Segundo o Relatório Anual de Tendências Globais do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, no final de abril de 2025 havia 122,1 milhões de pessoas deslocadas à força, em comparação com os 120 milhões registrados no mesmo período do ano anterior, o que representa cerca de dez anos consecutivos de aumento anual no número de refugiados e outras pessoas forçadas a fugir de suas casas.

Publicado no último dia 12, o relatório global revelou que, ao contrário da percepção generalizada nas regiões mais ricas, 67% das pessoas refugiadas permanecem em países vizinhos, e que países de baixa e média renda acolhem 73% dos refugiados do mundo. 

O Brasil é destaque internacional no acolhimento de pessoas refugiadas. Em 2023, quando o mundo atingiu a marca de 114 milhões de pessoas deslocadas à força, o país atingiu também o total de 710 mil refugiados acolhidos vindos de países afetados por crises como Venezuela, Haiti, Síria, Ucrânia e Afeganistão.

O Estado do Rio de Janeiro tem mapeado atualmente em torno de 20 mil migrantes e refugiados, um número subnotificado, pelas barreiras que este público encontra, seja para conseguir acessar serviços, trabalhar ou até mesmo socializar.

Uma das formas de recebimento de migrantes/refugiados é por meio da Operação Acolhida, responsável pela interiorização de venezuelanos de Roraima para outros Estados.  O Rio de Janeiro é o 11º a mais interiorizar.

Quanto ao município de maior concentração de migrantes/refugiados no estado, destaca-se a maior densidade na capital, onde foram mapeados mais de 18 mil dos migrantes/refugiados do Estado.

Brasil na liderança do acolhimento de refugiados

Participantes do Rio Refugia, festival multicultural que celebra o Dia Mundial do Refugiado
(Foto: PARES Cáritas RJ/Luciana Queiroz)

No dia 20 de junho, data em que é celebrado o Dia Mundial do Refugiado. Para o representante do ACNUR no Brasil, Davide Torzilli, o Brasil tem se colocado como uma liderança regional nos processos de acolhimento, proteção e integração das pessoas refugiadas.

Exemplos disso são a realização da Conferência Nacional de Migrações, Refúgio e Apátridas (Comigrar) que vai gerar a nova política nacional para essas populações; a Estratégia de Interiorização da Operação Acolhida, que já facilitou a integração de cerca de 150 mil pessoas venezuelanas; e o Programa Brasileiro de Reassentamento e Patrocínio Comunitário para Afegãos, que assegura o compromisso brasileiro em acolher refugiados em contextos de emergência humanitária”, afirma.

Os avanços do Brasil confirmam análises sobre as diversas contribuições que pessoas refugiadas agregam às comunidades de acolhida. De fato, estudos recentes de instituições financeiras internacionais destacam as contribuições sociais e econômicas positivas das pessoas refugiadas e deslocadas em seus países de acolhida na América Latina e no Caribe, entre elas: o impulso ao crescimento do PIB, a criação de empresas formais, a contribuição para a arrecadação fiscal e o fortalecimento dos sistemas de seguridade social.

Em toda a nossa região, pessoas refugiadas estão abrindo negócios, ingressando no mercado de trabalho e revitalizando economias locais. Mas só poderão continuar fazendo isso se investirmos em sua proteção, estabilização e inclusão”, afirmou Samaniego. “Acolher e integrar essa população não é apenas um imperativo humanitário, mas também uma importante oportunidade socioeconômica.”

Conheça algumas histórias de refugiados no Brasil

A venezuelana Rosemari Joana Tavares, de 21 anos, veio para o Brasil com a família para estudar aos 9 anos. “Foi um grande baque quando cheguei aqui, tanto cultural quanto social. E a principal barreira foi o idioma. Além disso, tive dificuldade para ter uma documentação em outro idioma e não conseguia traduzir meus documentos”.

Hoje ela trabalha como autônoma, igual a seus pais. “Sou filha de venezuelano com colombiana, então misturamos um pouco dessas culturas com a do Brasil. Meu objetivo desde que eu cheguei aqui é me formar e criar uma estrutura para viver no país, pois eu gosto muito do Brasil”, disse Rosemari.

A colombiana Margarida Campos, de 42 anos, veio para o estado do Rio em busca de trabalho, e enfrentou dificuldades para se inserir no mercado. “No início ninguém queria me dar oportunidade por não falar a língua e também por não ter alguns documentos, e os que tinha eram em espanhol, o que dificultou conseguir trabalho. De forma autônoma eu consegui me estabilizar, trouxe a culinária colombiana para o Brasil e deu muito certo. Estou aqui até hoje e pretendo ficar”.

