Saudade não tem idade. Neste domingo frio do fim de outono no Rio de Janeiro, as pequenas Ana Laura, de 8 anos, e Ana Raquel, de 6, ajudaram seus pais a plantarem uma muda de pau-brasil em homenagem ao avô Sydney Carlos Borges, vítima da Covid-19 em maio de 2020. A família foi uma das 43 que participaram da inauguração do Bosque da Memória do Rio, neste fim de semana. No final da cerimônia, as meninas entregaram um lindo desenho produzido por elas, com muitas estrelas, corações e uma declaração de amor: “Te amamos, vô!”.
Ao som de violinos e violoncelos, as famílias plantaram árvores para homenagear vítimas da Covid-19 e profissionais de saúde da ‘linha de frente’. O ato simbólico, encerrando a Semana Mundial do Meio Ambiente, marcou a inauguração do primeiro Bosque da Memória do Rio, em uma área de 600 m² na Alameda Sandra Alvim, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Enquanto acompanhavam a apresentação do grupo sinfônico A Quarta Corda, formado por jovens do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, a família de Ariela Vianna da Silva, de 26 anos, também enterrou as cinzas do corpo da jovem junto à muda de ipê amarelo. Ariela era estudante de Design de Moda e faleceu em outubro de 2020, vítima da Covid.
Mudas ganham nomes de homenageados
Cada família escolheu uma espécie para plantar e as árvores foram identificadas com o nome da pessoa falecida, representando as mais de 25 mil vidas perdidas no Rio e os mais de 45 mil profissionais de saúde da cidade. As cerimônias aconteceram neste sábado (12) e no domingo (13), com celebrações ecumênicas e a presença do projeto sinfônico A Quarta Corda, formada por crianças de comunidades.
Mudas de ipê amarelo, guriri, pau-brasil, pitanga, grumixama, graviola, caju, acerola, aroeira e amora foram doadas por familiares e amigos das vítimas, respeitando o bioma local, a vegetação nativa de restinga. Cada família escolheu uma espécie para plantar e as árvores foram identificadas com o nome da pessoa falecida, representando as mais de 25 mil vidas perdidas no Rio e os mais de 45 mil profissionais de saúde da cidade.
Mariana de Abreu Machado, psicóloga do Instituto Nacional do Câncer (Inca), falou em nome dos profissionais de saúde:
A Covid afastou as famílias do ambiente hospitalar e os pacientes foram colocados em nossas mãos para curar, cuidar e aliviar o sofrimento de todos. Estamos aqui para homenagear e agradecer aos profissionais que também foram vítimas da doença e a todos aqueles que continuam trabalhando e cuidando de uma maneira humanizada de todas as pessoas que chegam para a assistência.
A ação foi promovida pelo grupo Patativas, adotante da Alameda, e teve apoio da Fundação Parques e Jardins que preparou os berços, forneceu equipamentos, terra adubada e as mudas. “A árvore é um símbolo de vida, de renascimento. Que o Bosque da Memória represente a continuidade dos laços, do vínculo e do amor. Isso, a morte não leva”, observou a organizadora do evento e adotante da área, a arquiteta Isabelle de Loys.
Bosques da Memória
O Bosque da Memória do Rio de Janeiro é um projeto apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em homenagem às vítimas da Covid-19 e aos profissionais de saúde. A inauguração foi realizada em dois dias diferentes para evitar aglomerações. As cerimônias tiveram as participações de representantes da FPJ e do grupo Patativas e do filósofo e capelão do Inca, Bruno Oliveira.
A campanha “Bosques da Memória” foi criada em 2020 com o objetivo de plantar árvores e recuperar florestas, como um gesto simbólico de homenagear pessoas que morreram na pandemia e agradecer aos profissionais de saúde no Brasil.
As entidades Rede de ONG´s da Mata Atlântica (RMA), Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e Pacto pela Restauração da Mata Atlântica se uniram e idealizaram um projeto de alento e solidariedade às famílias enlutadas.
Os plantios são apoiados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em alinhamento com as ações da Década da ONU da Restauração de Ecossistemas 2021-2030.
É um esforço da ONU, com aprovação dos países-membros, para criar um movimento global de recuperação, reverter a perda de espécies e ajudar no cumprimento de metas de redução de emissões de carbono.
Fonte: FPJ, com Redação (atualizado em 13/6/21, às 19h30)