Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um alerta sobre o número de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos acima do peso, que quadruplicou em todo o mundo desde 1990. No Brasil, a situação já é alarmante. Segundo o relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, publicado de 2022, mais de 340 mil crianças entre 5 e 10 anos foram diagnosticadas com obesidade. Esse número representa 10,41%, no Sudeste; 9,67%, no Nordeste; 9,43%, no  Centro-Oeste e 6,93%, na Região Norte.

As consequências são sentidas em consultórios médicos de pediatras, nutricionistas e outros especialistas. Problemas de saúde típicos de adultos obesos, como a hipertensão arterial e a hipercolesterolemia (colesterol alto), além de resistência à insulina, têm sido cada vez mais frequentes em crianças. Outros fatores, como problemas ortopédicos, respiratórios e dermatites, também costumam se manifestar com maior frequência em crianças obesas.

A primeira infância é considerada entre a faixa etária do nascimento até os seis anos, sendo um período crucial para a formação e determinação do estilo de vida saudável até a fase adulta. Portanto, é importante seguir alguns cuidados especiais na alimentação neste período, para prevenir a obesidade infantil e garantir hábitos saudáveis para a vida toda.

Hoje, devido ao grande número de crianças diagnosticadas como obesas, a preocupação dos pais deve iniciar durante a gestação, com a saúde da mãe, e seguir por toda a infância.

“O aleitamento materno é um fator de proteção contra a obesidade; em contrapartida, o descontrole sobre a saciedade, que muitas vezes tem início com a insistência dos pais para que a criança ‘coma tudo’, mesmo demonstrando que está satisfeita, é um fator desencadeante do problema”, afirma a nutricionista Cintya Bassi.

Segundo ela, a maneira mais simples de avaliar o ganho de peso excessivo é pela observação dos pais e responsáveis. Segundo ela, o ganho de peso deve ser acompanhado de aumento de estatura e aceleração da idade óssea.

“Quando o peso continua a aumentar e os outros fatores desaceleraram, é o momento de intervir. O IMC (índice de massa corporal) é bastante eficaz para indicar o estado nutricional, lembrando que os parâmetros utilizados para crianças são diferentes dos que são utilizados para adultos”, complementa a coordenadora de Nutrição e Dietética do São Cristóvão Saúde.

Crianças tendem a imitar os pais ou responsáveis

De acordo com Sylvia Ramuth, diretora técnica da rede Emagrecentro, o crescimento, desenvolvimento e aprendizado dependem não somente da genética, mas principalmente com os cuidados e atenção que a criança recebe dos pais.

“O primeiro ponto é o modelo de comportamento alimentar que os filhos tendem a imitar os responsáveis, ou seja, se os pais adotam hábitos alimentares saudáveis, as crianças são mais propensas a seguir o exemplo. Além disso, os pais têm a responsabilidade de fornecer às crianças um ambiente alimentar saudável, que inclua a disponibilidade regular de alimentos nutritivos, como frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas”.

Outro ponto importante é envolver as crianças na preparação das refeições, que auxiliam a familiaridade e interesse pelos alimentos. Pesquisas mostram que crianças que participam do processo de preparação de refeições têm maior probabilidade de consumir uma variedade de alimentos saudáveis.

Estabelecer a criação de uma rotina alimentar adequada, com horários regulares para as refeições principais e os lanches intermediários, ajuda a estabelecer bons hábitos alimentares, evitando o famoso “beliscar” que geralmente são por alimentos com baixa densidade nutricional e alta densidade calórica.

“Os pais devem evitar pressionar as crianças a comer determinados alimentos e evitar recompensas ou punições baseadas na comida. Em vez disso, deve-se promover uma atitude saudável em relação à comida, encorajando a experimentação de novos alimentos e valorizando a diversidade alimentar”, conclui a especialista.

Os cuidados alimentares para cada faixa etária na primeira infância

Entre 0 a  6 meses: A Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, e se possível, complementar até os 2 anos de vida. O leite materno possui nutrientes indispensáveis para o desenvolvimento cognitivo e físico do bebê. Na impossibilidade do aleitamento materno exclusivo, é necessário o acompanhamento de profissional capacitado para a orientação da fórmula infantil.

Entre 6 meses a 2 anos: Nesta fase devem ser introduzidos os líquidos (somente água), sólidos como papinhas doces (feito com frutas) e salgadas (feito com vegetais, carnes/ovos, leguminosas e cereais/ tubérculos). Manter o aleitamento nos intervalos desses alimentos, sempre estabelecendo uma rotina regular com horários fixos. Deve-se evoluir a consistência da comida gradualmente até os 12 meses, com oferta variada de cores e texturas de alimentos.

Entre 2 anos a  6 anos: Este é um período da vida da criança em que vão sendo formados os hábitos alimentares, nessa situação, é importante não forçá-la a comer nem oferecer doces como recompensa. Assim que sentir fome, ela vai procurar se alimentar, pois já está se formando e se consolidando a autonomia alimentar.

