) para o Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 12.040 casos, o que corresponde a um risco estimado de 5,57 por 100 mil habitantes, sendo 6.420 casos em homens e 5.620 casos em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 6,08 casos novos a cada 100 mil homens e 5,08 a cada 100 mil mulheres.

Cerca de 70% da população mundial desconhece o que são linfomas, um tipo de câncer que acomete o sistema linfático ou imunológico, conforme revelam dados da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).  Esses cânceres são mais comuns em pacientes entre 15 e 30 anos e naqueles acima dos 60 anos. Com o envelhecimento da população mundial, é muito importante que seja abordada a relação entre os linfomas e o grupo dos 60 anos ou mais.

Neste Dia Mundial da Conscientização sobre Linfomas (15/9), o Portal Vida e Ação ouviu duas hematologistas sobre o tema.

HIV, hepatite e doenças autoimunes podem causar linfomas

Lisa Aquaroni Ricci, do Instituto de Oncologia de Sorocaba (IOS), explica que atualmente são reconhecidos mais de 50 subtipos diferentes de linfomas, cada um com características, prognósticos e tratamentos específicos.

É um câncer que se origina das células do sangue chamadas linfócitos (glóbulos brancos que fazem parte do sistema de defesa do organismo) e pode afetar diversos locais do corpo, como gânglios, pele, aparelho digestivo, mamas, testículos e até mesmo o sistema nervoso central”, explica a médica.

Dra. Lisa ressalta que os sintomas variam conforme o local e órgão acometido, mas a maioria dos linfomas também está associada a emagrecimento, sudorese noturna e febre vespertina. O diagnóstico é confirmado por meio de biópsia do local afetado.

Existem diversos fatores de risco para o desenvolvimento de linfomas. “Alguns estão associados a infecções virais (HIV, hepatite C e HTLV), radiação ionizante, doenças autoimunes e estados de imunossupressão“, esclarece a hematologista.

A especialista enfatiza que consultas médicas regulares e exames de rotina são fundamentais para identificar problemas de saúde, incluindo linfomas em estágios iniciais. O tratamento varia conforme o tipo de linfoma e pode incluir quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, transplante de medula óssea e terapia celular. “Cada modalidade terapêutica é individualizada de acordo com o subtipo de linfoma, idade do paciente e comorbidades”, finaliza a médica.

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Especialista responde as principais dúvidas sobre a doença

Para orientar a população e, principalmente, alertar sobre os sintomas, a  médica hematologista e professora da escola Unisul Tubarão/SC, Carolina Wiggers, consultora da Inspirali, responde às principais dúvidas sobre o tema.

– O que é linfoma?

Os linfomas são um grupo de neoplasias malignas que se originam nas células do sistema linfático, que faz parte do sistema imunológico do nosso corpo, e causam um crescimento anormal e descontrolado de células dos linfonodos e do baço.

– Quais os tipos da doença?

Os linfomas são classificados em dois grandes grupos: o Linfoma de Hodgkin e os Linfomas Não-Hodgkin. O primeiro é um tipo menos comum, caracterizado pela presença das chamadas células Reed-Sternberg; enquanto o segundo grupo é mais heterogêneo e composto por mais de 20 tipos distintos da doença, que são agrupados de acordo com o tipo de célula linfoide afetada (linfócitos B ou T) e com a agressividade da doença.

– Qual é o tipo mais agressivo?

Após o diagnóstico e a classificação do tipo de linfoma, a doença é estratificada de acordo com a extensão. Essas informações são importantes para selecionar adequadamente a forma de tratamento e estimar o prognóstico do paciente. Mas de uma maneira geral, os linfomas não-Hodgkin de desenvolvimento rápido, como o Linfoma Difuso de Grandes Células B (DLBCL) e o Linfoma de Burkitt, são mais agressivos em sua apresentação e podem ter evoluções desfavoráveis se não tratados rapidamente, contudo se iniciado o tratamento precoce tem boas taxas de curas.

