Esta semana, o nascimento de quíntuplos numa maternidade pública de São Paulo chamou a atenção do Brasil e do mundo. Afinal, a gravidez de múltiplos é considerada rara, sendo mais possível quando o casal recorre à fertilização in vitro (FIV) – um em cada quatro gestações por inseminação artificial resulta em partos de mais de um bebê.

Apesar da crença popular, especialistas em Reprodução Humana Assistida garantem que as chances de gravidez gemelar após o procedimento são pequenas e vêm diminuindo cada vez mais graças à possibilidade de seleção dos melhores embriões para serem implantados no útero.

Quando o assunto é fertilização in vitro, uma das maiores preocupações, e em alguns casos desejos, de grande parte dos casais que vão se submeter ao procedimento é com relação à concepção de gêmeos, pois muitas pessoas acreditam que esse método de reprodução assistida sempre resulta em uma gestação múltipla, seja de gêmeos ou até trigêmeos.

“Apesar das chances de gêmeos serem concebidos pela fertilização in vitro serem maiores do que por meio de fertilização natural, que em apenas 1% dos casos resulta em gestação múltipla, a grande maioria das gestações após o FIV é única. No geral, apenas cerca de 25% das gestações provenientes do procedimento resultam em dois ou mais bebês”, explica Rodrigo Rosa, ginecologista obstetra,diretor clínico da clínica Mater Prime (SP).

gravidez_multipla_gemeos

De acordo com o especialista, que é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o aumento na probabilidade de gestação múltipla após a fertilização in vitro ocorre devido à quantidade de embriões que são implantados no útero da mulher, que varia de acordo com a idade da paciente.

“Quando o procedimento é realizado em mulheres de até 35 anos, por exemplo, são transferidos geralmente dois embriões. Em mulheres de 36 a 39 anos, por sua vez, podem ser transferidos até três embriões. Por fim, mulheres com mais de 40 anos podem receber até quatro embriões”, destaca o obstetra, que também é membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).

Isso significa que as chances de gêmeos serem concebidos após o procedimento tendem a ser maiores com o passar dos anos, visto que mais embriões são transferidos para o útero da mulher conforme envelhece. Mas a boa notícia é que, graças ao avanço das tecnologias e pesquisas na área de reprodução humana, é necessário que cada vez menos embriões sejam transferidos durante o procedimento de fertilização in vitro, o que reduz as chances de gestação gemelar.

“Hoje em dia já é possível que os melhores embriões sejam selecionados para implantação no útero por meio de testes genéticos. Além disso, os embriões podem ser cultivados em laboratório até estágios mais tardios, o que garante maiores chances de sobrevivência dentro do útero. Esses avanços garantem uma escolha assertiva dos embriões, o que aumenta muito as taxas de sucesso do procedimento e faz com que seja necessário que menos embriões sejam implantados no útero, diminuindo assim o risco de múltiplos bebês”, afirma o Dr Rodrigo.

O especialista ressalta que casais que desejam necessariamente conceber gêmeos não devem procurar a fertilização in vitro apenas por esse motivo, visto que não há nenhuma garantia de que o procedimento resultará em uma gestação múltipla. “Outro ponto relevante a ser comentado sobre a questão da gestação gemelar é que mulheres que fazem uso indiscriminado de indutores de ovulação, isto é, medicamentos que estimulam a produção de óvulos, possuem maiores chances de engravidarem de trigêmeos ou até mais bebês.

Logo, é importante lembrar que o uso desses medicamentos, bem como qualquer tentativa de aumento de fertilidade e reprodução assistida, deve ser acompanhado de perto por um médico especializado, que poderá tirar todas as suas dúvidas sobre o assunto, recomendar as melhores estratégias para o seu caso e garantir que todo o processo ocorra de forma segura e sem complicações”, finaliza o Dr Rodrigo.

Criopreservação de embriões reduz chance de gravidez múltipla

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 15% da população mundial têm problemas de fertilidade. No Brasil, a infertilidade atinge aproximadamente 15% a 20% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não é à toa então que a Medicina Reprodutiva vem ganhando cada vez mais popularidade entre os casais que sofrem com o problema e desejam engravidar.
A especialidade tem se aperfeiçondo cada vez mais, possibilitando a oferta de uma gama de métodos e tratamentos inovadores e benéficos à Humanidade, como a fertilização in vitro e a criopreservação, que tornam-se opção em diversos casos. Também conhecida como vitrificação, a técnica da criopreservação refere-se ao congelamento de materiais biológicos como, óvulos, tecido ovariano, espermatozoides e embriões em temperatura em torno de -196ºC, permitindo que sejam utilizados posteriormente.
Em casos da criopreservação de embriões, o procedimento é realizado quando os excedentes são de boa qualidade (após uma tentativa de fertilização in vitro). Por isso, é realizado uma avaliação para identificar aqueles com alto potencial de desenvolvimento e implantação e, até mesmo, os que podem diminuir as chances de uma gravidez múltipla.
“O procedimento é indicado para quem: deseja preservar os seus gametas, sejam masculinos ou femininos, para futuras tentativas de concepção; por conta de tratamentos que prejudicam o sistema reprodutor, como a quimioterapia ou radioterapia; ou também por causa da idade avançada; essa técnica assegura a possibilidade de fecundação segura e eficaz”, diz Luiz César Espirandelli, anestesista e diretor da Criogênesis.
Além disso, o procedimento permite o armazenamento de células que serão doadas à casais que não possuem óvulos ou espermatozoides saudáveis. De acordo com o especialista, as notórias taxas de sucesso em gestações são possíveis com estímulo hormonal suave, com efeitos colaterais mínimos ou inexistentes, aliados ao avanço das técnicas de criopreservação. “Além disso, esse método ganhou muita importância na preservação do sangue de cordão umbilical e, até mesmo, na atividade pecuária”, destaca.
O médico explica que, é necessário primeiramente realizar exames para descartar a possibilidade de qualquer doença, inclusive as que possam comprometer a fertilidade. Em seguida, é realizada uma estimulação ovariana com medicamentos, com o intuito de aumentar o número dos óvulos. “A coleta é feita, sob sedação, através de uma espécie de agulha acoplada a um aparelho de ultrassom. Eles são armazenados em nitrogênio líquido por tempo indeterminado e quando a mulher decide engravidar, a amostra é retirada”, comenta.

