O mês de dezembro é dedicado à mobilização nacional na luta contra o vírus HIV, a Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A campanha Dezembro Vermelho tem como objetivo colocar em pauta a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas que vivem com a doença.

Estima-se que no Brasil existam 920 mil pessoas com o vírus da Aids. Dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal mostram que, nos últimos anos, o número de novas detecções pelo vírus e o adoecimento por Aids caiu. Em 2020, foram 690 novos casos registrados no DF. Em 2021, até o momento, foram registradas 581 contaminações.

​Descoberto em 1984, o vírus HIV é um dos mais graves problemas da saúde já enfrentados pela humanidade. Apesar de não assustar como no passado, quando não havia tratamentos com a eficácia dos atuais, o contágio pelo vírus e a possibilidade de controle da doença ainda são cercados de mitos, o que contribui para a desinformação e o estigma sobre pessoas infectadas.

Confira algumas das principais dúvidas com o infectologista André Bon, do Hospital Brasília.

Quem tem HIV tem AIDS?

Não. Apesar de confusão frequente, HIV e Aids não são a mesma coisa. HIV é a sigla para vírus da imunodeficiência humana, e Aids é a sigla para a síndrome da imunodeficiência adquirida, doença que atinge o sistema imunológico do indivíduo. “Pessoas infectadas pelo HIV podem demorar entre 5 e 10 anos para desenvolver Aids e, ainda assim, não é sempre que o portador do vírus desenvolve a doença. Em casos em que o diagnóstico é realizado cedo e o tratamento iniciado tempestivamente, é pouco provável que o vírus se desenvolva para a doença. Por isso a importância do diagnóstico precoce e início tempestivo do tratamento”, explica o infectologista.

Caso o teste dê negativo, ainda há possibilidade de ter contraído HIV?

Sim. Caso o teste sorológico seja realizado menos de 14 dias após a ocorrência da relação sexual desprotegida, há possibilidade de ser falso negativo. Este período é chamado de janela imunológica e é o tempo mínimo para que sejam produzidas quantidades suficientes de anticorpos detectáveis pelo método, ou que haja quantidade de vírus suficiente para que o teste sorológico detecte seu antígeno.

O indivíduo é exposto ao vírus HIV somente se tiver relações sexuais desprotegidas?

Não. A maior parte das infecções pelo HIV ocorrem por conta de relações sexuais sem proteção. Porém, existem outras maneiras de se infectar, como compartilhamento de agulhas ou acidentes perfurocortantes com material biológico.

HIV pode ser transmitido via sexo oral?

Sim. A via oral é de baixo risco, porém, caso haja ejaculação e exista alguma ferida na boca, a contaminação pode acontecer. O infectologista ressalta que outras ISTs, como a sífilis, podem facilmente ser transmitidas pela via oral.

É possível se infectar em atividades como fazer tatuagem, ir à manicure ou à dentista?

Não. Normalmente esses profissionais tomam precauções para evitar a transmissão tanto do HIV quanto das diversas doenças transmissíveis pelo sangue, como hepatite B e C.

Mulheres soropositivas podem ter filhos normalmente sem que estes tenham HIV?

Sim. Desde que façam uso da medicação regularmente desde o início da gestação e estejam com carga viral indetectável no momento do parto. Além disso, a utilização de medicamentos no momento do parto para as mulheres que não estiverem com carga viral indetectável reduz muito o risco de transmissão.

Mesmo realizando o tratamento correto, portadores do HIV podem ter um tempo de vida mais curto?

Não. Em geral, pacientes com HIV que iniciam tratamento no momento adequado têm uma expectativa de vida semelhante à da população. Somente aqueles que começam tardiamente ou não aderem à medicação e desenvolvem a Aids têm maior chance de redução na expectativa de vida.

Pessoas em tratamento transmitem o HIV?

