Dados do último Censo do IBGE estimam que mais de 20 milhões de pessoas convivem com a diabetes mellitus diariamente, o que corresponde a mais de 10% da população, e com projeções de crescimento de novos casos para os próximos anos.
Em relação à obesidade, o quadro é semelhante. Conforme dados da pesquisa Vigitel 2023, 24,3% dos adultos no Brasil são obesos. Até 2030, esse porcentual pode chegar a 30%, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2022. Essa doença crônica afeta 31% da população brasileira, 1 e cada 3 brasileiros convive com obesidade, segundo o World Obesity Atlas 2024, e está entre as principais causas de comorbidades e morte precoce.
Felizmente, nos últimos anos, os avanços na endocrinologia trouxeram novas alternativas para o tratamento da obesidade além das abordagens tradicionais. Um dos destaques é a tirzepatida, princípio ativo do medicamento Mounjaro, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro de 2023 para o tratamento do diabetes tipo 2 e mais recentemente também para o tratamento da obesidade.
Desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, o medicamento acaba de chegar ao Brasil, marcando um novo capítulo importante para promover novos horizontes de combate ao avanço da diabetes e obesidade.
Temos mais de um bilhão de pessoas que vivem com obesidade no mundo e, no Brasil, um em cada quatro adultos têm obesidade. Essa doença crônica é um grande desafio de saúde pública – temos estudos que mostram mais de 200 complicações relacionadas. Por isso, novos tratamentos com resultados tão positivos são importantes para contribuir para a vida de quem convive com essa doença tão prevalente”, disse a fabricante em comunicado.
Tratamento da obesidade vai além de medicações
Embora muitas pessoas associem o controle do peso à simples mudança de hábitos alimentares e ao aumento da atividade física, a ciência revela que o tratamento da obesidade é muito mais complexo, envolvendo fatores hormonais, genéticos e emocionais, como explica a médica Denise Franco, especialista em endocrinologia do grupo G7med.
A questão é multifatorial; a obesidade é influenciada pela genética e hormônios como a leptina e grelina, que regulam a fome e saciedade, e a insulina, que controla os níveis de açúcar no sangue. Quando esses hormônios estão desregulados, o organismo pode dificultar o emagrecimento. Além disso, fatores como o estresse e a qualidade do sono, também têm um impacto na saúde, muitas vezes exacerbando o ganho de peso”.
Estudos clínicos mostraram que o Mounjaro pode reduzir até 26,6% do peso corporal ao longo de 84 semanas de tratamento, destacando-se como uma opção promissora no combate à obesidade. Contudo, como qualquer medicamento, seu uso deve sempre ser realizado sob orientação médica.
Embora o Mounjaro seja uma alternativa eficaz, é importante ressaltar que ele deve ser utilizado em paralelo a um plano alimentar balanceado e exercícios físicos, como parte de um tratamento completo. Ele não substitui mudanças no estilo de vida, mas atua como uma ferramenta importante para ajudar na perda de peso”, afirma a médica endocrinologista e cofundadora da health tech G7med, Denise Franco.
Sensação de saciedade é maior que a simples perda de apetite
O Mounjaro é um medicamento injetável, administrado semanalmente, aprovado pela Anvisa em setembro de 2023 para o tratamento do diabetes tipo 2. Porém, estudos recentes da própria farmacêutica demonstraram sua eficácia também no controle de peso em pacientes com obesidade, quando combinado com dieta balanceada e exercícios físicos.
O Mounjaro induz à sensação de saciedade, ou seja, o tempo entre comer e ficar satisfeito. É um efeito mais duradouro do que a perda do apetite, que é a principal característica do Ozempic”, explica Tassiane Alvarenga, endocrinologista e m etabologista pela USP.
Ela explica que o efeito da perda de apetite da semaglutida se deve à estagnação da comida no estômago, ao passo que a tirzepatida mantém a taxa metabólica e a perda de gordura independente da ingestão calórica, assemelhando-se a um efeito termogênico.
