No Brasil, cerca de 21 milhões de pessoas têm algum comprometimento da função renal, muitas sem diagnóstico.  Hipertensão arterial, diabetes, obesidade e envelhecimento da população estão entre as principais causas da doença renal crônica (DRC), que pode evoluir silenciosamente até exigir diálise, um tratamento que remove os resíduos e excesso de fluidos do sangue quando os rins não conseguem mais realizar essa função.

Segundo o Censo Brasileiro de Diálise de 2024, realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). houve um aumento de quase 10% no número estimado de pacientes em diálise no país, saltando de 157.357 em 2023, para 172.585, em 2024.  Nos últimos 10 anos, esse número cresceu quase 55%.

Em apenas dez anos, a prevalência da doença renal crônica (DRC) avançou mais de 47%, passando de 552 pacientes por milhão da população em 2014 para 812 por milhão em 2024. São quase 53 mil novos pacientes apenas no ano passado, a maior alta da série histórica.

A tendência acompanha o crescimento de fatores de risco amplamente conhecidos, como diabetes, hipertensão arterial e obesidade. De acordo com o Vigitel 2023, mais de 56% dos brasileiros apresentam excesso de peso, enquanto 27,9% têm hipertensão e 10% convivem com diabetes.

A doença renal crônica é irreversível e, quando os rins perdem a capacidade de filtrar o sangue, a diálise se torna um tratamento essencial para a sobrevivência. O procedimento substitui parcialmente a função renal, exigindo geralmente duas a três sessões semanais, de cerca de quatro horas cada. Para a maioria dos pacientes, esse é um tratamento contínuo — apenas 5% conseguem chegar ao transplante renal, que pode representar a cura.

Mas os pacientes enfrentam muitas dificuldades nas clínicas de diálise conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A diálise é vital para o paciente renal; quem precisa do tratamento depende da máquina para sobreviver, e a falta dele pode levar ao óbito. Precisamos melhorar os serviços, garantir atenção adequada nas clínicas e agir para que todos tenham acesso a esse tratamento. Hoje, muitos pacientes ocupam leitos hospitalares por falta de clínicas, e isso precisa mudar com urgência”, afirmou Cláudio Cézar Alves da Silva, presidente da Associação dos Pacientes Renais Transplantados do Rio de Janeiro (ADRETERJ).

Paciente que faz diálise há quase 40 anos pede mais qualidade no atendimento

O aposentado Everaldo do Nascimento, de 60 anos, é paciente renal crônico há 40 anos, começando a fazer diálise aos 21 anos. Ele participou da ação, reivindicando mais qualidade no atendimento aos pacientes de diálise.  Segundo ele, uma das grandes dificuldades é a falta de acesso vascular, conhecida como fístula.

Enquanto não conseguimos fazer a fístula, precisamos passar o cateter, que é um acesso mais arriscado, com risco de infecções que podem levar até ao óbito e ainda prejudicar o transplante no futuro. Os hospitais não podem deixar os pacientes com cateter durante um ano, esperando pela fístula. Isso precisa ser revisto”, afirmou Everaldo.

Tanto Cláudio quanto Everaldo participaram presencialmente da ação de saúde promovida pela Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) nesta quinta-feira (28), em comemoração ao Dia Nacional da Diálise, o Dia Nacional da Diálise, celebrado na última quinta-feira de agosto – em 2025, a data caiu no dia 28. A iniciativa aconteceu durante a manhã e tarde na estação Central/Centro do MetrôRio e na Praça Saens Peña, na Tijuca.

Cariocas descobrem que estão com a glicose alta

Profissionais de saúde realizaram aferição de pressão arterial e medição de glicose em voluntários, com o objetivo de identificar fatores de risco que poderiam levar à falência dos rins, como hipertensão e diabetes. Ao todo, mais de 600 exames gratuitos de glicose e pressão arterial foram realizados. Os participantes também receberam orientações sobre saúde renal e prevenção da doença renal crônica (DRC).

Cristiliana Nascimento Manhães (foto), de 49 anos, foi uma dos atendidas pela ação da ABCDT na estação Central do MetrôRio e descobriu que sua glicose estava alta. “Eu não sabia que estava com a glicose elevada, apesar de já ter recebido o diagnóstico de diabetes. Agora preciso retomar o uso dos medicamentos e buscar uma vida mais saudável”, afirmou. O técnico de enfermagem Rogério Fernandes, 53 anos, também se surpreendeu com o resultado.

Tomei um susto ao ver minha glicose em 173. Eu não fazia ideia de que estava tão alta. Meu último exame, há um ano, estava controlado, em 100. Me alimento normalmente e faço musculação, mas recentemente não tenho conseguido me exercitar por conta do trabalho. Sabendo disso, vou procurar um médico, aferir minha glicose com mais frequência e também intensificar os exercícios, usando bicicleta e esteira”, conta.

Durante a ação, médicos nefrologistas reforçaram a urgência do tema e a necessidade de investir em prevenção. Priscila Lustoza, nefrologista DaVita, explicou que a doença renal crônica afeta cerca de 10% da população, e todos os anos, mais de 50 mil pessoas iniciam o tratamento, frequentemente devido à diabetes ou hipertensão, que são as causas mais comuns da doença.

Por isso, é fundamental investir na prevenção dessas doenças para evitar a evolução para a insuficiência renal terminal. Mas, quando o paciente já precisa de diálise, o procedimento é vital e não pode esperar. Em todas as ações, promovemos tanto a prevenção quanto a diálise, porque ela é essencial para a vida desses pacientes”, afirmou. 

