Com o surgimento de diferentes linhagens virais do Sars-CoV-2, que carregam mutações na proteína Spike, pesquisadores estão em alerta para acompanhar se essas mutações podem conferir vantagem seletiva para a transmissibilidade viral do causador da Covid-19. Por isso, a Fiocruz orienta que a população siga os cuidados de prevenção contra a Covid-19.

Desde o primeiro caso confirmado de infecção pela nova variante o vírus já circulou pelo mundo e em cada pessoa contaminada se multiplicou e fez milhares de cópias de si mesmo. O surgimento destas novas linhagens, que apresentam mutações na proteína Spike e que podem impactar a capacidade do vírus de se replicar em um determinado ambiente, além da transmissibilidade, tem sido motivo de preocupação em todo o mundo. 

De acordo com nota técnica elaborada pelo ILMD/Fiocruz Amazônia, as cepas variantes circulam no Amazonas desde abril de 2020 e podem ser representantes de um vírus de uma linhagem emergente no Brasil. 

Se essas mutações conferem alguma vantagem seletiva para a transmissibilidade viral, devemos esperar um aumento da frequência dessas linhagens virais no Brasil e no mundo nos próximos meses. Neste novo cenário, é fundamental aumentar nossas capacidades de vigilância em saúde, incluindo a vigilância genômica e sorológica, para inclusive determinar a eficácia das vacinas existentes para a Covid-19 nestas novas linhagens”, alertam os pesquisadores do Observatório Covid-19.

O pesquisador Felipe Naveca, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), afirma que as recomendações são as mesmas para os cuidados de disseminação do vírus, tanto do vírus original, quanto dessa variante, só que se de fato ela for mais transmissível, a atenção tem que ser ainda maior, porque qualquer descuido pode levar à infecção. “Do ponto de vista dos profissionais da saúde, eles já usam EPIs, os melhores possíveis, é só redobrar os cuidados para que sempre tenham a menor chance de serem infectados”, destaca.

Saiba mais sobre os estudos das variantes em Manaus

11 estados apresentam elevadas taxas de incidência

A nova edição do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgada nesta sexta-feira (5/2), aponta que os dados consolidados para o país mostram a manutenção de padrões elevados de transmissão da Covid-19, confirmando a tendência de alta no número de casos e óbitos de janeiro. Nas semanas epidemiológicas 3 e 4 (17 a 30 de janeiro), o Brasil registrou uma média diária de 51 mil casos e de 1.050 óbitos por dia. Nenhum estado apresentou tendência de queda no número de óbitos. Em cinco deles – Acre, Amazonas, Roraima, Ceará e Paraná – houve um aumento significativo do número de mortes.

O início das campanhas de vacinação chega em um momento crítico da pandemia no país. Segundo o Boletim, 11 estados apresentam elevadas taxas de incidência e em 18 foram observadas altas taxas de mortalidade. A maior parte desses estados mantém taxa de letalidade por Covid-19 (proporção de casos que resultam em óbitos) elevada, confirmando a expressiva alta no Amazonas (4,5%) e a manutenção de taxas elevadas no Rio de Janeiro (4,9%).

Na visão dos pesquisadores do Observatório Covid-19, que é integrado por uma equipe multidisciplinar, este fato indica graves falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde nesses estados. E por isso a nova edição do boletim destaca a importância estratégica da  farmacovigilância.

Com o início das campanhas de vacinação, a vigilância de eventos adversos tem ganhado destaque na mídia e despertado o interesse da população em geral. Diante deste cenário, a vigilância assume papel fundamental ao possibilitar a identificação de eventos raros não detectados previamente, assim como de possíveis benefícios à saúde ainda não observados”, diz a Fiocruz.

Em relação à incidência e mortalidade, o Boletim mostra que as maiores taxas de incidência de Covid-19 foram observadas em Rondônia, Amazonas, Roraima, Amapá, Sergipe, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Já as taxas de mortalidade mais elevadas foram verificadas no Amazonas, Roraima, Amapá, Tocantins, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso

Alerta para falta de leitos de UTI nos estados

Por sua vez, as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos encontram-se em zona de alerta crítica, com (≥80,0%) em sete estados na zona de alerta intermediária e (<80% e ≥ 60,0%) em 14 estados e no Distrito Federal. Em oito capitais as taxas de ocupação estão na zona de alerta crítica, destacando-se Porto Velho e Rio de Janeiro, com 100% de ocupação de leitos UTI Covid-19, segundo registro feito em 1º de fevereiro. Estes dados apontam para uma alta demanda de internações.

Os pesquisadores do Observatório Fiocruz Covid-19 ressaltam que, no momento, há um grande atraso no fluxo de dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe) e que parte dos casos divulgados em janeiro pode ainda ser decorrente de exames, adoecimentos, internações e óbitos ocorridos em dezembro. Da mesma forma, segundo os cientistas, casos ocorridos em janeiro podem estar represados.

