O capacitismo, discriminação contra pessoas com deficiência, se manifesta em atitudes, crenças e práticas que considera quem tem algum tipo de limitação física e/ou cognitiva como inferiores, anormais ou menos capazes do que as pessoas sem deficiência. Não é apenas um preconceito explícito, mas também pode ser sutil e se manifestar em frases, supostas piadas e até mesmo em ações que parecem bem-intencionadas.

Recentemente, o cantor Nattan ofereceu uma quantia em dinheiro para que um homem beijasse uma mulher com nanismo no palco. Apesar de a mulher, que é influenciadora digital, ter afirmado que não se sentiu ofendida, a atitude gerou uma enorme polêmica e foi duramente criticada por associações de nanismo, como a Associação Nanismo Brasil (ANNABRA). Esse caso serve como um exemplo perfeito de como o capacitismo se manifesta:

A situação transformou uma mulher com nanismo em uma ‘atração’, em que seu beijo com um homem foi objeto de entretenimento e premiação em dinheiro, reforçando a ideia de que sua deficiência é algo incomum, que merece atenção e pode ser monetizada. A suposta brincadeira objetiva normalizar o preconceito. Embora a intenção possa parecer inofensiva, a ação demonstra uma forma de capacitismo. A situação sugere que a mulher precisa de uma compensação financeira para ser beijada, o que é uma atitude que diminui a sua dignidade e desrespeita sua individualidade”, observa o médico pediatra Antonio Carlos Turner.

Capacitismo impacta no desenvolvimento de crianças PCDs

Pediatra recomenda interação com todas as crianças e valorizar o que elas são capazes de fazer 

Segundo ele, o capacitismo afeta de forma cruel o desenvolvimento das crianças com algum tipo de deficiência física ou mental de diversas formas. De acordo com o pediatra, “quando a família e a sociedade limitam a participação da criança com deficiência em atividades sociais, escolares ou lúdicas, ela pode se sentir desvalorizada e ter a sua autoestima afetada. Falas como ‘coitadinho’ ou ‘ela é tão corajosa por fazer coisas que outras crianças fazem naturalmente’ reforçam a ideia de que a criança é diferente de uma forma negativa. Isso pode levar a um ciclo de insegurança e falta de autonomia”.

Deve-se evitar frases que a vitimizam ou a diminuem. É fundamental que a criança seja incentivada a fazer o máximo de coisas por si mesma. Deixe-a ajudar a arrumar os brinquedos, escolher a roupa ou participar de decisões simples. Isso fortalece a confiança e a independência”, ressalta o especialita, que é diretor técnico da rede de clínicas Total Kids, que tem unidades em Bonsucesso, Olaria, ParkShopping Campo Grande e ParkShopping Jacarepaguá.

Ainda segundo ele, cada criança tem talentos e habilidades únicas. “Concentre-se no que a criança pode fazer, não no que ela não pode. Isso ajuda a construir uma identidade positiva. Mães, pais e responsáveis devem buscar oportunidades para que a criança interaja com outras crianças, com e sem deficiência. Isso pode ser em parques, escolas, festas de aniversário ou outras atividades comunitárias”, afirma.

Piedade não é a mesma coisa que empatia. É importante que a criança com algum tipo de deficiência seja tratada como qualquer outra, com respeito e dignidade. Dizer não ao capacitismo é obrigação de toda a sociedade. “O papel de todos é criar um ambiente de amor e aceitação, onde a criança se sinta segura para ser quem ela é”, conclui o médico pediatra Antonio Carlos Turner.

9 entre 10 PCDs enfrentam capacitismo no mercado de trabalho

O Dia 21 de setembro é o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência” e o capacitismo – o comportamento opressor que discrimina a pessoa com deficiência – ainda é uma das principais barreiras de inclusão. A pesquisa “Radar da Inclusão 2024: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência, que ouviu 1.230 pessoas com deficiência ou neurodivergência, revelou que 9 cada 10 já enfrentaram situações de capacitismo no ambiente de trabalho.

