A radioterapia é uma das principais modalidades de tratamento de pacientes com câncer, especialmente indicado para tumores localizados ou em estágios iniciais. Ela é considerada um dos três pilares fundamentais do tratamento oncológico, sendo utilizada principalmente com proposta curativa, como também como abordagem paliativa, para alívio de sintomas das formas mais avançadas da doença.
Segundo o estudo internacional e multicêntrico publicado na The Lancet Global Health, a demanda por profissionais especializados em Radioterapia, como radio-oncologistas e físicos médicos, deverá crescer de forma alarmante, impulsionada pela crescente incidência de novos casos de câncer.
No Brasil, entretanto, existe uma tendência de queda no número desses procedimentos nos primeiros meses do ano, comparado com os outros meses do ano. É o que revela um levantamento realizado pela associação a partir dos dados do DataSUS de 2014 a 2024, divulgado pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), na semana do Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro).
A análise dos dados entre 2014 e 2024 (gráficos abaixo) sugere que o mês que teve o menor número de radioterapias foi em fevereiro em 7 anos (2015, 2017, 2018, 2021, 2022, 2023 e 2024). Apesar de fevereiro ser um mês curto e que apresenta um número reduzido de dias úteis, as implicações desse padrão são complexas, afetando o tratamento de pacientes com câncer, que podem ter suas terapias adiadas ou postergadas.
O radio-oncologista Erick Rauber, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), reforça importância de o cuidado com a saúde acontecer o ano todo. E traz alguns apontamentos podem justificar esses números obtidos por meio do levantamento.
Essa queda pode estar relacionada a diversos fatores, como a menor disponibilidade de recursos, a reconfiguração de agendas nos centros de tratamento ou até mesmo a menor procura por serviços no início do ano devido às festas de fim de ano e carnaval”, explica. “É necessário um planejamento mais eficiente e flexível nos serviços de radioterapia, visando garantir que os pacientes não sejam prejudicados por essa variação sazonal”, recomenda.
Festas de fim de ano e Carnaval não podem ser sinônimo de descuido
O anos de 2019 foi o único ano em que o comportamento foi inverso, devido a uma mudança na forma de precificação das radioterapias, que antes levava em conta o campo de tratamento e, naquele ano, mudou para o formato de pacote de tratamento. “Após o ano 2019, que houve esta alteração na contagem, é possível notar que o comportamento volta a se repetir com menores números no início do ano a partir de 2020 até 2024”.
De acordo com Erick Rauber, embora as festas de fim de ano e o carnaval sejam momentos de celebração e descanso, isso não deve ser motivo para adiar cuidados essenciais, como exames preventivos e tratamentos contínuos. Campanhas de conscientização, em relação ao câncer, precisam ser reforçadas, incentivando a população a manter a regularidade nas consultas e no acompanhamento médico.
Para aqueles que estão em tratamento de radioterapia, é crucial que a agenda de sessões seja mantida em dia, sem interrupções, para não comprometer a eficácia do tratamento e garantir a melhor recuperação possível.”, complementa Rauber.
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Comparativamente, em 2022 houve cerca de 20 milhões de novos diagnósticos de câncer, com aproximadamente 12,8 milhões de pacientes no mundo recebendo a indicação de radioterapia. Para o ano de 2050, os dados do GLOBOCAN indicaram 33,1 milhões de novos diagnósticos de câncer, com e 21,2 milhões necessitando de radioterapia. Esses dados revelam um aumento anual absoluto de 8,4 milhões de indivíduos que necessitam de radioterapia quando analisados os dois períodos.
Os autores utilizaram da base nos dados do Global Cancer Observatory (GLOBOCAN) e, a partir disso, estimaram que a força de trabalho global necessária em 2022 era de 51.111 radio-oncologistas (médico que prescreve, planeja e acompanha o tratamento), 28.395 físicos médicos (responsável por medir/calcular as doses de radiação e de garantir a qualidade dos equipamentos) e 85.184 técnicos em radioterapia (especialista que posiciona o paciente e manipula o aparelho no momento do tratamento), saltando no ano de 2050 para um projeção de 84.646 radio-oncologistas, 47.026 físicos médicos e 141.077 técnicos.
O gargalo da radioterapia no Brasil
Em um tabela trazida no estudo os autores quantifificaram os recursos atuais e as necessidades previstas na força de trabalho profissional de radioterapia em 32 países, dentre eles o Brasil. Nesta análise, os pesquisadores estabeleceram a proporção de uma unidade de tratamento para 450 pacientes, um radio-oncologista para 250 pacientes, um físico médico para 450 pacientes e um radioterapeuta para 150 pacientes. Foram coletados dados atuais, em nível nacional, sobre a força de trabalho profissional de radioterapia dos centros nacionais de saúde, assim como dados de relatórios, sociedades de oncologia e outras autoridades.
Os números relacionados ao Brasil são preocupantes. Segundo o estudo, em 2022 faltavam 960 radio-oncologistas e 359 físicos médicos, além de 2.676 técnicos em radioterapia no país. Para o ano de 2050, a projeção é que a força de trabalho necessária para oferecer o tratamento a todos os pacientes brasileiros que receberem a indicação de radioterapia será de 2.946 radio-oncologistas, 1637 físicos médicos e 4911 técnicos em radioterapia, números distantes do real cenário encontrado em 2022, quando havia apenas 646 radio-oncologistas e 533 físicos médicos.
Até 2050, a demanda por radio-oncologistas e físicos médicos deve crescer
O radio-oncologista Erick Rauber, diretor da SBRT, destaca que o estudo traz o alerta mundial para que as entidades públicas invistam nos profissionais e tratamentos adequados para cura dos pacientes om câncer “Há necessidade de parcerias internacionais, modelos de tratamento acessíveis e investimentos em saúde pública para garantir que a radioterapia esteja ao alcance de todos, independentemente da região ou da condição econômica do país”, enfatiza.
O artigo também destaca que em 2022, 71,9% dos países não tinham radio-oncologistas suficientes para atender às necessidades básicas de radioterapia. “Esse déficit é particularmente grave em países de baixa e média renda, onde a infraestrutura de radioterapia e a disponibilidade de profissionais qualificados são extremamente limitadas. Para enfrentar essa lacuna, é importante que os países invistam em estratégias de formação e recrutamento de novos profissionais para os programas de Residência Médica em Radioterapia, disseminação da importância da Radioterapia como pilar do tratamento oncológico e expansão da infraestrutura de tratamento”, diz Rauber.
A importância da radioterapia no combate ao câncer
A radioterapia é um tratamento eficaz que utiliza radiação para destruir células cancerígenas e reduzir tumores. Ela funciona direcionando radiação de alta energia para a área afetada, danificando o DNA das células tumorais e impedindo que se multipliquem. O tratamento pode ser utilizado em diversos tipos de câncer, seja como terapia principal ou como parte de um tratamento combinado, junto à cirurgia ou quimioterapia.
A radioterapia é cuidadosamente planejada para que as doses de radiação sejam entregues de maneira precisa, visando a área do tumor e minimizando o risco de danos aos tecidos saudáveis ao redor”, explica o radio-oncologista.
Dentro das diversas técnicas de radioterapia, a IMRT (Radioterapia de Intensidade Modulada) é uma das mais avançadas, permitindo que a radiação seja ajustada em intensidade e direção, conforme a forma e a localização do tumor. Embora a IMRT seja uma opção moderna e eficaz, o foco da radioterapia, de forma geral, está em proporcionar um tratamento altamente direcionado e personalizado, garantindo a máxima eficácia com o mínimo de efeitos colaterais.
Com informações da SBRT
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