Descubra quais são os alimentos que não podem faltar no prato da sua criança

Todos os pais e responsáveis devem ter o máximo de cuidados necessários com os filhos, ainda mais quando se trata da alimentação. É que a alimentação infantil pode influenciar de forma significativa na vida adulta, por isso certos alimentos jamais devem faltar no prato da criança.

Segundo a professora do curso de Nutrição do Centro Universitário Cesuca, Carolina Böettge Rosa, o Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de dois (2) anos indica que o mais adequado e saudável a ser incluído nos pratos é a “comida de verdade”, iniciando pelo aleitamento materno exclusivo até os seis (6) meses de vida.

“A partir dessa idade, a refeição das crianças deve ser rica em nutrientes, por isso o prato precisa ser bem variado. Arroz e feijão não podem faltar, pois essa combinação possui todos os aminoácidos essenciais de que precisamos”, afirma.

Além disso, o prato deve ter ainda uma outra fonte de proteínas, como as carnes, que também são fontes de ferro, zinco e vitaminas do complexo B. Legumes, verduras e frutas irão garantir as fontes de vitaminas e minerais para a manutenção da imunidade, e quanto mais variado for esse grupo, melhor.

As carnes e os laticínios integrais também são fontes de nutrientes importantes, como proteínas, ferro e cálcio. Porém, podem conter gorduras saturadas que, em excesso, contribuem para o sobrepeso e a obesidade, e para as dislipidemias, ou seja, presença de níveis elevados de gorduras no sangue. “De modo geral, o consumo excessivo de qualquer alimento deve ser evitado, pois do contrário pode causar diversos efeitos negativos”.

In natura, minimamente processados, processados ou ultraprocessados? 

A alimentação em qualquer faixa etária deve ter como base alimentos in natura ou minimamente processados. Exemplos desses são o arroz, feijão, as frutas, os legumes e as verduras, a mandioca, o milho, as carnes e os ovos, entre outros. Os alimentos processados industrialmente, como enlatados, queijos e conservas, devem ser limitados. “E, se forem consumidos, utilizados em pequenas quantidades”, indica.

“Alimentos ultraprocessados não devem fazer parte da alimentação em qualquer idade, em especial na infância, pois contêm quantidades excessivas de calorias, sal, açúcar, gorduras e aditivos. Esses produtos seriam biscoitos, bolachas, sucos artificiais, refrigerantes, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo, guloseimas, entre outros. Essa categoria não faz parte de um padrão alimentar saudável”, destaca a especialista.

A professora do Cesuca reforça que a má alimentação na infância, por exemplo, a que é baseada em comidas ultraprocessadas, pode gerar diversos problemas no futuro, entre eles obesidade, hipertensão, doenças do coração, diabetes, cárie e câncer.  

Alimentos ricos em açúcar e gordura, como os ultraprocessados, aumentam as chances de ganho de peso excessivo durante a infância e, consequentemente, o desenvolvimento de obesidade e outras doenças na vida adulta. Eles são formulados para serem extremamente saborosos, induzirem seu consumo frequente ou mesmo para criar dependência. Isso é particularmente crítico no começo da vida, pois a criança está formando a base de seu hábito alimentar. O consumo desses alimentos pode levá-la a ter menos interesse pelos alimentos in natura ou minimamente processados”, explica.

Para que as crianças mantenham um bom hábito, Carolina dá algumas dicas. No café da manhã, por exemplo, ela recomenda os laticínios (leite e derivados) que são importantes fontes de cálcio e proteínas, além de favorecerem a saciedade.

“Como nosso costume é de beber leite na primeira refeição do dia, o leite integral ou fórmulas infantis podem ser oferecidos para os filhos no café da manhã (de acordo com a idade, e quando não houver intolerância ou alergias). Cereais integrais, como aveia e pães são boas fontes de fibras, e as frutas fornecem vitaminas e minerais”, afirma.

13 hábitos saudáveis para ajudar as crianças

A nutricionista Cintya Bassi recomenda alguns hábitos saudáveis para as crianças, que os pais também podem e devem seguir:

Realizar ao menos 5 refeições diárias;

Evitar sobrecarga em determinada refeição, especialmente no jantar;

Adaptar-se a uma variedade grande de alimentos e preparações;

Evitar líquidos calóricos e de baixo valor nutricional, como refrigerantes e bebidas açucaradas;

Oferecer lanches e refeições saudáveis para toda a família;

Substituir leites e derivados integrais pela versão semidesnatado;

Preferir queijos magros;

Garantir o consumo de hortaliças e frutas em todas as refeições;

Reduzir a porção de alimentos;

Evitar alimentos ricos em gordura, açúcares e de alto valor calórico;

Evitar fast food e

Incentivar a atividade física.

Com Assessorias

 

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