Turistas e moradores de cidades do litoral paulista, principalmente da Baixada Santista, como Guarujá, Praia Grande, Santos e São Vicente, reclamam do aumento de casos de virose após as festas de final de ano. Eles vêm relatando sintomas como vômito, dor abdominal e diarreia. Também afirmam estar sofrendo com hospitais lotados e falta de remédios em farmácias.

A virose é como se chama qualquer doença causada por um vírus que nem sempre pode ser identificado, embora os mais comuns sejam provocados por adenovírus e rotavírus. As principais viroses são respiratórias ou gastrointestinais – caso das que vêm afetando moradores e turistas do litoral paulista.

A transmissão ocorre pelas vias respiratórias, a partir de gotículas expelidas por tosse ou espirro, ou pelo consumo de alimentos contaminados por bactérias e outros microrganismos. 

As viroses afetam principalmente o trato gastrointestinal [sistema digestivo]. Os principais sintomas são diarreia, febre, vômito, enjoo, falta de apetite, dor muscular, dor na barriga, dor de cabeça, secreção nasal e tosse, que podem durar entre um dia e uma semana.

Entre as principais formas de prevenção de viroses estão as práticas de higiene e consumo adequado de alimentos, lavando sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro e ao manipular e preparar alimentos. Também é importante evitar a ingestão de alimentos mal cozidos e de água ou sucos de procedência desconhecida.

O principal tratamento é a hidratação. Para diminuir os sintomas é preciso ficar em repouso, beber muita água ou isotônicos, evitar leite e derivados, café, refrigerantes, alimentos gordurosos, grãos e alimentos crus.

Além, é claro, de procurar atendimento médico, caso os sintomas persistam por mais de 12 horas”, disse Marco Chacon, coordenador da Vigilância Sanitária de Guarujá.

Estado orienta sobre cuidados para evitar gastroenterite

Diante do aumento de casos de gastroenterites, a  Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) orienta a população a tomar alguns cuidados para impedir o avanço da contaminação por essas doenças diarreicas.

A principal recomendação é reforçar a higienização das mãos, principalmente antes de se alimentar e antes de preparar qualquer tipo de alimento, e evitar alimentos mal cozidos. Se for fazer consumo de alimentação fora da residência, que esteja atento às questões de higiene do estabelecimento em questão”, alerta Alessandra Lucchesi, diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da SES-SP.

Para consumo de água, gelo e sorvete, o alerta é para que sejam de fontes confiáveis e que se utilize água tratada. Além disso, em relação ao armazenamento, é recomendado que os alimentos sejam devidamente refrigerados, por conta das altas temperaturas observadas neste início de ano.

O hipoclorito de sódio está disponível gratuitamente em todas as unidades básicas de saúde (UBSs). Para fazer a desinfecção da água em casa, a população pode fazer uso do hipoclorito de sódio  (água sanitária) a 2,5%, caso perceba alguma alteração de cor, gosto ou cheiro na água fornecida pelo sistema de abastecimento público.

A recomendação da proporção é de duas gotas por litro de água, esperar 30 minutos para depois fazer o consumo, tanto para a ingestão quanto para cozinhar ou até mesmo para lavar os utensílios”, orientou a diretora.

Nunca tome banho em águas impróprias

Outra forma de prevenção de doenças diarreicas, destacou a diretora, é não tomar banho em praias classificadas como impróprias. Para consultar a qualidade da água do mar, há um monitoramento da situação das águas no site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Das 175 praias frequentadas por banhistas no estado de São Paulo e que são monitoradas pela Cetesb, 38 estão impróprias para banho.

A população pode também acompanhar a bandeira de sinalização das praias: se ela estiver vermelha, isso indica que a praia se encontra imprópria para banho. Não é recomendado o banho na água 24 horas após as chuvas, por conta do risco de deslocamento de alguns resíduos para a água do mar. “Essas medidas de precaução já auxiliam consideravelmente na interrupção da transmissão dessas doenças diarreicas e gastroenterite de modo geral”, destacou Alessandra Lucchesi.

Por meio de nota, o Governo de São Paulo informou que os municípios com aumento de ocorrências de diarreia aguda estão sendo orientados pela Secretaria de Estado da Saúde a realizarem investigação epidemiológica e a coleta de fezes dentro de cinco dias do início dos sintomas. De acordo com o governo, essa coleta é fundamental para detectar o patógeno causador do surto.

