Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicados em 2022, quase um bilhão de pessoas, incluindo 14% dos adolescentes em todo o mundo, vivem com algum transtorno mental, situação agravada pela pandemia da Covid-19, que expôs todas as pessoas a situações de estresse, perdas, incertezas e temores.

O aumento do número de pessoas com depressão e ansiedade, por exemplo, é real e merece nossa atenção: números do Datasus apontam que o total de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil.

Registros anteriores ao período pandêmico já indicavam episódios depressivos como a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, representando 30,67% do total, seguida de outros transtornos ansiosos com 17,9%.

A campanha brasileira Janeiro Branco – presente em países como Angola, Japão, Colômbia, Estados Unidos, Portugal e Holanda – coloca a saúde mental na pauta nacional e internacional. Veja o que pensam alguns especialistas a respeito.

Palavra de Especialista

A conscientização sobre a saúde mental já é um passo importante 

Por Kalil Duailibi*

A saúde mental vem se tornando uma preocupação genuína de grande parte da população brasileira. Se por um lado isso é ruim, porque saímos de um período de pandemia que chacoalhou o mundo inteiro, manteve muita gente em isolamento social em plena crise econômica e fez as pessoas aumentarem o uso de álcool, medicamentos e drogas ilícitas, por outro podemos considerar que, se estamos prestando atenção a isso, já demos o primeiro passo necessário para mudar esse cenário. 

Os cuidados com a saúde mental são extremamente necessários no mundo em que vivemos. Estamos, o tempo todo, expostos a um bombardeio de informações, sendo cobrados por produtividade como se fôssemos máquinas, usando mais medicamentos e outros aditivos que, mesmo que superficialmente, nos fazem pensar que ajudam. Logicamente, há casos e casos quando se fala em medicação controlada.

O que vemos hoje em dia é uma adesão indiscriminada ao uso de diversos tipos de medicamentos (muitas vezes prescritos por não especialistas) que, embora tenham sido desenvolvidos para ajudar, acabam gerando mais problemas; e mais: podem agravar casos de depressão. 

Como exemplo, vale mencionar o aumento no uso de psicoestimulantes como o Venvanse(dimesilato de lisdexanfetamina), medicamento criado para reduzir os sintomas de déficit de atenção em pessoas com TDAH que precisam, entre outras coisas, equilibrar a produção de dopamina, pois seus cérebros não a produzem da mesma forma que em pessoas sem o transtorno.

Quando uma pessoa sem essa falha na produção de dopamina usa o medicamento, causa picos de excesso desse hormônio, e quando há picos, há quedas – neste caso, quedas que podem causar depressão. Ou seja, em busca de maior produtividade, redução de apetite para emagrecer e até para aguentarem muito tempo de balada, as pessoas podem estar causando depressão química em si mesmas, inflando os números que tanto nos preocupam. 

campanha Janeiro Branco objetiva a conscientização a respeito da saúde mental. No meu papel de psiquiatra especialista em farmacologia, entendo ser necessário aproveitar essa campanha para alertar quanto ao uso de medicamentos sem a devida orientação médica.

O mundo exige muito de nós com uma sociedade cada vez mais competitiva, mas se aderirmos à ajuda química para produzirmos mais, ficarmos mais tempo acordados e termos mais disposição, sem uma necessidade médica real, a tendência é entrarmos em um ciclo do qual será bem difícil sairmos depois.

Além disso, esse ciclo cria um cenário irreal, onde as pessoas não podem simplesmente viver suas vidas, se relacionar umas com as outras, trabalhar e produzir, terem momentos de angústia, insônia, aflição, se têm como “concorrência” outras pessoas que usam dopping para viver e produzir mais, mantendo-se cada vez mais no pique.

Definitivamente, este não é um jeito saudável de encarar as dificuldades da vida e do trabalho, além de “inflacionar” o mercado.  Afinal, “se todos usam, preciso usar também se não quiser ficar para trás.” 

Não é assim, meus amigos e minhas amigas. Ainda bem que, como eu disse antes, a saúde mental ganhou a devida atenção de tantas pessoas, que perceberam que estavam entrando em um vórtice insustentável.

A conscientização a respeito dos cuidados que devemos ter com nossa saúde mental frente aos desafios do século XXI deve considerar que precisamos desacelerar, entender que é impossível estarmos por dentro de tudo o tempo todo, e que esse é um esforço infrutífero e insalubre. 

