Cada vez mais jovens estão deixando a família, às vezes para bem longe, cada vez mais cedo. Seja para estudar fora do país em um programa de intercâmbio ou mesmo para trilhar seu caminho rumo à fase adulta. Os sonhos de muitos jovens incluem morar fora do país e realizar um intercâmbio, para complementar a carreira profissional ou para crescer pessoalmente. Um levantamento realizado pela Belta – Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio, revela o crescimento do setor, com um aumento de 21,68%.

No entanto, para que esse processo aconteça, é necessário muito planejamento, tanto financeiro quanto emocional. Isso é especialmente aplicável para os pais zelosos, que estão acostumados a uma rotina com os filhos e terão que se separar deles por um período. Mesmo sendo por uma boa causa, ainda é um processo difícil.

Na teoria, todas as mães sabem que criam os filhos para o mundo, mas quando chega à hora e eles resolvem sair de casa, a história muda de figura e na prática é a saudade que entra em cena. Porém, não saber lidar com ela pode acarretar a chamada “síndrome do ninho vazio.

Primeiro passo é a aceitação

Esta é uma realidade comum para muitos pais quando seus filhos decidem seguir seus próprios caminhos e sair de casa, principalmente ao ingressarem em uma universidade. E, apesar de ser um processo natural e esperado, essa fase pode gerar sentimentos de tristeza, solidão e até mesmo culpa para ambas as partes, caso não lidem com ela de forma saudável.

Segundo a psicóloga Maria Danielle Tavares, especialista no tema e atuante na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP), o primeiro passo para encarar a síndrome é a aceitação.

Não se trata de uma doença, mas sim de um conjunto de características e emoções que surgem com a mudança na dinâmica familiar, impactando a todos os envolvidos”, afirma.

Se demorarem para aceitar esse período de transiçãoMaria ressalta que há uma chance maior de psicopatologias se formarem no caminho, como ansiedade e depressão.

Ao mesmo tempo que os pais sentem orgulho de ver os filhos partindo em busca dos seus sonhos, podem se sentir perdidos, sem saber quais são os seus novos papéis como cuidadores/responsáveis. Além disso, muitos jovens também não estão preparados para sair de casa e a saudade chega ao ponto de interferir em suas vidas cotidianas longe de casa”, complementa.

Síndrome atinge principalmente as mães

De acordo com a psicanalista Kélida Marques, isso acontece, pois “os seres humanos precisam de uma complementação e quem nos dá isso são os nossos filhos, que naturalmente nos preenchem”. E, em função do elo maternal estabelecido na infância, o transtorno atinge principalmente as mulheres.

Dessa forma, por causa do grande vazio existencial causado pelo distanciamento, ainda que provisório em alguns casos, os pais tendem a encarar a mudança de forma negativa, chegando até mesmo a atrapalhar o crescimento do filho.

Porém, por mais que a saudade fale alto, é possível minimizá-la com algumas recomendações simples. O envolvimento da mãe e do pai ao longo de toda a jornada, desde a tomada de decisão até a preparação para a viagem, é fundamental para facilitar o processo e gerar mais confiança.

A síndrome do ninho vazio acomete os responsáveis sempre que os filhos decidem dar um passo maior em suas vidas. Alguns vão por pouco tempo, como um mês, mas há os mais corajosos que investem um ou dois anos longe do país de origem e mergulham de cabeça em uma nova aventura.

Mas, como ressignificar esse sentimento de falta dos filhos e encontrar um sentido positivo para a fase que está vivendo? Para a psicanalista Kélida, “ao invés de focar na saudade e na falta que os filhos fazem na rotina, é importante procurar pensar no quanto os momentos que viveram juntos foram importantes e contribuíram para que eles se tornassem os adultos que são hoje.

Ao invés de sofrer porque não verá mais o seu filho todos os dias, a psicanalista dá a dica: “escolha se alegrar com mais esse passo que ele ou ela está dando na vida. Lembre-se disso, mande embora este sentimento de vazio e preencha seu tempo cuidando cada vez melhor da sua qualidade de vida, pois você merece”,  resume.

Como empresária lidou com dois intercâmbios do filho

A empresária Leiza Oliveira, CEO da Minds Idiomas, conta como lidou com os intercâmbios realizados pelo filho, que foi para os Estados Unidos em 2016 e ficou um ano; e em 2018, foi para o Canadá e ficou dois meses.

A preparação para ficar longe do meu filho envolveu muita conversa aberta sobre expectativas, preocupações e como manteríamos contato regularmente. Além disso, ajudou muito saber que ele estava bem informado sobre o local e a cultura para onde estava indo”, comenta.

Segundo ela, quando um filho vai fazer intercâmbio, é natural sentir uma mistura de orgulho e saudade. Esse período pode ser desafiador tanto para os pais quanto para o filho.

Meu conselho para uma mãe que está passando pela mesma situação é se manter presente na vida do filho mesmo à distância, apoiá-lo nessa jornada e também aproveitar esse tempo para se redescobrir e investir em si mesma”, destaca.