O capacitismo nos resume a uma só condição e bloqueia nossos talentos. Essa opressão precisa ser tão conhecida quanto o machismo e o racismo na sociedade. Desconstruir expressões capacitistas é uma importante atitude para promover liberdade, igualdade, equidade e dignidade a todas as pessoas e para aumentar o conhecimento sobre nós, pessoas com deficiência“, diz  Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir.

Com a missão de trazer dignidade para pessoas com deficiência por meio da empregabilidade, a consultora aponta as expressões capacitistas mais utilizadas e como substituí-las. São elas:

Guia de Comunicação Inclusiva sobre Pessoas com Deficiência

Com o intuito de colaborar com o mercado de comunicação, o Grupo Talento Incluir lançou recentemente o Guia de Comunicação Inclusiva sobre Pessoas com Deficiência (clique aqui), direcionado principalmente para profissionais de comunicação, de forma gratuita e disponível no site da Talento Incluir.

Além das terminologias mais indicadas, o Guia traz informações sobre legislação, aspectos sobre fotos e vídeos, cuidados na condução de entrevistas e na produção de conteúdo e reportagens que abordem o universo das pessoas com deficiência. Totalmente colaborativo, o material está sempre aberto para receber novas contribuições por pessoas interessadas pelo tema.

Capacitismo e acessibilidade são destaque em livro

A publicação convida o público a refletir sobre como a sociedade pode construir um futuro mais inclusivo..

Discutir a acessibilidade e a inclusão é fundamental, pois a deficiência é uma condição que pode afetar a todos nós, direta ou indiretamente, em algum momento da vida. Em Poderosa e sobre rodas, lançado no Brasil pela Buzz Editora, a escritora cadeirante Rebekah Taussig convida os leitores a refletirem sobre temas importantes, como o capacitismo na mídia, a beleza tanto da independência quanto da dependência, as falhas no sistema de saúde, entre outros.

Com base em sua própria experiência, Taussig explora as complexidades da bondade e da caridade, abordando de maneira sensível e crítica os ritmos e texturas de viver com uma deficiência. O livro é uma poderosa reflexão sobre a pluralidade da experiência humana e a importância de dar voz a histórias que muitas vezes são negligenciadas ou mal compreendidas.

Ao destacar essas questões, Taussig nos lembra da necessidade urgente de ampliar o espaço para mais histórias e vozes que nos ajudem a compreender a diversidade da condição humana. A publicação conta com um texto de apresentação da jornalista Flávia Cintra, repórter especial do programa Fantástico da TV Globo e defensora ativa dos direitos das pessoas com deficiência, no qual ela traz sua própria perspectiva sobre o tema, enriquecendo a edição.

Com uma abordagem honesta e comovente, Poderosa e sobre rodas é um convite à reflexão e à ação para construirmos, juntos, uma sociedade mais inclusiva e coletiva. Alança um livro essencial para os tempos atuais

Sobre a autora

Rebekah Taussig, ph.D., é escritora e professora em Kansas City, no Missouri, com um doutorado em não ficção criativa e estudos sobre a deficiência. Já conduziu workshops sobre representação, identidade e comunidade de pessoas com deficiência na Universidade de Michigan, na Universidade do Kansas e no Davidson College. Ela também administra a conta @sitting_pretty, na qual cria breves memórias para contribuir com as narrativas coletivas sobre a deficiência. Rebekah vive em uma casa cheia de projetos de arte inacabados, música alta e uma família carinhosa e afetuosa.

FICHA TÉCNICA

Título: Poderosa e sobre rodas

Autora: Rebekah Taussig

Tradução: Isadora Goldberg Sinay

Páginas: 256

Tiragem: 2 mil

Preço: R$ 69,90 (impresso) ou R$ 49,90 (ebook)

Com Assessorias

 

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