Durante o mês de junho, o Brasil se mobiliza para dar visibilidade à luta contra a violência cometida contra pessoas idosas. Conhecido como Junho Violeta, o movimento é parte de uma campanha mundial que culmina no dia 15 de junho, data reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. A campanha  busca sensibilizar a sociedade sobre os diversos tipos de violência que afetam essa população, como negligência, abandono, violência física, psicológica, financeira, sexual e institucional.

Em um país que envelhece rapidamente, a pauta se torna ainda mais urgente.  De acordo com o IBGE, o Brasil já tem mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, número que deve dobrar nas próximas décadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil será, até 2030, o quinto país com maior número de pessoas idosas no mundo — uma mudança demográfica conhecida como “inversão da pirâmide etária”.

Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), do  Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mostram que em 2024 o Disque 100 recebeu 179.600 denúncias de violência contra pessoas com 60 anos ou mais, representando cerca de 27% de todas as denúncias de violações de direitos humanos registradas no ano. Somente no primeiro trimestre, foram mais de 42 mil denúncias, evidenciando a gravidade e a recorrência da situação.

Entre os tipos de violência mais denunciados em 2024 estão negligência (17,5%), exposição de risco à saúde (14,7%), tortura psíquica (12,9%) e violência patrimonial (5,7%). A maioria das agressões (71,4%) acontece no ambiente doméstico, e os principais agressores são familiares, especialmente filhos, que responderam por mais de 56% dos casos.

Idosos denunciam abandono, violência patrimonial e física no RJ

No Estado do Rio de Janeiro, em sete meses, o Disque Idoso 165 já recebeu mais de 8,8 mil ligações, com 14% dos atendimentos correspondendo a denúncias sobre violência contra a pessoa idosa. Entre os casos relacionados à violência, os que apresentam mais denúncias são de abandono (34,8%), violência patrimonial (17,9%) e violência física (14,7%).

Além das denúncias relacionadas à violência, a central de atendimento voltada para este público, criada pelo Governo do Estado, foi procurada para atendimentos sobre questões de conflitos familiares (5%), informações diversas (4%), reclamações (3%) e informações jurídicas (3%).

Rose Silva precisou resolver uma demanda sobre o pagamento de um benefício do pai e ficou satisfeita com o atendimento. “Eu liguei para falar sobre o pagamento do meu pai, que está sem receber. O atendente recebeu minha demanda e, depois, outra pessoa do Disque Idoso 165 me ligou para informar que o órgão responsável entraria em contato no mesmo dia. E assim foi. Todos me deram muita atenção. Eu recomendo o serviço”, afirmou.

Com o objetivo de oferecer suporte à população com 60 anos ou mais, especialmente em casos de violência, orientações sobre direitos, serviços de saúde e outras necessidades, o serviço pode ser acessado por telefone ou pelo aplicativo Disque Idoso 165, disponível para dispositivos Android e iOS. Nestes sete meses de funcionamento já foram 3.8 mil downloads.

O aplicativo é uma iniciativa pioneira no país e oferece diversos serviços, como atendimento via chat, agendamento de consultas médicas com lembretes e a possibilidade de cadastrar uma rede de proteção (família, cuidadores e amigos), que será acionada por SMS ou WhatsApp em situações de emergência. Além disso, o app conta com um “botão de pânico”, que, em casos de urgência ou violência, aciona diretamente a Polícia Militar.

Sob a gestão da Secretaria de Juventude e Envelhecimento Saudável, o serviço se tornou uma importante ferramenta no enfrentamento a esses casos, além de oferecer suporte em saúde, informações e outras demandas do público idoso. Para baixar, basta entrar na loja de aplicativos do celular e procurar por Disque Idoso 165. O app é exclusivo para cidadãos com 60 anos ou mais. A central funciona 24 horas por dia.

Neste mês de junho, de conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa, reforçamos o quanto a denúncia relacionada a crimes contra a população é fundamental para a proteção dos nossos idosos. No Disque Idoso 165, orientamos e acompanhamos a solicitação até que a demanda esteja totalmente resolvida, dando assistência para o idoso ou familiar que nos procura buscando ajuda para ele”,  explica o secretário Alexandre Isquierdo. 

Combate à violência contra a pessoa idosa no Brasil

A violência contra a pessoa idosa é uma questão de segurança pública que exige atenção urgente. Casos de agressão, negligência e exploração vêm crescendo, o que torna fundamental o engajamento coletivo por um envelhecimento digno e livre de violência.