Não. A terapia antirretroviral (TARV), se realizada corretamente, reduz a quantidade do HIV no sangue para níveis tão baixos que se tornam indetectáveis nos exames utilizados para contá-los. “Permanecer no tratamento é importantíssimo para evitar a replicação do vírus e chegar à carga viral indetectável”, destaca o médico. “O paciente em tratamento com carga viral indetectável de maneira consistente não transmite o vírus pela via sexual”, conclui.

Quem vive com HIV e Aids pode beijar, abraçar e dividir itens pessoais?

Sim. Pessoas que convivem com o HIV não apenas podem, como devem abraçar, beijar e viver normalmente. O vírus não é transmitido pela saliva. É importante destacar que itens pessoais não devem ser compartilhados por ninguém, dependendo do item que se esteja falando, por ser anti-higiênico.

Pessoas com HIV não precisam usar camisinha se o parceiro também tiver o vírus?

Não. Apesar de o paciente com HIV e carga viral indetectável não transmitir o vírus, outras ISTs ainda são transmissíveis. Por isso é necessário ter atenção ao uso de preservativo nessas condições.

É possível viver normalmente com o HIV?

Sim. Realizando o tratamento corretamente, é possível levar uma vida normal com HIV, com riscos muito reduzidos de transmissão. “A maior dificuldade enfrentada por pessoas que convivem com o vírus é o preconceito, geralmente causado pela falta de informação”, finaliza o médico.

Mitos e verdades sobre a doença

Apesar de diversas campanhas de conscientização sobre a doença, muitas informações sobre HIV/AIDS ainda não são claras para todos, restando dúvidas sobre o que é mito e o que é verdade. Confira a seguir:

– Beijo na boca transmite HIV? MITO

O HIV não é transmitido por saliva, suor, urina, talheres, toalhas e sabonetes.

– Uma gestante com HIV pode gerar um filho sem HIV? VERDADE

Com o tratamento correto e a gestante mantendo sua carga viral indetectável, a chance de transmissão para o bebê é mínima. E o parto normal (vaginal) também não é contraindicado.

– Não tem problema outra mulher amamentar meu filho. MITO (GRAVE)

Isso é o que chamamos de “Amamentação cruzada” e é um risco para o bebê. A amamentação cruzada é sempre contraindicada, principalmente quando a mulher vive com o HIV, mesmo estando com a carga viral indetectável. Ninguém pode ter certeza da sorologia da outra pessoa, mesmo que seja alguém de sua confiança, então essa prática é absolutamente contraindicada. O principal risco da amamentação cruzada é a contaminação do bebê com doenças que passam pelo leite materno, como HIV e HTLV.

– Quem tem HIV não precisa usar camisinha se o parceiro também tiver o vírus? DEPENDE

Tecnicamente falando, se ambos estiverem com a carga viral indetectável há mais de 6 meses, partindo da informação que indetectável é o mesmo que intransmissível, eles podem optar pelo não uso do preservativo. Porém, se um dos dois não estiver com a carga viral indetectável, ambos devem usar preservativo, pois o vírus presente sofre mutações quando há uso irregular dos antirretrovirais e o parceiro indetectável pode contrair o HIV com essas modificações. No entanto, é importante lembrar que o preservativo, além do HIV, protege de outras infecções sexualmente transmissíveis e, por isso, seu uso é sempre recomendado.

– É possível pegar HIV através do sexo oral? DEPENDE

Se houver ejaculação dentro da boca ou caso haja alguma inflamação ou lesão vaginal, há grande risco de contrair o HIV e muitas outras infecções sexualmente transmissíveis. Se não houver, o risco é mínimo. Ressaltando que, se a pessoa que vive com o HIV mantém carga viral indetectável por mais de 6 meses, o vírus também não será transmitido dessa forma.

– Trabalhos como tatuador, manicure ou dentista podem acabar transmitindo a doença através do material que usam? VERDADE

É de extrema importância que tais profissionais sigam as orientações de biossegurança e utilizem materiais esterilizados. Há risco de transmissão não só do HIV, como também de hepatites B e C.

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