O caso de Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos, que recebeu o diagnóstico de câncer de próstata já na fase metastática, acende o alerta para o diagnóstico tardio da doença, uma preocupação cada vez mais frequente. No Brasil, onde o câncer de próstata é o tipo de câncer mais comum  e a segunda maior causa de morte por câncer nos homens, a situação é alarmante, pois os pacientes têm chegado na rede pública com a doença avançada.  Dos 44.660 casos diagnosticados em 2023, 54% são dos estádios 3 e 4.
Os números apresentados fazem parte do levantamento Câncer de Próstata no Brasil: Análise de base de dados públicos 2022 a 2024, realizado pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida,  criador da campanha Novembro Azul, que faz o cruzamento das informações também com os dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde (MS), ou seja, são dados referentes ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Para o oncologista Igor Morbeck, membro do Comitê Científico do Instituto, esse é um ponto de atenção já que o câncer de próstata se diagnosticado precocemente, nos estádios 1 e 2, apresenta indicação para cirurgia. “Este é padrão ouro de tratamento quando o câncer ainda é inicial. Mas temos visto mais casos avançados quando o tratamento é realizado com hormonioterapia, quimioterapia e radioterapias”, completa o oncologista.
Segundo , alguns tipos de câncer têm maior chance de metástases para os ossos, entre eles, o câncer de próstata destaca-se como um dos principais. No caso de Joe Biden, a surpresa é ser diagnosticado tardiamente.
Por ter acesso irrestrito a todo cuidado possível de saúde, certamente com exames de intervenção e rastreamento em dia, ser diagnosticado já com uma doença avançada chama atenção. Neste caso, pelo fato de ter metástase óssea indica que a doença será tratada com objetivo de controle, mas não mais de cura”, explica.
Outro ponto, é que câncer do ex-presidente foi classificado com a nota 9 no score de Gleason – usado para avaliar o prognóstico de homens com câncer de próstata. “Habitualmente, essa nota varia de 6 até 10, e 9 é uma nota alta. E quanto maior, maior a agressividade da doença, significa que é um tumor com características ruins”, completa Morbeck.

Dificuldade de acesso ao diagnóstico e tratamento no Brasil

De acordo com Marlene Oliveira, fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, os brasileiros tem grandes desafios para enfrentar e o principal deles é o acesso.
O câncer de próstata, quando diagnosticado precocemente, tem grande chance de cura. O que não pode acontecer é o sistema de saúde não conseguir dar acesso para o diagnóstico precoce da doença. Precisamos melhorar o acesso no que envolve as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a regulação. Os pacientes têm chegado com o diagnóstico muito tardio, quando não há muito o que se fazer. É mais que urgente mudarmos esse cenário”, afirma.
Em 2023, foram gastos R$ 18,8 milhões em prostatectomias (procedimento cirúrgico) e R$ 202,5 milhões em hormonioterapia, seguidos de R$ 131,6 milhões em radioterapia e R$ 82,4 milhões em quimioterapia. Diante deste cenário, é possível afirmar que o tratamento tardio fica mais oneroso também, elevando os gastos da saúde.
Confira os dados consolidados ano a ano e registro de casos por estados
 
Na Região Sudeste, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os três mais populosos e, consequentemente, com maior estrutura para diagnóstico e tratamento. Por isso, são os que mais acumulam registro de casos de câncer de próstata. Quando comparada com as demais regiões, como a Norte, que tem menor número de casos da doença, é possível levar ao entendimento de que há subnotificação e que pode estar ligada à falta de estrutura, acesso e vazios assistenciais.
 
Em 2022, 89,95% dos diagnósticos de pacientes com câncer de próstata foram realizados pelos Centros Especializados em Oncologia (CACONS) e Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (UNACONS). Já no ano de 2023, a participação foi de 89,11% – o que não difere muito dos registros apontados até o presente momento em 2024 que é de 84,93%. Os dados destacam a importância das unidades de alta complexidade em oncologia na realização do diagnóstico do paciente, que deveria estar sendo realizado em ambiente de média complexidade.
 
No quadro abaixo, o registro de novos casos de câncer de próstata no SUS referem-se ao período de janeiro a agosto de 2024.
Interface gráfica do usuário

Descrição gerada automaticamente
Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer
 
Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento do câncer de próstata terem melhorado significativamente as taxas de sobrevida, os óbitos são uma realidade preocupante tanto por conta de casos diagnosticados tardiamente ou com características mais agressivas, especialmente frente ao cenário existente no Sistema Único de Saúde (SUS) – disparidades regionais, falta de equidade, grandes vazios assistenciais, falta de planejamento e organização. No ano de 2023, foram registrados 16.897 óbitos, mais de 46 por dia – um número muito elevado.
A redução das taxas de mortalidade depende de estratégias abrangentes de prevenção, rastreamento precoce e tratamento adequado, com foco em garantir o acesso equitativo a cuidados de saúde de qualidade. A Lei 14.758/2023, que institui a nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) em implementação, traz de forma explícita em seus objetivos a redução da mortalidade.
Observa-se alguns reflexos importantes quando se trata de câncer de próstata, mas que estão ainda muito aquém do que realmente é necessário. Para Marlene Oliveira, é importante que a Lei aconteça na prática para mudar a jornada dos pacientes. “A Lei é fundamental e o trabalho de todos para implementá-la é que fará a diferença na melhoria do cenário do paciente com câncer de próstata no Brasil, sempre respeitando as suas especificidades”, completa.

Fonte: Instituto Lado a Lado pela Vida

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