No caso dos municípios, a recomendação do governo do estado é que estejam atentos às unidades de pronto-atendimento, que são os serviços normalmente mais procurados neste período, e que verifiquem o aumento dos atendimentos por doença diarreica aguda. São feitas ainda recomendações de coleta e organização de fluxos.

A partir disso, [a orientação é que] comecem a monitorar os territórios para que a gente possa entender quais são os bairros com a maior incidência de casos. E então, com todos os procedimentos que já são da rotina, fazer a notificação, a investigação e, quando aplicável, fazer a coleta de amostras de fezes, amostras de água ou até mesmo investigar uma possível fonte comum de contaminação que porventura possa ser algum alimento”, disse Alessandra Lucchesi.

Leia mais

Dengue, covid, influenza, resfriado ou gastroenterite: o que eu tenho?
Mudanças climáticas adoecem e matam mais os brasileiros
Enchentes aumentam risco de doenças em pets e humanos
Cólera: falta de saneamento e de água potável aumenta risco

Guarujá investiga casos de gastroenterocolite aguda

Já no Guarujá, a situação pode ser definida como surto por conta dos casos de gastroenterite que atingiram a população nos últimos dias, informou a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo houve reforço de médicos e enfermeiros no sistema municipal para lidar com o aumento de casos o que, segundo a prefeitura, fez diminuir o tempo de espera que, em uma das UPAs chegou a ser de quatro horas ontem e passou para cerca de duas horas nesta sexta-feira (3).

A prefeitura informou que aguarda o resultado de análises encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz para tentar esclarecer a origem dos casos de GECA (gastroenterocolite aguda), uma doença que causa inflamação no estômago, intestino delgado e intestino grosso.

“Neste momento, temos considerado sim a utilização do termo surto para definir a situação em Guarujá, visto que nós temos a informação do volume de pessoas [atendidas] que já caracteriza surto”, disse a diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar da Secretaria de Estado da Saúde, Alessandra Lucchesi.

Ela explicou que é preciso ainda a confirmação de algumas informações por parte do município para entender a extensão do surto, e se ele abarca a cidade inteira ou apenas alguns bairros específicos.

Vazamentos e ligações clandestinas de esgoto podem ser a causa

A causa do aumento dos casos de virose no Guarujá pode estar relacionada a vazamentos e ligações clandestinas de esgoto na região da Enseada. Por conta disso, a prefeitura notificou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).  No domingo (5), a empresa negou que o surto de virose em Guarujá, no litoral paulista, não tem relação com a operação da empresa.

Não foi identificado qualquer problema na rede da companhia que possa ter atingido as praias do Guarujá. A companhia ainda não foi notificada pela prefeitura da cidade, mas, de toda forma, já prestou os devidos esclarecimentos à Secretaria Municipal de Meio Ambiente”, diz a nota. Ainda segundo a Sabesp, os sistemas de água e esgoto da Baixada Santista estão operando normalmente e são monitorados 24 horas por dia.

O município possui cerca de 45 mil imóveis irregulares, cujo despejo de esgoto pode estar sendo realizado em galerias de águas pluviais, o que afetaria a balneabilidade das praias. Isso porque as redes municipais de águas das chuvas, que devem ser fiscalizadas pela prefeitura, desembocam no mar”, acrescentou a Sabesp.

Aumento de casos nas emergências de Praia Grande

Cerca de sete mil pessoas foram atendidas nos três prontos-socorros de Praia Grande, no litoral de São Paulo, nas primeiras 48 horas de 2025. Isso representa um aumento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme informou o prefeito Alberto Mourão, em entrevista à Rádio Bandeirantes.
A Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande confirmou que as unidades de urgência e emergência estão realizando atendimentos relacionados a casos de virose com maior frequência nesses primeiros dias de 2025.
O aumento de casos estaria relacionado ao grande número de turistas que visitam a cidade nessa época do ano, com pico de cerca de 2 milhões de pessoas durante a virada do ano. O número de casos total, no entanto, não foi informado pela secretaria.
De acordo com protocolo do Ministério da Saúde, não é necessário produzir a notificação dos casos de virose, somente em um quadro de surto, o que não condiz com o cenário atual do município”, diz a nota da Prefeitura de Praia Grande.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) informou que acompanha a situação dos atendimentos em Praia Grande. No município, há um aumento do número de casos das doenças diarreicas, mas ainda não está confirmado que se trata de um surto.

O município apresentou um aumento no número de casos de gastroenterite, mas as informações ainda estão sendo averiguadas pelo município para entender se há ocorrência de algum surto ou não”, disse a Secretaria.