No caso dos gametas masculinos, primeiro é feita uma avaliação da qualidade dos espermatozoides, através de um exame de espermograma. “Após o resultado médico, o material é colhido através da estimulação. Homens que possuem ausência de espermatozoides no sêmen ejaculado devido alguma obstrução, como por exemplo, vasectomia, podem coletar através de um procedimento médico de punção testicular”, afirma.

Do sêmen captado, uma parte da amostra é separada para análise e a outra é congelada. A próxima etapa é a cristalização do sêmen, que é realizada através do vapor de nitrogênio, que promove uma diminuição contínua de temperatura, até -100°C sendo, então, o material coletado armazenado em nitrogênio líquido.

5 perguntas para fazer antes da fertilização in vitro
Muitas pessoas chegam ao consultório com uma série de dúvidas sobre o procedimento, o que pode, inclusive, causar certo receio em alguns casais. Além de esclarecer sobre as chances de uma gravidez múltipla na fertilização in vitro, Rodrigo Rosa aponta outras cinco principais questões que os pacientes de primeira viagem devem levantar durante a consulta de avaliação. Confira:

1.O que devo esperar do procedimento?

Antes de qualquer coisa, é importante que você se sente com seu médico para discutir sobre todos os aspectos que envolvem a fertilização in vitro, tirando todas as suas dúvidas, alinhando expectativas e entendendo como todo o processo funcionará.

“Geralmente, o primeiro passo da fertilização in vitro é a realização de exames para garantir a saúde do casal e investigar as causas da infertilidade, o que pode incluir ultrassons, exames de sangue, espermogramas, avaliações hormonais e testes para detectar doenças como HIV, hepatites e sífilis”, explica o médico.

“Caso o médico avalie que o casal está para se submeter ao procedimento, é necessário que a mulher passe por um processo de indução medicamentosa da ovulação para que os óvulos sejam coletados e fecundados em laboratório. Em seguida, o embrião é reposicionado no interior do útero”.

2.Quais as chances de gravidez por fertilização in vitro? 

Segundo o Dr. Rodrigo, a fertilização in vitro, no geral, possui altas taxas de sucesso, com chance de gravidez de 50 a 60%. “No entanto, o índice de sucesso do procedimento pode variar de paciente para paciente, já que depende de fatores como idade da mulher, histórico de saúde e causa da infertilidade. Logo, é importante que a paciente se informe com o médico sobre as chances de sucesso do procedimento especificamente em seu caso”, completa o médico.

3.Por quanto tempo os óvulos podem ficar congelados?

Verifique com o médico por quantos anos os óvulos que não serão usados poderão ser mantidos congelados, o que é especialmente importante para casais que desejam ter mais um de filho, visto que possuir os óvulos já congelados ajuda a economizar tempo e dinheiro. “Quando o congelamento é realizado por profissionais experientes em clínicas qualificadas, é possível manter os óvulos congelados por um longo período. Em 2020, por exemplo, um bebê nasceu de um embrião congelado por 27 anos”, destaca o médico.

“Isso é possível graças à técnica de vitrificação, na qual os embriões, após serem submetidos a um processo de desidratação, são rapidamente congelados a uma temperatura de 196°C negativos. Dessa forma, a qualidade do embrião é preservada, visto que não há formação de cristais de gelo ou danos celulares, o que faz com que sua sobrevivência ao descongelamento seja de 95%”.

4.A clínica possui um programa de doação de óvulos? 

Caso você não queira ter outro filho, é interessante verificar com a clínica se eles possuem um programa de ovodoação para os óvulos não usados. “Apesar de ser menos comentada, a ovodoação é tão importante para os procedimentos de reprodução assistida quanto a doação do sêmen, sendo um ato solidário, anônimo e sem fins lucrativos que consiste, basicamente, na doação de seu óvulo para que seja fecundado em laboratório e implantado no útero de outra mulher, o que possibilita que a paciente engravide mesmo após ter esgotado todas as possibilidades de tratamento com os próprios óvulos”, afirma o obstetra.

5.Qual o custo do procedimento?

Por ser um procedimento muito complexo, a fertilização in vitro possui um alto valor agregado. “Porém, o custo do tratamento só pode ser dado em consultório, pois uma série de fatores podem influenciá-lo, incluindo a quantidade de consultas e exames necessários, o valor cobrado pela equipe médica, os medicamentos prescritos e a coleta e o congelamento do material biológico. Por isso, a melhor maneira de saber o valor exato do procedimento no seu caso é consultando um médico, que, após uma avaliação aprofundada, poderá dizer o custo exato da fertilização in vitro”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.

Com Assessorias
Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *