Morando desde 2001 na Flórida (EUA), a empresária brasileira Cátia Dombrowski, de 41 anos, estava de férias no Rio de Janeiro quando começou a pandemia do novo coronavírus. Decidiu que era preciso fazer alguma coisa para ajudar as pessoas a se proteger.  Gravou um vídeo fazendo um teste com máscaras e publicou em suas redes sociais.
O objetivo inicial era divulgar a importância do uso do acessório para prevenir a infecção e promover a fabricação de máscaras caseiras. Mas o vídeo chamou tanta atenção que Cátia resolveu botar a mão na massa, mesmo sem saber costurar. Colocou a máquina de costura da irmã para funcionar, pesquisou sobre o assunto e passou a produzir máscaras caseiras, inspiradas na N-95, o modelo usado por profissionais de saúde.

Não tenho habilidades com costura. Mas aprendi que quando a gente quer algo, consegue. E eu tinha muita gente pra proteger. Tenho um irmão médico, uma cunhada enfermeira e também bombeiros na família”, conta Cátia, que é dona de uma empresa de perícia junto com o marido em Miami Beach. “Temos a cultura de projetos como este por lá”, completa.

Desde abril, Cátia está à frente do MáscaraVida, um projeto sem fins lucrativos que tem o objetivo de educar, disponibilizar e doar máscaras de qualidade para atender quem está na “linha de frente” do novo coronavírus, como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, policiais militares, guardas municipais e jornalistas no Rio de Janeiro e outras cidades.

Inspiração na super-resistente N95

Quando a pandemia começou, restrições impostas por governos que estavam acostumados a lidar com doenças respiratórias me chamaram a atenção. Uma delas era o uso obrigatório de máscaras. A partir daí, comecei a buscar publicações científicas que comprovassem a eficácia das máscaras e os melhores materiais para sua fabricação”, conta ela.
O primeiro vídeo que ela gravou foi um teste com as máscaras. Com a divulgação, muitas pessoas entraram em contato perguntando onde poderiam encontrar máscaras de qualidade. Cátia então procurou pesquisas científicas sobre a N95 e passou a desenvolver a MáscaraVida.  “Busco a proteção de quem usa. Não só de quem está perto. Submeti as máscaras aos testes caseiros e se saíram excelentes. E os pedidos começaram a aumentar”, conta ela.

Projeto auto-sustentável

A empresária garante que a intenção nunca foi de vender máscaras. Mas  viu que seria a oportunidade de construir um projeto auto sustentável, dar trabalho e renda para costureiras, cortadores, entregadores… E assim foi em busca de pessoas que estavam desempregadas e que poderiam ajudar.
Conheci a Cristina, uma costureira que mora em uma comunidade de Bangu e ela me apresentou a mais 5 costureiras que também precisavam de trabalho. O Luís, cortador, teve uma malharia e era conhecido pelo excelente corte. Fui até ele.  E aí fomos montando uma rede”, destaca.
Até o dia 8 de maio já haviam sido doadas máscaras para profissionais de Assistência Social dos municípios do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias, Grupamento Marítimo e Hospital de Saquarema, além das doações avulsas de profissionais nas ruas do Rio, como policiais, entregadores, motoristas de Uber, entre outros.
Como as máscaras são mais pesadas, estilo N95, requerem um pouco de costume para usá-las. Por isso, as doações são feitas especificamente para profissionais. Foi assim que aprendemos que as áreas e os profissionais estão em risco por falta de equipamento adequado. Isso nos chamou a atenção para a qualidade das máscaras do pessoal da assistência social e nos  impulsionou a entrar em contato para doar máscaras paras as equipes do Rio e Duque de Caxias.
Atualmente, a iniciativa liderada por Cátia tem capacidade de produção e muitos pedidos de ajuda, mas ainda não tem vendas suficientes para suprir a demanda. “Ao mesmo tempo, com toda a pesquisa que fiz, observo máscaras inapropriadas em uso por profissionais essenciais na luta contra a Covid-19”, lamenta.

Para encomendar

O esquema para encomendas das máscaras é simples. Basta entrar em contato pelo WhatsApp, Instagram ou Facebook @mascaravida. Cátia envia as estampas disponíveis, explica um pouco sobre o projeto, valores etc e passa as contas para fazer depósito e quando será a próxima entrega.

Com o depósito confirmado, ela manda entregar na portaria assim que a máscara fica disponível. Hoje são feitas entregas em bairros da Zona Sul, Tijuca, Grajaú, Andaraí, Maracanã, Centro – “São os bairros que estão no caminho do cortador e das costureiras”.

Para profissionais das áreas de saúde, assistência social, segurança pública, e jornalismo, as máscaras saem praticamente a preço de custo: R$ 10,00. Até dia 8 de maio foram 378 doações e 376 pedidos, sendo 123 a preço de custo  (R$ 10/cada) e 253 pelo ‘preço generosidade’ (R$ 20/cada). Ao todo foram arrecadados R$ 8.746.02 e gastos R$ 16.345.90 no período.
Já doamos mais que ‘vendemos’. Eu não recebo nada. Mas as pessoas que fazem parte do projeto recebem. E é uma alegria enorme receber os áudios delas agradecendo. Com este trabalho eu vejo tanto amor que me sinto realizada. E me dói não poder proteger todos que estão nas ruas por amor ao próximo”, conta ela.
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