Eventos adversos das vacinas devem ser notificados

No caso das novas vacinas para Covid-19 que estão sendo utilizadas no Brasil é importante que todos os eventos adversos observados sejam notificados. Os estudos realizados previamente incluíram número pequeno de pessoas idosas e ainda requerem mais dados para que se conheça o perfil mais completo desses eventos nesse grupo”, observam os pesquisadores.

No entanto, de acordo com o Boletim, com o perfil de segurança já conhecido, o balanço entre risco e benefício das vacinas autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa) é favorável à vacinação dos idosos. Os cientistas do Observatório Fiocruz Covid-19 ressaltam que os dados sobre os eventos adversos são analisados por uma equipe internacional de especialistas para identificar situações que possam gerar riscos a algum grupo populacional específico. 

Até o momento, os eventos conhecidos, relatados nos estudos realizados no Brasil e em outros países, são todos de pequena gravidade: poucos casos de dor de cabeça, dor no local da aplicação, febre baixa, calafrio, dor articular e muscular e cansaço. E todos com melhora de 24 a 48 horas”, afirmam os cientistas. 

Cidadãos e profissionais de saúde ou serviços de saúde e vigilâncias sanitárias podem fazer notificações pelo VigiMed, que é disponibilizado pela Anvisa. O formulário disponível nesse sistema serve para relatar eventos adversos e outros problemas relacionados a medicamentos e vacinas. O sistema é simples e rápido e a notificação pode ser feita mesmo que seja apenas uma suspeita. E possível relatar eventos adversos também nos sites dos produtores das vacinas: na Fiocruz e no Butantan.

O Ministério da Saúde (MS) e a Fundação Oswaldo Cruz lançaram nesta sexta-feira (5) o edital para a construção do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (CIBS). O documento abre licitação para contratação de investidores interessados em participar da construção do empreendimento do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. 

A previsão é que todo o complexo fique pronto em quatro anos e a capacidade de produção está estimada em 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano, podendo ser ampliada de acordo com o regime de operação a ser adotado. Em doses, a capacidade irá variar conforme o mix de produtos, podendo passar de 600 milhões de doses/ano.

A nova planta poderá, por exemplo, viabilizar a produção de novas vacinas, como a dupla viral (sarampo e rubéola), cujos estudos clínicos foram recém-concluídos por Bio-Manguinhos, e a meningocócica C, que se encontra em estágio avançado de estudos de fases II/III, além de novas apresentações de vacinas do portfólio do Instituto (número de doses/frasco), para atender a diferentes necessidades do SUS. 

Com isso, o Instituto reafirma o seu importante papel no combate a doenças preveníveis por vacinação, assim como no tratamento de doenças crônicas como artrite reumatoide, esclerose múltipla e doenças oncológicas, inclusive permitindo a ampliação dos programas do governo federal por meio da incorporação de novos imunobiológicos para a população.

Hoje, Bio-Manguinhos fornece vacinas com as apresentações de 1 dose, 5 doses e 10 doses/frasco, e a ampliação da capacidade produtiva no CIBS também representa a possibilidade de incorporação de novas apresentações. 

Investimento de R$ 3,4 milhões e 5 mil empregos

Para que o empreendimento seja construído, o investimento será privado, pago na forma de aluguel e com reversão do patrimônio após o prazo de 15 anos. O investimento é da ordem de R$ 3,4 bilhões e prevê a geração de 5 mil empregos diretos nesta etapa de obras, e de 1.500 postos de trabalho para a operação do empreendimento.

Com o edital publicado no Diário Oficial, os potenciais investidores terão um prazo 120 dias para apropriação e estudo do projeto para subsidiarem a elaboração de suas propostas. Após a conclusão da licitação, com a homologação do vencedor e a assinatura do contrato, será dado início à construção no segundo semestre de 2021.

A previsão é que os primeiros prédios GMP (Good Manufacturing Practices ou Boas Práticas de Fabricação – BPF, em português) comecem a ficar prontos em cerca de 24 meses. Paralelamente às obras, serão feitos todos os processos de validação obrigatórios.

O terreno abrange uma área de aproximadamente 580 mil m². Apenas o novo Centro de Processamento Final (NCPFI), principal instalação do projeto, representa 334 mil m² de área construída. O complexo será constituído inicialmente por nove prédios, englobando dois para formulação, envase, liofilização e revisão de vacinas e biofármacos e os demais para atividades de embalagem.

Também abriga armazenagem de matéria-prima; armazenagem de produto acabado; controle e garantia da qualidade; utilidades em geral; centrais de tratamento de resíduos e efluentes; e administração. O terreno conta ainda com áreas reservadas para futuras expansões. 

Trata-se também de um projeto sustentável, que contará com de painéis de captação de energia solar; reservatórios para captação de água da chuva; sistema de reuso de água; e aquisição de materiais com conteúdo reciclado. Na etapa inicial, já foram plantadas 30 mil árvores que formarão um cinturão verde de Mata Atlântica para preservar a biodiversidade local; dentre outras iniciativas. 

Saiba mais sobre o lançamento do edital aqui

Da Agência Fiocruz, com Redação

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