No momento, ainda não é possível fazer uma comparação com o ano anterior para analisar um possível aumento. Isso porque o acompanhamento das doenças diarreicas tem um fechamento por semana epidemiológica.

A contagem dos dias difere um pouco do ano-calendário. Acredito que na segunda-feira a gente consiga reunir as informações, não só desses municípios, mas do estado inteiro, para gerar os comparativos”, disse Alessandra. Ela acrescenta que, pela sazonalidade da doença, já é esperado que, no início de ano, haja um aumento do número de casos.

Aumento de casos em Santos e São Vicente

Os casos também cresceram em Santos. A prefeitura da cidade observou crescimento nos casos de virose em três unidades de pronto-atendimento (UPA) desde o mês de novembro. Em novembro foram contabilizados 2.147 atendimentos, em dezembro foram 2.264 e nos dois primeiros dias deste ano já foram atendidas 273 pessoas com sintomas de virose.

Segundo a prefeitura santista, os casos de virose costumam aumentar no verão, já que as férias, aglomeração de pessoas, o consumo de alimentos de origem desconhecida e as enchentes causadas pelas chuvas são fatores de risco.

Santos é uma cidade turística, que historicamente registra um grande aumento da população flutuante entre os meses de dezembro e fevereiro. A Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes, estima que, até o final de fevereiro, 3,6 milhões de veículos passarão pelo sistema a caminho das cidades da Baixada Santista”, informou a administração municipal de Santos.

Em São Vicente, a prefeitura contabilizou 1.657 atendimentos por sintomas relacionados a virose em novembro nos serviços municipais e 1.754 em dezembro. A Secretaria Municipal de Saúde informou que notou “um aumento no volume de atendimentos no início deste ano devido a possíveis fatores que favorecem os casos de virose no período do verão”.

Como identificar a origem dos casos de gastroenterite

Para identificar a origem dos casos, que podem ter transmissão hídrica ou alimentar, Alessandra Lucchesi explica que é feito um inquérito epidemiológico com as pessoas adoecidas para identificar se, em algum momento, houve consumo de alimento em comum em determinado local. Há ainda investigação relacionada à água.

Nesse contexto do litoral, a gente verifica tanto a qualidade da água do mar, tanto a água própria para consumo humano. Investigam-se quais foram as possíveis fontes de água que foram utilizadas, se foi a água do sistema de abastecimento público, se foi água de poço, se foi alguma outra água que foi adquirida. Todas essas questões, elas ainda estão em processo de investigação”, mencionou a diretora. A secretaria e os municípios estão em processo de coleta não apenas de amostras das fontes de água, mas das amostras de fezes dos pacientes para análise.

A partir disso, o material é encaminhado para o Instituto Adolfo Lutz para processamento. A pesquisa é feita tanto para vírus quanto bactérias e parasitas. “Se for alguma bactéria, a gente leva mais ou menos dez dias para conseguir ter esse resultado. Se for vírus ou parasita, o resultado sai muito mais rápido.”

Monitoramento da qualidade da água

O Governo de São Paulo informou que a Sabesp está fazendo um monitoramento, mas que até o momento não observou qualquer ocorrência que tenha alterado a qualidade da água fornecida na Baixada Santista.

Também orienta a população para se atentar à qualidade do mar e buscar informações antes de se banhar no litoral paulista, consultando a situação da água no site da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) ou acompanhando a bandeira de sinalização da praias: se ela estiver vermelha, isso indica que a praia se encontra imprópria para banho. Também não é recomendado o banho na água 24 horas após as chuvas.

Na quinta-feira (2), das 175 praias usadas por banhistas no estado de São Paulo e que são monitoradas pela Cetesb, 38 estavam impróprias para banho. Entre elas, as praias Aviação, Vila Tupi, Vila Mirim, Maracanã, Real e Balneário Flórida, em Praia Grande, e as praias de Perequê e Enseada, no Guarujá. Já em Santos, a Ponta da Praia, Aparecida, Embaré, Boqueirão, Gonzaga e José Menino estavam impróprias para banho.

Da Agência Brasil (atualizado em 5/1/25)

 

Shares:

Posts Relacionados

1 Comment
  • […] Desde dezembro, turistas e moradores de cidades do litoral paulista, principalmente da Baixada Santista, vem reclamando do aumento de casos de virose, principalmente após as festas de final de ano. A prefeitura do Guarujá chegou a declarar situação de surto de virose gastrointestinal. […]

    Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *