Em meio à alta galopante de casos de Covid-19 no Brasil e às inúmeras críticas a seu trabalho à frente do Ministério da Saúde, até mesmo por parte da ala militar, o general Eduardo Pazuello deixará o cargo nos próximos dias, alegando problemas de saúde e necessidade de mais tempo para se reabilitar, segundo O Globo publicou neste domingo (14/3).
Deputados do Centrão vinham pressionando o Governo para uma mudança no comando da pasta por avaliarem negativamente a gestão de Pazuello na crise sanitária. O chamado “efeito Lula” teria sido o fator fundamental para o presidente Jair Bolsonaro decidir pela demissão do ministro e promovesse ações mais duras no combate à pandemia.
No dia seguinte à longa entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comentar sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o torna novamente elegível, Bolsonaro apareceu em um pronunciamento usando máscara e com declarações em defesa da vacina.
Se for confirmada a demissão, essa será a terceira troca no Ministério da Saúde em menos de dois anos. Os outros dois demitidos foram o ex-deputado Luiz Henrique Mandetta – especialista em Ortopedia Pediátrica – e o oncologista Nelson Teich – que durou apenas um mês na pasta.
Ambos discordavam da política negacionista de Bolsonaro com a pandemia, recusando-se a deixar de recomendar as medidas de isolamento social e não acatando a defesa do uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina.
Dois cardiologistas estão cotados para o cargo
De acordo com O Globo, pessoas próximas ao presidente já entraram em contato com dois médicos cardiologistas cotados para substituir Pazuello: Ludhmilla Abrahão Hajjar, professora da Associação de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP, e Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Procurada por ViDA & Ação, a assessoria da SBC informou que ainda não tem posicionamento oficial a respeito. No dia 22 de janeiro, Queiroga lançou uma ampla ação solidária para mobilizar cardiologistas de todo o país a ajudarem na crise de saúde no Amazonas, por meio de teleconsultas.
Formado pela Universidade Federal da Paraíba, há 31 anos, Queiroga fez Residência Médica no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro e treinamento em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista na Beneficência Portuguesa de São Paulo. Atualmente é responsável pelo Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Alberto Urquiza Wanderley, em João Pessoa/PB.
Sempre teve uma atuação bastante intensa na Associação Médica Brasileira – AMB, na própria SBC, na Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista – SBHCI, ocupando diversos cargos com destaque para o de presidente da Regional da Paraíba da SBC (1998/1999) e o de presidente da SBHCI (2012/2013).
Médica atendeu Bolsonaro no episódio da facada
Já Ludhmila é o nome preferido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e de deputados do centrão. Doutora em Anestesiologia, a médica atua como supervisora da Cardio-Oncologia do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC-FM/USP) e coordenadora da Cardiologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). É ainda intensivista no hospital Villa Nova Star, em São Paulo (SP) e diretora de ciência e tecnologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Ludhmila foi uma das médicas que avaliaram Bolsonaro, em 2018, na Santa Casa de Juiz de Fora, na região da Zona da Mata mineira, para autorizar sua transferência para outro hospital, após o polêmico episódio da facada.
Durante a pandemia, ela já tratou diversos políticos, entre eles o próprio ministro Pazuello, além de Augusto Aras, Arthur Lira e Rodrigo Maia. Foi uma das responsáveis pelos cuidados médicos prestados ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, em maio de 2020, quando o ministro passou por uma cirurgia de urgência.
A médica atua na linha de frente no tratamento de pacientes com Covid-19 desde o início da pandemia. Em entrevista recente Ludhmila Hajjar criticou a condução da pandemia no Brasil.
Foi uma ineficiência na adoção de medidas que poderiam ter minimizado muito a prevalência da doença. Hoje temos um número muito pequeno da população vacinada. Isso tudo tem um resultado hoje catastrófico, que estamos, infelizmente, assistindo no nosso dia a dia”, escreveu.
A favor da vacinação
Nas redes sociais, ambos defendem a vacina para a Covid-19 e celebraram a chegada das primeiras doses da Coronavac – a vacina chinesa que Bolsonaro tanto hesitou em aceitar porque era fruto de uma iniciativa de seu ex-aliado e atual arqui-inimigo João Doria, governador de São Paulo.
Ela recebeu no dia 15 de fevereiro, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), a primeira dose da vacina Coronavac. Na ocasião publicou uma mensagem de incentivo à imunização em sua conta no Instagram.
“Desejo que toda a população brasileira, em breve, possa sentir o que senti hoje: esperança de dias melhores, sem sofrimento e sem mortes”, escreveu Hajjar. Dias depois, ao receber a segunda dose, postou: “Desejo e espero que todos os brasileiros em breve estejam vacinados contra a COVID-19!”.
Já Queiroga disse que a vacina representa “mais segurança para quem trabalha na linha de frente. Além disso, a cobertura vacinal ampla vai nos ajudar a conter a pandemia”.
Contra o uso da cloroquina
Em sua conta nas redes sociais, a médica se diz contrária ao uso da hidroxicloroquina para o tratamento precoce da covid-19. “Não há dados liderados por cientistas em estudos sérios para que a gente possa afirmar que encontramos um tratamento eficaz. O melhor tratamento é a prevenção”, explica.
Tanto Pazuello quanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fazem intensa defesa do uso do medicamento indicado para tratamento de malária, como prevenção à covid-19. O uso da cloroquina para esse fim tem sido negado por diversas autoridades de saúde no mundo todo.
Em entrevista recente à Forbes, Ludhmila disse ser fã de Angela Merkel por entender que a primeira ministra alemã é “uma líder que cuida de seu povo, valoriza a ciência e está à frente do seu tempo”.
Deputados do PP chegaram a ser cotados para o cargo
Fontes do Planalto informaram ao El País que, oficialmente, a exoneração será a pedido e o militar deverá alegar que se afastará para cuidar de sua saúde. Na prática, será uma demissão porque o presidente tem se sentido pressionado a mudar sua política no combate ao coronavírus em um momento que a pandemia recrudesceu.
Hoje, o número diário de mortes ultrapassa as 2.000, o sistema de saúde está colapsando em boa parte dos Estados e a vacinação caminha a passos lentos, Bolsonaro quer deixar de ser considerado o principal responsável por essa condução equivocada e espera que a troca no comando da Saúde passe um sinal positivo para a opinião pública e para o mercado financeiro.
De acordo com o El Pais, a intenção inicialmente seria indicar para o cargo os deputados Ricardo Barros (PP-PR) – que foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer – ou Luiz Antônio Teixeira Júnior (PP-RJ), o Dr. Luizinho. Porém, decidiram por indicar um técnico. Barros é o líder do Governo na Câmara e tem participado das negociações dos principais projetos de interesse do Executivo
A decisão de substituir Pazuello foi tomada no sábado quando o presidente debateu o assunto primeiro com Lira e depois com o próprio ministro da Saúde e com outros três generais que são membros do primeiro escalão, Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fernando Azevedo (Defesa). Azevedo teria ido ao encontro para apresentar possibilidades de remoção de Pazuello, já que ele ainda é um general da ativa.
Com El País,