Campanha #ViverÉUrgente enfatiza importância da prevenção

As ações desta quinta-feira fazem parte da campanha #ViverÉUrgente, promovida pela ABCDT em mais de 830 clínicas de diálise no país. O objetivo é conscientizar a sociedade e as autoridades sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce das doenças renais.

O Dia Nacional da Diálise é fundamental porque chama a atenção para um tratamento vital para os pacientes. Quem precisa de hemodiálise não pode ficar sem”, afirma Yussif Ali Mere Júnior, presidente da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT).

Para Bruno Zawadzki, diretor médico nacional da DaVita Tratamento Renal, o Dia Nacional da Diálise, reforça a importância da conscientização sobre a saúde renal. “Esse é um momento de colocar a saúde dos rins na agenda pública e estimular hábitos que possam frear o avanço da doença renal crônica no Brasil”, completa Dr. Bruno.

Atualmente, a DaVita é a maior rede de clínicas de hemodiálise do Brasil e atende mais de 21 mil pacientes por ano, sendo 72% via Sistema Único de Saúde (SUS). A empresa está presente em todas as regiões do país, com mais de 100 clínicas, sete operações de agudo e um centro de acesso vascular, além de realizar mais de 3 milhões de sessões de diálise por ano.

Diálise não depende de clínicas e pode ser feita em casa

O Dia Nacional da Diálise tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância do tratamento dialítico e da prevenção das doenças renais. No Brasil, milhares de pessoas dependem da diálise para sobreviver — e a diálise peritoneal surge como uma alternativa estratégica para reduzir a lista de espera por vagas em clínicas de hemodiálise, já que pode ser realizada no domicílio, diminuindo a sobrecarga dos centros especializados e ampliando o acesso ao tratamento, especialmente em regiões com menor infraestrutura.

A diálise e a hemodiálise são realizadas nos casos em que há diminuição da capacidade funcional dos rins. Na diálise peritoneal, a limpeza do sangue ocorre dentro do próprio corpo, enquanto na hemodiálise, o sangue é filtrado fora do corpo do paciente por meio de uma máquina. Conhecer as opções disponíveis é fundamental para pacientes, familiares e profissionais de saúde.

O médico nefrologista e intensivista Paulo Lins, gerente médico da Vantive e PhD em Nefrologia pela Unifesp/EPM, com mais de 15 anos de experiência clínica, acadêmica e na indústria da saúde, explica, de forma clara e acessível, as diferenças entre as duas principais modalidades de diálise:

  • Hemodiálise – realizada geralmente em clínicas especializadas, filtra o sangue por meio de uma máquina que remove toxinas e excesso de líquidos. O procedimento costuma ser feito três vezes por semana, com duração média de quatro horas por sessão.
  • Diálise Peritoneal – utiliza o peritônio (membrana que reveste a cavidade abdominal) como filtro natural. O tratamento é feito pelo próprio paciente, em casa, com trocas de solução dialítica ao longo do dia ou durante a noite, oferecendo mais autonomia e flexibilidade.

Iluminação especial no Congresso lembra o Dia Nacional da Diálise

Alta dos fatores de risco, como diabetes, hipertensão arterial e obesidade, favorecem o avanço do problema

A fachada do Congresso Nacional será iluminada de azul e vermelho nesta sexta (29) e neste sábado (30) em referência ao Dia Nacional da Diálise, comemorado na última quinta-feira de agosto. O objetivo da data é conscientizar os cidadãos sobre as doenças renais, os fatores de risco, as comorbidades e a diálise como mecanismo para prevenir o agravamento das doenças renais.

A prevenção e o tratamento são fundamentais para a qualidade de vida e a sobrevivência de pacientes renais. A prevenção envolve hábitos saudáveis, controle de doenças crônicas e exames de rotina para detecção precoce de alterações na função renal, como testes de creatinina e taxa de filtração glomerular (GFR). As principais causas das doenças dos rins são: pressão alta, diabetes, infecções urinárias frequentes, obesidade, sedentarismo e histórico familiar.

A alta da doença renal crônica é reflexo direto do avanço de condições como obesidade, hipertensão e diabetes, associadas a hábitos de vida pouco saudáveis. É urgente intensificarmos ações de prevenção, com incentivo à alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e controle das doenças crônicas. Também é fundamental incluir exames simples, como creatinina no sangue e análise de proteínas na urina, nos check-ups de rotina da população de risco”, afirma Bruno Zawadzki, diretor médico nacional da DaVita Tratamento Renal.

Clínicas reclamam mais uma vez de defasagem na tabela do SUS

A iluminação do Congresso no Dia Nacional da Diálise também visa sensibilizar entidades públicas e privadas sobre a necessidade de assegurar mecanismos efetivos de financiamento para os procedimentos de diálise, tanto por parte do Governo Federal quanto por meio da ampliação do cofinanciamento com os estados, considerando a complexidade dos processos e seus custos elevados.

No Rio de Janeiro, a ação também chama mais uma vez a atenção para outro problema crônico apontado por empresários do setor –  o que chamam de “subfinanciamento da diálise no SUS” – aproveitando para mais uma vez cobrar do Ministério da Saúde um reajuste na tabela para as clínicas conveniadas. Segundo a ABCDT, atualmente, o custo real de uma sessão de hemodiálise é de R$ 343, mas o valor pago pelo SUS é de R$ 240,97, uma defasagem de 42%.

 “O financiamento adequado é essencial para que possamos avançar e oferecer aos pacientes o que há de melhor em tecnologia e conhecimento científico”, diz o presidente da ABCDT. A entidade pede que os pacientes participem da campanha e assinem a petição da campanha neste Link.

Com Assessorias

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