Para Marília Berzins, especialista em gerontologia e diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de São Paulo, é fundamental que a sociedade enfrente esse problema com seriedade e ação concreta.

A violência contra a pessoa idosa é silenciosa, invisibilizada e muitas vezes naturalizada até mesmo por quem deveria proteger. Ela acontece dentro das casas, nas instituições e nas ruas. É urgente romper com esse silêncio”, afirma Berzins.

Segundo a especialista, a violação de direitos muitas vezes ocorre por meio de atos cotidianos, como a infantilização do idoso, a falta de acesso a cuidados de saúde adequados, e a omissão diante de maus-tratos.

Falar em envelhecimento com dignidade é falar de um compromisso coletivo. Isso inclui políticas públicas, formação de profissionais, suporte às famílias e, sobretudo, o reconhecimento da pessoa idosa como sujeito de direitos”, complementa.

Agenda Positiva

Velhos Amigos promove iluminação de monumentos em todo o Brasil

Diante do envelhecimento acelerado da população brasileira, o Instituto Velho Amigo reforça a urgência de proteger os direitos dessa população e valorizar sua presença e contribuição na sociedade A organização que atua na defesa dos direitos da população idosa em situação de vulnerabilidade dá visibilidade nacional adete à campanha Junho Violeta com a iluminação de monumentos emblemáticos, chamando atenção para a causa

O Instituto Velho Amigo vem mobilizando o país por meio da iluminação de monumentos importantes em diversas capitais. A ação integra a campanha Junho Violeta e visa chamar a atenção da sociedade para o enfrentamento das violências contra pessoas idosas.

Entre os monumentos iluminados estão o Cristo Redentor (RJ), a Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, o Edifício Matarazzo, a Biblioteca Mário de Andrade e o Viaduto do Chá (SP), além de pontos de destaque em Fortaleza (CE). Todos estiveram iluminados nesse domingo, 15 de junho, como símbolo de apoio à causa.

Nosso propósito é ressignificar e dignificar as múltiplas velhices do Brasil. Neste ano, queremos chamar atenção para uma forma de violência que muitas vezes passa despercebida: a invisibilidade social. Ela se manifesta no silêncio, no descaso, nas consultas adiadas, na escuta negada, no cuidado que não chega. Iluminar monumentos é também um convite simbólico para lançar luz sobre essa realidade e convocar toda a sociedade a romper com a indiferença. Envelhecer com dignidade precisa ser um direito de todos”, afirma Regina Moraes, presidente do Instituto Velho Amigo.

A iluminação especial do monumento ao Cristo Redentor foi realizada em parceria com o Consórcio Cristo Sustentável, com a doação de 100 cobertores pelo Instituto Velho Amigo, revertidos para a Campanha do Agasalho, que está arrecadando agasalhos para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Compromisso com as múltiplas velhices

Instituto Velho Amigo é uma organização pioneira no Brasil na defesa dos direitos das pessoas idosas, atuando para ressignificar e dignificar as múltiplas velhices. Trabalha na superação do etarismo, no enfrentamento às violências e na promoção de um envelhecimento digno, inclusivo e livre de preconceitos.

Até hoje, mais de 30 mil pessoas idosas já foram impactadas pelas ações do Instituto. Mais do que oferecer assistência, o Instituto Velho Amigo busca transformar a visão que a sociedade tem sobre o envelhecimento e sobre a palavra “velho”, promovendo uma cultura de respeito, pertencimento e dignidade.

Sua atuação é ampla e integrada, conectando diversos agentes sociais — famílias, instituições, empresas, governos e a sociedade civil — para fortalecer a rede de proteção e cuidado às pessoas idosas.

Entre seus programas estão:

  • Núcleo de Convivência da Pessoa Idosa de Heliópolis (NCI), na maior comunidade da cidade de São Paulo, promove atividades para fortalecimento da autonomia, saúde física, mental e emocional, além de vínculos comunitários.
  • Programa Revitaliza, que oferece apoio técnico e institucional para organizações que acolhem pessoas idosas em situação de risco em todo o país, incluindo ILPIs, Centros de Acolhida, espaços para idosos LGBTQIA+ e outras iniciativas.
  • As frentes de Advocacy e Comunicação, que atuam diretamente na defesa de direitos, na articulação com o Ministério Público e na criação de campanhas e conteúdos educativos para combate ao etarismo, à violência e às desigualdades que impactam a população idosa.

Com Assessorias

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