“Quem quiser que fique magro. Muito magro”, comenta Vanessa Sap, autora do livro ‘Temporada 1’. Os textos decorrem de uma das utopias preferidas: seu projeto de aposentadoria. ‘’Quero poder ser gorda. Muito gorda”, diverte-se. A obra deriva de um ativismo por uma sociedade mais tolerante e sem a pressão sobre o peso alheio. Nesse nicho, Vanessa Sap pega pesado no tabu.

A publicação esmiúça o tema numa perspectiva inédita, intercalando-se risos, frutos do humor mordaz à reflexão sobre o impacto da silhueta no dia a dia. Para Vanessa, as cobranças por aparência ainda são muito mais corrosivas para mulheres, por exemplo.

A ficção Temporada 1 é retratada no Centro de Emagrecimento Ingatori durante a semifinal da Copa de 2014. Enquanto os frequentadores testemunham o fiasco histórico do 7 x 1, flashbacks narram suas trajetórias individuais: embora tenham naturezas distintas, todos têm alguma identificação causados pelos quilos a mais e suas dificuldades.

A obra aborda desde antigos preconceitos, como o racismo e o machismo, e esbarra em discussões bastante atuais, como as dependências (comida sendo apenas um deles) e a predileção por magros. Vanessa Sap arremessa uma pedra no espelho em que a sociedade se enxerga: “gordofobia” e “classemediofobia” são apenas alguns dos cacos.

‘Ninguém é obeso porque quer’, diz médico

Médico e autor do livro ‘Histórias de Peso – A obesidade como ela é’, Felipe Koleski reafirma o que muitos de nós já sabemos: ninguém é obeso porque quer.

“A genética, o estresse, a ansiedade, a cultura familiar e até baques emocionais e medicamentos desencadeiam o ganho de peso. E às vezes tudo junto, pois a obesidade é multifatorial”, aponta.

Seis a cada 10 adultos no Brasil estão acima do peso. Cerca de 96 milhões de brasileiros têm sobrepeso ou obesidade, mostra a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE.

“O problema é que ainda lançamos um olhar de advogado de acusação para as pessoas portadoras de obesidade, atribuindo equivocadamente ao desleixo algo que não depende só de força de vontade”, ressalta o médico.

Mas por que fazemos isso? A resposta, segundo ele, está na desinformação geral, mas também é uma questão de atitude individual.

Gordofobia: 3 verbos para saber se ela está presente na sua vida

Felipe Koleski selecionou três verbos para você identificar se a gordofobia, o preconceito contra quem tem obesidade, está presente na sua vida. “Se você conjuga ou é alvo desses verbos – como já fui, antes de tratar a minha própria obesidade – repense as suas atitudes ou reveja o ambiente onde você anda. Respeito acima de tudo”, destaca.

1.    Simplificar

Como vimos, a obesidade não é uma escolha. É uma doença crônica, incurável, com múltiplas causas e recidivante, ou seja, mesmo tratada ela volta a se manifestar de modo recorrente. Outra informação que você precisa saber é que a obesidade desencadeia doenças como câncer, diabetes, hipertensão, gordura no fígado e outras. Por isso, encarar a obesidade apenas como escolha ou desleixo com o próprio corpo é revelar desconhecimento. Não existem soluções simples para questões complexas – e a obesidade, decididamente, não é algo simples.

2.    Rotular

Usar a característica física para adjetivar uma pessoa portadora de obesidade é um rótulo inadequado. Ninguém se refere a alguém com uma doença crônica como “Fulano é aquele hipertenso ali”. Por que então se referir ao portador de obesidade como “aquele gordo” ou “aquela gordinha”? Outro comentário a vigiar: “Fulana emagreceu e ficou bonita”. Vamos desmistificar a ideia de que a beleza só existe no padrão longilíneo, uma estética hegemônica só na propaganda. Uma pessoa bonita não precisa ser necessariamente magra. Cada ser humano é único, e a verdadeira beleza está em ver a individualidade como ela realmente é.

3.    Julgar

Já reparou como todo mundo se acha no direito de dar palpite sobre o corpo da pessoa portadora de obesidade? É dica sobre o que vestir ou não vestir para parecer mais magra, é comentário sobre o que pode ou não pode usar em lugares como praia ou piscina, é patrulha na academia ou na hora de praticar exercício no parque… Vamos deixar pra lá o julgamento e permitir que a própria pessoa decida o que é melhor para ela?

Mais sobre o livro ‘Temporada 1’

“Os nomes dos personagens de ‘Temporada 1’ – que são mais de 50 – homenageiam artistas plásticos contemporâneos brasileiros, que de alguma maneira me serviram de inspiração”, comenta Vanessa, ao revelar que Michel Houellebecq, Luis Fernando Verissimo, Monty Python, Woody Allen, Lucille Ball e Bansky são apenas algumas das influências.

O cenário musical se faz especialmente presente, afinal a arte expressa-se de inúmeras formas. Cada capítulo conta uma história e a respectiva “música- título” fornece o clima daquele relato. A playlist, cujo código do Spotify está nas primeiras páginas, é diverso e cosmopolita, assim como os indivíduos representados: Rimsky-Korsakov, Metallica, Noel Rosa, Infected Mushroom, Mercedes Sosa, Edith Piaf, Sidney Magal, entre muitos outros.

Este formato, em que cada fragmento tem um enredo supostamente autônomo, pode remeter à serie americana Lost. Entretanto, ao invés de o mistério se iniciar com a queda do avião, o suspense que une todas as tramas no livro surge só no final.

‘’A autora transita no cerne dos conflitos humanos e seus desdobramentos recheados com um humor sagaz e delicioso!! Além de escrever e descrever com primazia artística, a trilha sonora proporciona uma experiência inédita com boas risadas e reflexões! Adorei!’’, comenta Aline.

Já Ernesto diz: ‘’o livro zoa geral. Rico e pobre, magro e gordo, machista e feminista, inteligentes e burros. A mina é ardida!’’. Os comentários dos leitores estão na página da Amazon.

SERVIÇO:

Livro: ‘Temporada 1’

Autora: Vanessa Sap (@vanessa_sap_oficial)

‎Editora: Labrador

Número de páginas: ‎ 132 páginas

Como comprar? Na Amazon

Para ouvir a playlist do livro

Com Assessorias

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