Estabelecer uma rotina de comunicação é essencial para que a saudade não seja tão avassaladora. “Uma dica para a comunicação ficar mais divertida é tentar conversar na língua do país de destino, meu filho fez intercâmbio para um país de língua inglesa, então às vezes nos comunicamos em inglês, ele me contava o dia dele e as coisas que estava descobrindo na viagem”, conta Leiza.

Tentar conversar em inglês pode ser uma estratégia

Para Arleth Bandera, CEO da Eagle Intercâmbio, agência sediada no Vale do Silício, na Califórnia, incentivar a autonomia pode ser doloroso de início, mas ajuda o jovem a confiar na sua capacidade de solucionar questões do cotidiano. “Os pais sempre relatam essa experiência como enriquecedora no amadurecimento dos filhos”, afirma.

Se o seu filho está em outra fase da vida, estudando em outro país e preparando-se para ter um futuro profissional de sucesso, isso é motivo de orgulhar-se. E para enfrentar a distância e a saudade, a tecnologia e a internet são aliadas fundamentais nesse período”, destaca.

A empresária, afirma que é importante que os pais sejam 100% ativos nessa experiência, oferecendo assistência, identificando oportunidades de atividades extracurriculares e compreendendo os momentos de estresse, afinal, é um caminho longo e o cansaço pode aparecer em forma de irritação.

Importante ressaltar que mesmo que o estudante esteja indo para estudar o inglês, ir sabendo pelo menos o básico, para poder sobreviver, é essencial. Na Minds, rede de idiomas, os alunos contam com esse tipo de programa, justamente para quem está indo para fora do país e precisa aprender com uma certa urgência.

Além disso, é importante que a agência de intercâmbio especializada esteja sempre ao lado de todos, dando suporte ao intercambista e a família, comunicando sobre cada etapa da viagem, pois isso fará com que todos se sintam mais seguros e vivenciem a experiência de maneira tranquila”, explica 

5 dicas para lidar com a síndrome do ninho vazio de forma saudável

Especialistas indicam maneiras de melhorar adaptação de pais e filhos quando estes saem de casa, atenuando o surgimento de transtornos mentais

Para ajudar as famílias a lidar com a Síndrome do Ninho Vazio, a psicóloga Maria Danielle Tavares e Ewerton Camarano, CEO da Uliving, parceira da FGV-SP, trouxeram cinco dicas para reforçar aspectos como diálogo, planejamento e apoio para os pais que precisam se adaptar à ausência dos filhos durante o período de intercâmbio – ou mesmo para uma nova jornada profissional ou pessoal. Confira:

  • “Preparar o terreno” para a separação: Maria aponta que pais e filhos tendem a passar por uma fase de aceitação e adaptação menos sofrida quando não se separam de maneira abrupta. De acordo com Camarano, há algumas precauções que ajudam a não causar esse choque de realidade no momento em que os jovens estão começando uma jornada acadêmica, como “conhecer e se familiarizar com as prováveis cidades e regiões próximas das instituições de ensino e moradias universitárias antes do início dos cursos”.
  • Encontrar uma moradia adequada: acomodações bem estruturadas, seguras e acolhedoras são indispensáveis para essa nova etapa da vida do jovem. Na jornada acadêmica, por exemplo, o modelo de moradia que geralmente é o preferido dos pais por amparar os estudantes em todos os âmbitos dessa fase é o student housing. “Esses espaços se destacam por serem pensados como “comunidades seguras, que garantem que o aluno tenha uma base sólida de apoio durante toda a sua vida universitária”, completa Camarano.
  • Buscar a comunicação ideal: a tecnologia pode ser uma grande aliada para manter um diálogo ativo quando os jovens estão estudando ou trabalhando a milhares de quilômetros de distância. Para a psicóloga, encontrar novas formas de interagir é fundamental, principalmente nas relações acostumadas com o contato físico. “Os pais devem investir em novas formas de comunicação com os filhos sem exercerem um controle excessivo, priorizando o amparo emocional”, conclui a especialista.
  • Ajudar os filhos a focar na gestão emocional e de tempo: o auxílio dos pais nos desafios que os filhos passam a enfrentar fora de casa é imprescindível para lidar com a Síndrome do Ninho Vazio. Nas universidades, Camarano ressalta que estabelecer contato com pessoas que passam por esses mesmos obstáculos também pode trazer aprendizados importantes. “Os calouros que moram juntos em nossas moradias universitárias se identificam instantaneamente, já que são jovens que têm as mesmas demandas e podem se apoiar para organizarem suas rotinas de tarefas e lazer”, destaca.
  • Buscar outras fontes de apoio: investir em hobbies, cursos, novas amizades, trabalho voluntário ou retomar projetos profissionais antigos também são alternativas para diminuir os efeitos negativos da Síndrome do Ninho Vazio. Sobre isso, a psicóloga explica que “a mente passa a ter outros focos de atenção quando os pais se conectam com outras atividades e fontes sociais, que equilibram a preocupação com a nova fase da vida dos filhos”.

Com Assessorias

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