Quem nunca escorregou no banheiro, tropeçou no tapete ou quase caiu ao descer uma escada? Situações comuns do cotidiano que, com o passar dos anos, podem se tornar armadilhas perigosas. Para os idosos, uma simples queda pode representar o início de uma série de complicações, que vão de fraturas complexas a internações, perda da autonomia e até óbito.
O assunto merece atenção. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, cerca de um milhão de idosos no mundo fraturam o fêmur, sendo 600 mil somente no Brasil. E 90% destes casos são causados por quedas. Dados alarmantes do Ministério da Saúde reforçam a urgência de ações preventivas para reduzir internações, mortes e promover mais segurança no envelhecimento,
Segundo os últimos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), sete em cada dez mortes acidentais de pessoas acima de 75 anos são causadas por quedas. Para aqueles com mais de 80 anos, a prevalência é ainda maior, e a mortalidade relacionada às quedas chega a ser seis vezes maior. Cerca de 70% desses acidentes acontecem dentro de casa, principalmente entre pessoas com mais de 65 anos.
Entre 2023 e 2024, o Brasil registrou 11.801 mortes de pessoas idosas em decorrência de acidentes domésticos, com as quedas figurando como a principal causa. O Ministério lembra que as informações referentes a 2024 são preliminares e sujeitas a alterações. O número, portanto, pode ser ainda maior.
Com a população envelhecendo cada vez mais e as consequências dessa problemática, o Dia Mundial de Prevenção de Quedas, em 24 de junho, conscientizar a população sobre a importância de medidas preventivas para evitar quedas, que podem ter consequências graves. A data foi instituída pela OMS e incluída no calendário anual do Ministério da Saúde, com objetivo de alertar sobre riscos de quedas, , especialmente para pessoas idosas.
Idosos são maioria entre vítimas de quedas atendidas no Into
A estimativa entre os idosos com 80 anos ou mais, é que 40% sofram quedas todos os anos, segundo o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Dados recentes do instituto reforçam o alerta: de janeiro a maio deste ano, quase metade dos pacientes transferidos de outras unidades de saúde do município e do estado do Rio de Janeiro para o Into foram vítimas de quedas.
São pessoas que, em geral, já possuem algum tipo de comorbidade e, durante a internação, têm maior risco de agravar quadros respiratórios, cardiovasculares e outras condições clínicas”, explica o chefe do Centro de Quadril do Into, Lourenço Peixoto.
A maior parte dos casos está relacionada a quedas da própria altura, principalmente entre idosos, que representam 53% das ocorrências. Muitos desses acidentes ocorrem dentro de casa. Pisos escorregadios, tapetes soltos, objetos deixados no chão e até mesmo animais de estimação podem provocar tombos. Na rua, os idosos enfrentam outros desafios, como buracos, desníveis e locais com iluminação inadequada.
Alerta para fraturas no quadril que exigem cirurgias e longo tempo de recuperação
Apesar de serem comuns, as quedas exigem atenção. Segundo Peixoto, os idosos têm maior chance de desenvolver fraturas graves do que indivíduos jovens. “A queda é considerada um trauma de baixa energia, mas pode provocar consequências sérias, com necessidade de cirurgia e, em alguns casos, pode até levar à morte”, alerta o médico.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (SBTO), Robinson Esteves, as quedas em idosos representam um dos maiores desafios para a saúde pública atualmente, devido às suas graves consequências para a qualidade de vida dessa população.
Além do risco elevado de fraturas, especialmente de quadril, que podem levar à perda da autonomia e até a mortalidade precoce, as quedas impactam diretamente na capacidade funcional, gerando limitações físicas, dependência e isolamento social”, ressalta.
Grande parte dos pacientes idosos no Into sofreu fratura de fêmur, uma das lesões mais graves associadas às quedas em pessoas acima dos 60 anos. Esse tipo de fratura costuma exigir cirurgia e, se não tratada precocemente, tem prognóstico ruim. Além do fêmur, são frequentes também as fraturas da bacia, do ombro, do úmero proximal e do punho. O tempo de recuperação dessas lesões pode ser longo entre os mais velhos.
A fratura no quadril é uma condição extremamente séria em idosos, pois além da lesão óssea, pode levar a complicações graves como infecções, trombose e pneumonia, elevando significativamente o risco de mortalidade, que pode chegar a 20% a 30% no primeiro ano após o acidente”, ressalta Esteves.