Ainda estamos entendendo o motivo, mas isso explica a maior perda de peso gerada pelo Mounjaro“, diz a médica. Dra. Tassiane lembra que a redução de peso em pessoas com diabetes ao usarem o medicamento chega próximo a 15% em sua dose máxima. “Essa taxa é o dobro do que foi visto com semaglutida na dose de 1,0mg/semana em um estudo comparativo”, ilustra
Ela explica que a medicação tem doses que variam de 5 a 15mg, em aplicação semanal. “Nas suas doses máximas, ela leva a reduções absolutas acima de 2% na hemoglobina glicada, conseguindo levar mais de 70% dos pacientes a uma taxa abaixo de 6,5%, e quase metade das pessoas para menos de 5,7%, o que seria considerada ‘normoglicemia’”, contextualiza.
Pontos de atenção aos diabéticos
A endocrinologista Tassiane Alvarenga pede atenção a pacientes em tratamento com Mounjaro combinado a um secretagogo – substância que provoca a secreção – de insulina ou à insulina. “Eles podem apresentar um risco aumentado de hipoglicemia, logo devem ser orientados a tomar precauções para evitar a hipoglicemia ao dirigir veículos e operar máquinas”, alerta.
Além desses, os pacientes com retinopatia diabética não proliferativa necessitando de tratamento agudo, retinopatia diabética proliferativa ou edema macular diabético devem utilizar o medicamento com cautela, pois o Mounjar não foi estudado nesta população, avisa a especialista.
Recomendações a pacientes interessados em migrar para o Mounjaro
1) Titular dose: são 4 semanas na dose de 2,5mg e depois deve-se fazer aumento gradual a cada 4 semanas, de acordo com a resposta individual.
Estima-se que leva 20 semanas para chegar à dose máxima, de 15mg.
As doses de 5mg devem ser suficientes para pacientes que perderem pelo menos 10% a 15% do peso.
2) Escalonar é importante. Há 6 apresentações de dose.
3) Não criar todas as expectativas em cima do medicamento.
4) Os melhores resultados virão por meio do conjunto de ações associadas ao medicamento, como cuidados com a alimentação, prática de atividades físicas e acompanhamento médico.
Como o medicamento age no organismo
A tirzepatida é um agonista duplo dos hormônios GLP-1 e GIP, que regulam o metabolismo, a produção de insulina e a sensação de saciedade, facilitando a adesão às orientações alimentares. Pesquisadora do medicamento, Denise Franco explica que o grande diferencial da tirzepatida está na sua ação dual nos receptores GLP-1 e GIP, tem demonstrado ser mais eficaz na redução de peso e no controle glicêmico as outras medicações que atuam apenas no receptor GLP-1.
A tirzepatida (molécula do Mounjaro) é um agonista duplo de GLP-1 e GIP, que já assombra a comunidade científica desde a apresentação dos seus estudos fase 2, em que foi vista uma redução espetacular da glicemia e do peso em pacientes com DM2″, celebra Tassiane Alvarenga.
Traduzindo de forma simplificada, o medicamento tem a capacidade de estimular a ação das incretinas GLP-1 e GIP (hormônios gerados no intestino e liberados depois de refeições). O efeito incretina em um organismo normal é aumentar a produção de insulina pelo pâncreas para manter o controle do açúcar que vem dos alimentos no sangue, ou seja, manter a glicemia equilibrada. A incapacidade dessa regulação deflagra a doença Diabetes.
Voltando às incretinas, ambas estão ligadas a uma maior secreção de insulina, mas estudos levam a crer que o GIP responda por cerca de dois terços dessa contribuição. E é aí que a tirzepatida (Mounjaro) supera a semaglutida (Ozempic), já que, segundo a Dra.Tassiane, “ele é muito mais GIP do que GLP-1”.
Com Assessorias