A onda de calor atípica para o inverno, conhecida como ‘veranico’, que chegou em boa parte do país na última segunda-feira (18), lotou praias, parques e outras áreas públicas neste final de semana. De acordo com o serviço de meteorologia Climatempo, as temperaturas podem atingir 31°C, cerca de 5°C acima da média histórica para o mês de agosto.
Mas é bom ficar atento à saúde diante das mudanças bruscas de temperatura, sobretudo nas grandes cidades, devido à poluição. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 13 milhões de pessoas morrem por ano devido à exposição aos fatores de risco ambiental. E o que é ruim deve ficar pior porque as mudanças climáticas podem agravar ainda mais essa situação.
Nos últimos dias, o calor intenso tem sido um grande desafio para quem gosta de se exercitar ao ar livre. As temperaturas elevadas aumentam a exigência do corpo, que precisa trabalhar mais para manter a regulação térmica. O risco de desidratação, exaustão térmica e até insolação é real, principalmente para pessoas mais sensíveis, como idosos, crianças e indivíduos com condições preexistentes.
Afinal, é seguro praticar atividades físicas ao ar livre em dias de calor? A resposta dos especialistas é sim, mas com responsabilidade.
Calor e poluição são ameaças à saúde
O coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo e professor de Medicina Esportiva, Raphael Einsfeld, explica que alguns cuidados devem ser tomados para que uma atividade prazerosa não se transforme em um problema.
O ar possui 21% de oxigênio e, à medida em que são adicionadas partículas inaláveis finas, fica mais difícil de os pulmões absorverem o oxigênio necessário para as funções do corpo, ou seja, quanto mais poluição, menos oxigênio chega ao organismo e com isso menos o indivíduo fica capaz de performar”, explicou.
As partículas inaláveis finas são poluentes com um diâmetro de menos de 2,5 micrômetros que podem entrar nos pulmões e na corrente sanguínea. Além delas, o monóxido de carbono, gás invisível e inodoro expelido pelos veículos automotores, é um risco para quem se exercita nas proximidades de áreas de grande trânsito, porque podem causar dor de cabeça, náusea, tontura e vômitos.
Einsfeld explica que, a partir desses fatores poluentes, a pessoa pode apresentar mais dificuldade para respirar e se sentir mais cansada e assim ficar mais predisposta a ter um mal súbito, “principalmente aqueles que já têm alguma patologia, como doença coronariana ou diabetes. Então, a probabilidade de um problema cardiovascular é muito alta, sem sombra de dúvida”, afirmou.
A poluição também aumenta os riscos de problemas respiratórios, como tosse, dificuldade de respiração e infecções. A dica para pessoas mais sensíveis é que nesse caso o tempo destinado à prática esportiva seja reduzido.
Essa mistura de calor, baixa umidade e poluição faz com que contraindiquemos atividades ao ar livre, principalmente quando as temperaturas externas fiquem acima dos 25 graus. As atividades físicas devem ser feitas quando o sol não está a pino, no início da manhã ou no fim da tarde. Também recomendamos os parques, que são áreas mais arborizadas. Exercitar-se à noite, quando não há uma irradiação direta, é outra opção”, finalizou.
Como adaptar a rotina e minimizar os riscos
Segundo Juliana Romantini, treinadora corpo & mente, habilitada em Medicina do Estilo de Vida pela Harvard University, e criadora do método Prática Integral, não é necessário abandonar os exercícios nos dias mais quentes, mas sim adaptar a rotina para evitar sobrecarga ao organismo e minimizar os riscos.
Manter-se ativo é fundamental, mas com atenção redobrada em períodos de calor extremo. O corpo precisa de tempo para se adaptar às temperaturas mais altas, e sinais como tontura, fraqueza e batimentos cardíacos acelerados são alertas importantes de que algo não está bem. Pequenas mudanças de hábito, como a escolha do horário certo, a hidratação contínua e o ajuste na intensidade do treino, fazem toda a diferença na segurança e no bem-estar”, explica a especialista.
Exercitar-se ao ar livre é uma boa oportunidade para se conectar com a cidade e observar pessoas e cenários urbanos, além de ser uma atividade democrática e de pouco investimento. Basta ter um tênis, uma roupa confortável e disposição. Mas, praticar exercícios físicos durante este período de verão fora de época pode ser um risco à saúde, em caso de exposição ao calor, ao clima com pouca umidade e especialmente à baixa qualidade do ar.
Dicas para ajudar na prática de exercícios em dias de muito calor
Para não colocar a saúde em risco, Juliana Romantini traz algumas dicas que podem ajudar na prática de exercícios em dias de muito calor:
- Hidrate-se antes, durante e depois do exercício – Não espere sentir sede para beber água. O corpo precisa de reposição contínua, principalmente em ondas de calor. Para quem costuma esquecer, vale programar alarmes no celular como lembrete.
- Ajuste a intensidade do treino – Exercícios naturalmente elevam a temperatura corporal e, em calor extremo, isso pode sobrecarregar o organismo. Reduzir o ritmo e aumentar o tempo de recuperação ajudam a manter o equilíbrio térmico e evitar o desgaste excessivo.
- Escolha o local e horário certos – Prefira o início da manhã ou o fim da tarde, quando o sol está mais ameno. Ao ar livre, procure áreas sombreadas e evite longos períodos sob o sol direto.
- Use roupas leves e acessórios adequados – Tecidos respiráveis facilitam a troca de calor com o ambiente. Bonés e filtros solares protegem a pele e ajudam a evitar a exposição excessiva.
- Aposte na respiração ritmada – Exercícios respiratórios com inspirações longas, feitos pelo menos três vezes ao dia, auxiliam no resfriamento do corpo e na regulação térmica.
Com esses cuidados, é possível continuar se exercitando sem comprometer a saúde, mesmo nos dias mais quentes. Afinal, movimento é essencial, mas a segurança e o bem-estar também devem ser prioridade.
Com Assessorias