Sarcopenia é uma das principais causas das quedas
Entre os fatores que contribuem para o aumento das quedas nessa faixa etária, destaca-se a perda de massa muscular, conhecida como sarcopenia. “O nível de fragilidade do idoso aumenta porque a sarcopenia compromete diretamente a força e o equilíbrio”, ressalta o especialista do Into. Outros fatores de risco, como problemas de visão e labirintite, comuns no envelhecimento, também favorecem as quedas.
Peixoto destaca que a prevenção é essencial para reduzir os riscos. Medidas simples, como o uso de tapetes antiderrapantes, a instalação de barras de apoio nos banheiros, a prática de atividades físicas para fortalecimento muscular e o acompanhamento regular com oftalmologista podem ajudar a evitar acidentes.
O que fazer quando um idoso sofrer uma queda?
Ao presenciar uma queda, o primeiro passo é manter a calma e verificar se o idoso está consciente. Se estiver, pergunte se sente dor em alguma parte do corpo. Observe se há dificuldade de locomoção ou dor intensa em regiões específicas, sinais que podem indicar fratura. Nesse caso, não o movimente, mantenha-o deitado em uma posição confortável e acione o socorro médico.
Se a queda parecer leve, ajude o idoso a se sentar e fique ao lado dele até que se recupere do susto. No dia seguinte, observe se surgiram hematomas ou dores persistentes. Caso os sintomas permaneçam ou piorem, leve-o imediatamente ao hospital.
Mesmo quando a queda parece simples, os riscos de complicações são altos, principalmente entre os mais velhos. Por isso, todo cuidado é pouco, tanto na prevenção quanto no atendimento imediato”, fala Esteves.
Como prevenir quedas de idosos em casa
Algumas medidas simples podem fazer toda a diferença na prevenção de quedas dentro de casa, como usar calçados confortáveis e antiderrapantes e nunca andar apenas de meias. Se utilizar bengala, é importante verificar se a borracha da ponta está gasta e, se necessário, fazer a troca.
Na questão estrutural, remova fios soltos que cruzam os cômodos e, se possível, troque o piso do banheiro por um modelo antiderrapante. Evite prateleiras de vidro e mantenha a casa sempre bem iluminada, principalmente o caminho até o banheiro durante a noite. Instalar lâmpadas sensoriais pode ajudar a evitar a necessidade de procurar o interruptor no escuro”, recomenda o médico.
Também é importante adaptar os ambientes com suportes, corrimãos e outros acessórios de segurança no banheiro, sala, corredores e quarto. “E, por fim, a prática regular de atividades físicas deve ser incentivada, pois ajuda a manter a força, o equilíbrio e a mobilidade, fatores essenciais para evitar quedas e preservar a autonomia na terceira idade”, conclui o especialista.
Mais dados sobre quedas de idosos no Brasil
- Segundo o Ministério, os tipos mais comuns incluem quedas no mesmo nível (4.813 óbitos), escorregões ou tropeços (2.537) e quedas sem especificação (902).
- Entre 2023 e março de 2025, foram contabilizados 328.355 registros de pessoas com 65 anos ou mais internadas por causas relacionadas a quedas.
- Cerca de 70% desses acidentes acontecem dentro de casa, principalmente entre idosos com mais de 65 anos.
- A faixa etária mais afetada foi de pessoas acima de 80 anos, com mais de 6,7 mil óbitos no período.
- Em 2024 o país registrou 215.713 atendimentos a pacientes com 60 anos ou mais devido a quedas, sendo 93.518 atendimentos ambulatoriais e 122.195 internações hospitalares nos primeiros oito meses do ano.
- As quedas são a terceira causa de morte entre as pessoas com mais de 65 anos, e, entre 2013 e 2022, foram responsáveis pela morte de 70.516 idosos no Brasil.
- Somente em 2023, 4.816 idosos morreram em decorrência de quedas da própria altura.
- Para se ter ideia, a última edição do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), revelou que a prevalência de quedas na população idosa residente em áreas urbanas foi de 25%.
No site do INTO, está disponível uma cartilha educativa com orientações sobre prevenção de quedas, que pode ser acessada em: https://bit.ly/4eenKeF
Com Assessorias