Devemos cuidar da nossa saúde mental, e isso inclui a consciência de que não somos máquinas e precisamos, sim, de descansos mentais periódicos, além de atentar para a saúde física e parar de vez em quando entre uma estação e outra, simplesmente observar a paisagem, enquanto o trem da vida passa voando.

* Psiquiatra, especialista em farmacologia e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.

Janeiro Branco: o mundo pede saúde mental!

Por Fernando Tomita*

O “Janeiro Branco” é uma campanha brasileira, criada em 2014, que busca chamar a atenção sobre a importância da saúde mental na vida das pessoas. E o primeiro mês do ano não foi escolhido à toa: trata-se de uma época propícia para se fazer reflexões.

saúde mental contempla a nossa capacidade de sentir bem-estar, habilidade em manejar de forma positiva adversidades e conflitos, o reconhecimento e respeito dos nossos limites, nossa satisfação em viver e nos relacionarmos, e o modo como equilibramos nossas emoções.

A campanha destaca a importância de medidas de prevenção e cuidado à saúde mental, particularmente dos quadros mais frequentes que são ansiedade e depressão, cada dia mais amplamente discutidas em âmbito mundial.

Do ponto de vista preventivo, alguns pontos merecem destaque, como: medidas de autoconhecimento; fortalecimento dos laços familiares e de amizade; controle do estresse; momentos de relaxamento; qualidade do sono; exercício físico; atividades prazerosas; busca e valorização do sentido; e propósito na vida.

Alguns sinais, como perda de disposição, mudanças bruscas de humor, tristeza, diminuição de prazer nas atividades, irritabilidade, dificuldade para dormir e exagero no uso de álcool, apontam a necessidade de diferenciar sentimentos relacionados ao contexto de vida e quadros que precisam ser tratados.

Como nas demais áreas da saúde, o diagnóstico precoce está associado a melhores prognósticos. Vale lembrar o que foi destacado pela Organização Mundial da Saúde há mais de uma década: não há saúde sem saúde mental.

Que tal avaliar como você está? Como está a sua saúde mental?

* Coordenador do serviço de interconsulta de psiquiatria do Vera Cruz Hospital

A importância do Janeiro Branco para a saúde mental

Por Greice Carvalho*

Da mesma forma que vamos ao médico quando temos alguma lesão física, é de extrema importância pensarmos nas questões emocionais, relacionadas a saúde mental, buscando um profissional da área para que questões ligadas às fragilidades emocionais sejam tratadas. 

Não podemos esquecer que o momento de pandemia que estamos vivenciando, acaba por agravar ou manifestar as dificuldades que encontramos, apesentando mais sintomas relacionados à saúde mental

Buscar por estratégias e acessar os recursos que dispomos é fundamental quando falamos sobre o assunto. É importante saber que qualquer pessoa pode passar por momentos da vida que apresentem vulnerabilidade emocional, como sintomas depressivos. Isso não indica que a pessoa passa a ser a depressão, de forma personificada, e sim que é preciso dar atenção aos sintomas manifestados, levando em consideração o que se sente e pensa. 

Não podemos esquecer que alguns sintomas psicológicos podem se manifestar de forma física, com dores, alterações de sono, apetite, nível de energia, concentração, entre outros. É muito importante descartar com um médico as questões físicas e tratar o mental.  

Parece consenso e bastante habitual dizer que todos precisam cuidar da saúde mental. Ouvimos isso em propagandas, por parte dos amigos, da família, no trabalho e redes sociais. Mas será que isso, de fato, é respeitado?  

Ao mesmo tempo que falamos em cuidar da saúde mental, trazemos à tona a estigmatização em função de doença mental, uso de medicação, processos psicoterápicos, ou seja, o sofrimento mental e as possibilidades de tratamentos que existem, além da psicofobia, preconceito contra portadores de transtornos mentais.   

Pode-se pensar em muitas estratégias de trabalho para promoção de saúde mental, sendo uma delas o apoio. Ter escuta empática e ativa, em que o outro possa falar sobre seu sofrimento, não minimizar a dor alheira e incentivar a busca de profissionais são outras possibilidades. 

Não deixe que os estereótipos criados em relação a saúde mental atrapalhem processos de melhora, bem-estar e qualidade de vida.  

  • Coordenadora NAAP – Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico da Estácio

Com Assessorias

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