Combate à xenofobia no Estado do Rio

A Subsecretaria estadual de Direitos Humanos, por meio da Coordenação de Políticas de Migração e Refúgio, atua para dar suporte à população migrante e refugiada residente no Rio, desenvolvendo atividades de combate à xenofobia. Um trabalho feito para incluir e dar suporte para essas pessoas.

Hoje fazemos parte da presidência do Comitê Estadual Intersetorial de Atenção a Refugiados e Migrantes (CEIPARM), que é uma rede em que o poder público dialoga com a sociedade civil para formular e implementar a política pública migratória”,  ressaltou Eliane Almeida, coordenadora de Políticas de Migração e Refúgio do Estado.

Em 2024 a pasta organizou a I Conferência Estadual sobre Migrações, Refúgio e Apatridia (COMIGRAR), alinhamos um fluxo de atendimento para os casos de demanda por documentação.

O trabalho com imigrantes e refugiados se difere por atuarmos com uma perspectiva interseccional, dando especial atenção para os recortes de gênero, étnico/racial, LGBT+ e etário. Acompanhamos diversas necessidades, em diferentes áreas, como educação, saúde, documentação, assistência social, lazer, dentre outros.

O Rio de Janeiro sedia o Rio Refugia, festival multicultural que celebra o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho). O Rio Refugia é organizado pelo PARES Cáritas RJ, Sesc RJ, Abraço Cultural RJ e Feira Chega Junto, com apoio da ACNUR.

Refugiados em São Paulo compartilham suas histórias

Acolhidos pela ONG Planeta de TODOS em sua primeira casa-abrigo inaugurada no Brasil, em março de 2024, na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, os refugiados afegãos da comunidade étnica hazara serão uns dos protagonistas do evento. Em um espaço dedicado ao aprendizado sobre o cenário migratório vivido pelos imigrantes, eles compartilharão como tem sido o processo de integração social e cultural em uma terra tão distante de sua própria cultura.

Legenda: Mohammed Yahya, 20, afegão. Créditos: André Naddeo / Planeta de TODOS

Mohammed Yahya é um dos afegãos acolhidos pela ONG em Ribeirão Preto. O jovem de 20 anos está há um ano sem ver os pais, quando fugiu para o Irã para que, depois, pudesse recorrer ao Brasil. “Sinto a falta deles, mas supero isso por um desejo maior: sobreviver. Quero aprender português, começar a trabalhar e trazê-los para cá, dar uma vida melhor para eles”, afirma Yahya.

No Afeganistão, os hazara são perseguidos pelo Talibã, grupo radical que voltou ao poder e não os reconhece como afegãos — mesmo eles estando no território há séculos — e promove uma série de ataques e atentados com vias de genocídio e limpeza étnica. Compondo 30% da população afegã, eles travam uma luta antiga para conseguir os mesmos direitos políticos e sociais que as demais etnias já usufruem no Afeganistão, pois o fato de seguirem a vertente xiita do Islã faz com que sejam vistos como “casta inferior” dentro do próprio país.

Legenda: Amin Khairul, 28, apátrida. Créditos: André Naddeo / Planeta de TODOS

Uma história de superação

Amin Khairul, 28, é refugiado apátrida do Myanmar, da etnia rohingya, minoria étnica muçulmana não reconhecida pelo governo local, budista, e está entre os protagonistas do evento. Quando ainda criança, aos 11 anos, Amin foi o único sobrevivente de sua vila após o massacre em Myanmar, episódio que o obrigou a seguir os passos de seu povo e buscar refúgio no país vizinho, Bangladesh. Foi na Grécia, em 2018, que Khairul conheceu a ONG Planeta de TODOS, quando vivia em Atenas, sem moradia fixa, e foi selecionado para integrar o projeto. Após 17 anos,  Amin é membro de uma organização grega de apoio a menores refugiados.

“Há quase duas décadas, a perseguição contra a etnia rohingya gerou um impacto irreversível em minha vida. Sem a minha família, ainda criança, me tornei um refugiado e, hoje, me dedico a acolher crianças e adolescentes que estão passando pela mesma violência, na esperança de um futuro melhor, com segurança e oportunidades”, destaca Amin.

Com Assessorias

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