Quando o rompimento das barragens da mineradora Vale foi anunciado na TV na tarde desta sexta-feira (26), a avalanche de ódio e intolerância que domina a sociedade brasileira mais intensamente nos últimos meses deu uma trégua nas redes sociais.
Enquanto Brumadinho (MG) chora e conta seus mortos e desaparecidos no pior crime ambiental do país após Mariana (MG) – o número de vítimas pode passar de 300, estimam os bombeiros – uma onda de solidariedade se multiplica pela internet e ganha as ruas do país.
Várias instituições e empresas anunciaram a criação de postos de coleta. Pessoas físicas também se mobilizam em ações isoladas para arrecadar doações. A Defesa Civil de Minas Gerais solicita prioritariamente a doação de itens de extrema necessidade, como: água mineral, roupas, material de higiene pessoal e de limpeza além de alimentos não perecíveis.
Até a escola de samba Salgueiro entrou na campanha de doações para as vítimas de Brumadinho. “Dói o coração da gente ver tantas famílias afetadas com este acidente o qual nos faz lembrar a tragédia de Mariana. Nosso papel é convocar nossos segmentos e torcedores para uma grande corrente de união e fazermos o que pudermos para aliviar esse momento difícil”, diz o presidente André Vaz.
A partir deste sábado, uma ação coordenada pelo departamento social da escola convoca componentes, sambistas e segmentos a participar da campanha. Estão sendo recolhidos material de higiene, roupas e alimentos não perecíveis na campanha. A ação acontecerá ao longo de toda esta semana na quadra da escola.
A pedido da população, a Prefeitura de Duque de Caxias, por meio da Subsecretaria Municipal de Defesa Civil, montou um posto de arrecadação para o recebimento de doações de material não perecível e vestuário, que serão encaminhadas, através da Defesa Civil Nacional.
COMO DOAR
Nas Rodoviárias do Rio e Roberto Silveira (Niterói) as caixas de coleta estarão posicionadas nas entradas e saídas das rodoviárias e nos principais acessos das salas vips da Util e da Cometa. Também é possível doar pela conta: Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política Agência – 3494-0 Conta Corrente: 26227-7.
Em Duque de Caxias, as doações devem ser entregues na sede da Subsecretaria de Defesa Civil, à Rua Silva Fernandes, 170 – bairro Parque Duque – Primeiro Distrito – DC. Em caso de emergência a Defesa Civil de Duque de Caxias disponibiliza para à população os numeros 0800 0230 199 / 199 / 2673-2203.
No Salgueiro, o posto de arrecadação funcionará na quadra de ensaios. De segunda a sexta as doações podem ser feitas no horário comercial e durante os ensaios de quinta e sábado. O endereço é Rua Silva Teles, 104 – Andaraí.
O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) pede apoio para o envio de brigadas para a região atingida em Brumadinho. As brigadas atuarão no auxílio ao processo de resgate das vítimas, apoio psicossocial e organização de busca e distribuição de bens de primeira necessidade. Para mais informações acesse www.mabnacional.org.br ou (11) 3392-2660. A ANAB – Associação Nacional dos Atingidos por Barragens aceita doações para sua conta bancária no Banco do Brasil – Agência 2883-5 – Conta corrente 18.806-9.
NOTAS DE PESAR
Várias instituições também divulgaram notas oficiais lamentando mais este crime ambiental no Brasil, oferecendo apoio e solidariedade às vítimas e cobrando punição aos responsáveis. A Redação de ViDA & Ação recebeu algumas delas. Confira na íntegra:
ONU – O Sistema das Nações Unidas (ONU) no Brasil apresenta seu profundo pesar e solidariedade aos familiares das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais.
A ONU lamenta as incomensuráveis perdas de vidas e os significativos danos ao meio ambiente e assentamentos humanos. O Sistema ONU está à disposição para apoiar as ações das autoridades brasileiras na rápida remoção das vítimas e no estabelecimento de condições dignas aos eventuais desabrigados e à população atingida. A rigorosa apuração dos fatos que levaram a essa tragédia será acompanhada atentamente pelos brasileiros e pela comunidade mundial.
O Sistema ONU no Brasil colaborará com as autoridades e a sociedade civil brasileiras para superar os desafios impostos pelo rompimento da barragem.
WWF – Lamentamos imensamente o rompimento da Barragem I de Mina do Feijão, em Brumadinho (MG), que tirou novamente a vida de pessoas. Nossa solidariedade vai, antes de mais nada, para todos os afetados por essa tragédia.
É importante frisar que esta é de fato uma tragédia, mas não um acidente. Um desastre dessas proporções pode – e deve – ser evitado por meio de leis ambientais que garantam a segurança das comunidades e da natureza.
Toda a vida ao redor do Rio Paraopeba foi atingida – as populações que vivem ao redor da barragem, os trabalhadores da empresa que estavam no local durante o rompimento e toda a natureza ao redor do rio, um dos afluentes do São Francisco, maior bacia hidrográfica do país.
Três anos após o desastre de Mariana, vidas foram novamente perdidas porque persistimos no erro de não prevenir que tragédias como essa aconteçam. O Brasil precisa aumentar seus esforços de fiscalização. Precisamos fortalecer a estruturação dos órgãos governamentais que têm a importante tarefa de fiscalizar atividades com alto impacto social e ambiental.
Para advogado, empresa assume o risco do negócio
A Vale deve ser responsabilizada judicialmente pelas mortes e pelos danos ambientais causados pelo rompimento das barragens. “A tragédia de Brumadinho impõe o enquadramento da empresa Vale conforme art. 225 da Constituição e art. 927 do Código Civil. Importa dizer que a reparação ambiental e em razão das vítimas independente de comprovação de culpa”, disse o advogado Cássio Faeddo.
Segundo ele, a responsabilidade é objetiva. “Não se admitirá afirmar em defesa que a empresa não agiu com culpa (imprudência, negligência ou imperícia). A empresa assume o risco do negócio. Tudo sem prejuízo da aplicação das medidas administrativas e criminais. Principalmente as enumeradas na Lei de Crimes ambientais”, ressaltou.
Riscos também no Rio de Janeiro, diz ONG
Para o movimento Baía Viva, , trata-se de mais uma tragédia ambiental anunciada. Fundado nos anos 1990 no Rio de Janeiro, a ong havia protocolado em 3 de julho do ano passado uma representação junto ao Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual solicitando providências urgentes, com base nos princípios da PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO, em relação à existência de 600 barragens de rejeitos situadas em Minas Gerais, num volume estimado de 123 milhões de toneladas “depositados precariamente, representando elevado risco de novos desastres ambientais”.
Na ocasião, foi solicitado a interdição imediata do depósito de lixo químico (com mais de 20 metros de altura e 274 mil metros quadrados) que recebe 100 caminhões por dia de rejeitos industriais oriundo da poluidora Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que encontra-se localizado às margens do Rio Paraíba do Sul, em Volta Redonda, que em caso de uma Tromba D´Água que é bastante comum no inverno poderá provocar a suspensão do abastecimento de água de 12 milhões de pessoas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
O documento com 23 páginas, protocolado junto aos Ministérios Público Federal e Estadual, alertava que o número de áreas contaminadas no território fluminense pode chegar a mais de 600 sítios contaminados, o que torna extremamente vulnerável o patrimônio ambiental e a saúde pública, sendo que em muitos casos estes passivos ambientais ameaçam o abastecimento público, além do risco de contaminação das águas subterrâneas.
Da Redação, com Assessorias