– É uma doença hereditária?

O linfoma não é uma doença hereditária, mas ele se inicia a partir de uma falha genética no desenvolvimento dos glóbulos brancos do tipo linfócitos.

– Quais os principais sintomas?

Os linfomas podem se manifestar de diversas maneiras, com variação de sinais e sintomas conforme o tipo específico de linfoma, o estágio da doença e a localização dos linfonodos afetados. Alguns dos mais comuns incluem o aumento dos linfonodos (gânglios linfáticos) em várias áreas do corpo como pescoço, axila, virilha, abdome e mediastino (tórax); suores noturnos excessivos; emagrecimento não intencional; fadiga; febre; coceira intensa; sintomas respiratórios como falta de ar e tosse persistente e sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, aumento de volume e dor abdominal.

– Quando procurar um médico?

A estratégia de diagnóstico precoce contribui para os melhores resultados do tratamento, por isso, se houver suspeita de alguma alteração como aumento dos linfonodos, esplenomegalia (aumento do volume do baço), febre, suores noturnos e perda de peso é recomendável procurar o atendimento médico mais próximo para uma melhor avaliação.

– Quais as causas?

Alguns fatores de risco ambientais, ocupacionais, comportamentais, de condições de saúde e genéticos têm sido associados aos linfomas, como alguns agentes infecciosos (vírus Epstein Baar, HTLV-I, HIV, Helicpobacter pylori e hepatite C), exposição a agrotóxicos e radiação ionizante, após quimioterapia ou transplante de células tronco hematopoéticas, secundário a doenças auto imunes e inflamatórias e estado de imunodeficiência aquirida.

– Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico dos linfomas se inicia com a suspeita clínica conforme a história e o exame físico e é confirmado após a realização de alguns exames. Entre os exames para a detecção, destaca-se a biópsia excisional do tecido e a análise histopatológica da lesão, que é complementado com a imunohistoquímica, a imunofenotipagem e a análise molecular. Associado a isso, são feitos exames laboratoriais e de imagem, como PET-CT, tomografias e ressonância magnética, para avaliar a extensão das lesões. Após a confirmação, a doença é classificada de acordo com o tipo de linfoma (indolente, de crescimento relativamente lento; ou agressivo, de alto grau e desenvolvimento rápido) e o estágio em que se encontra.

– Por que o linfoma é uma doença geralmente detectada tardiamente?

Os linfomas podem ser classificados nas formas indolentes e nas formas agressivas. O primeiro grupo pode apresentar poucos sintomas e progressão arrastada do quadro por vários anos, logo, pode atrasar a procura pelo atendimento médico e o diagnóstico. Já o segundo grupo apresenta uma progressão rápida dos sintomas e acelera a busca pela atenção especializada.

– Como é feito o tratamento?

O tratamento dos linfomas é individualizado e depende de alguns fatores, como o tipo específico de linfoma, o estágio da doença, a idade do paciente e o seu estado geral de saúde. As opções de tratamento incluem a quimioterapia, a radioterapia em alguns casos selecionados, a imunoterapia com anticorpos monoclonais, as terapias alvo específicas em linfomas com algumas alterações genéticas ou moleculares, transplante de células tronco hematopoéticas e o acompanhamento e suporte. Cada caso deve ser cuidadosamente avaliado e o plano de tratamento deve ser personalizado para atender as necessidades individuais de cada paciente.

– Qual o médico responsável?

Os médicos responsáveis pelo tratamento dos linfomas são os hematologistas.

– Existe cura? Quais as chances?

Os pacientes com linfomas indolentes podem apresentar poucos sintomas por vários anos e, nesses casos, a cura é menos provável do que nas formas agressivas de linfoma. Esses últimos podem levar rapidamente ao óbito se não tratados, mas, em geral, são mais curáveis.

Com Assessorias

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