Em 2015, havia 29 milhões de pessoas dependentes de droga em todo o mundo, de acordo com o Relatório Mundial Sobre Drogas de 2106, publicado pelo UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Os números são alarmantes e demandam grande atenção na busca de uma solução e também de novos meios de prevenção às drogas. Para quem já apresenta o problema, psicoterapia, uso de medicamentos e imersão numa clínica especializada são opções disponíveis. Mas, como forma de prevenção, educação ainda é o melhor remédio.
Saber de antemão se alguém tem predisposição para se tornar dependente ainda não é possível, apesar de haver indicativos de uma certa hereditariedade. Mas há formas de prevenção às drogas que podem ser adotadas no âmbito familiar e que amenizam, desde cedo, os riscos do primeiro contato com as drogas. Para prevenir crianças e jovens de terem acesso às drogas e ao risco de criarem dependência, bons exemplos, especialmente vindos dos pais.
Quando o assunto é prevenção às drogas, a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de Dependência Química da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e diretora da Espaço Clif, é taxativa: “Beber e fumar na frente das crianças devia ser até proibido, principalmente no ambiente familiar. O exemplo que vem de casa é fundamental para o futuro das crianças e jovens”.
Tratamento deve envolver a família
Supervisora do setor de Dependência Química da Santa Casa do Rio e também diretora da Espaço Clif, a psicóloga Elizabeth Carneiro reforça a questão familiar como fator importante de prevenção às drogas: “Cultivar a saúde e os bons hábitos em casa é muito importante”, recomenda. “A prática de exercícios físicos e passeios agradáveis em família e com amigos é um exemplo de atividade saudável, que fornece recompensas mais a médio e longo prazos e fortalece laços mais profundos de relacionamento, saindo da superficialidade”, afirma.
Sergio Castillo, diretor terapêutico da Clínica Grand House, diz que o papel da família é fundamental não só na prevenção às drogas, mas no processo de recuperação de um dependente químico. “O elo entre os membros de uma mesma família é uma peça chave durante o tratamento, pois, os laços de afeto vão contribuir para que os indivíduos busquem, juntos, a melhora daquela condição em que se encontram. Se a família não for tratada e não aderir 100% ao tratamento as chances de recuperação do dependente químico tornam-se muito reduzidas”.
Ele lembra que o grande estigma que a dependência química carrega é o do preconceito, principalmente se o portador faz parte das classes mais baixas. “As pessoas tendem a repelir aquilo que não compreendem e evitam contato, até mesmo por sentirem medo. Assim, já se cria uma barreira que coloca o usuário à margem da sociedade”, analisa.
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O perigo da recompensa instantânea
A psiquiatra Analice Gigliotti afirma: uma pessoa só pode ser levada à dependência química quando há recompensas instantâneas. Dessa forma, o cultivo de hábitos saudáveis, que levem a prazeres obtidos mais a médio e longo prazos – e não de forma imediata – funciona como uma espécie de proteção. O que acontece, de acordo com a especialista, é que a modernidade e a pós-modernidade fizeram o homem criar substâncias e processos que oferecem prazer cada vez mais instantâneo em diversos aspectos da vida, e que vão além das drogas.
Alimentos processados com maior teor de gordura e açúcares, lojas com trilha sonora alta e em ritmo acelerado que incentivam o consumismo, anúncios publicitários cada vez mais elaborados que tornam mais tentadores os processos de compra também aceleram a sensação de recompensa.
“Temos, no cérebro, a região subcortical, que faz parte do centro de recompensa e busca o prazer. Por outro lado, nosso córtex frontal, uma instância cerebral mais evoluída, atua como uma espécie de freio para esses prazeres. Ou seja: a parte mais primitiva diz ‘Eu quero’, e a outra diz ‘Não devo’”. Quando você alimenta uma, enfraquece a outra. Infelizmente, a sociedade está perdendo os freios”, explica Dra Analice.
Perfil da dependência química
A dependência química é uma doença crônica e multifatorial. Isso significa que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso da substância, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais. Antes de tratar, porém, é preciso ter conhecimento sobre qual o perfil do dependente químico e, dessa forma, conseguir auxiliar de forma efetiva.
“Não existe um tratamento universal, que sirva para todas as dependências nem para todos os indivíduos. Não existe uma ‘receita de bolo’. O tipo de ajuda mais adequado para cada pessoa depende de suas características pessoais, da quantidade e padrão de uso de substâncias e se já apresenta problemas de ordem emocional, física ou interpessoal decorrentes desse uso”, explica Castillo.
Segundo ele, por ser uma doença multifatorial, o ideal é que a avaliação e o tratamento do paciente envolva diversos profissionais da saúde, como médicos clínicos e psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros. “Quando diagnosticada, a dependência química deve ainda contar com acompanhamento a médio-longo prazo para assegurar o sucesso do tratamento, que varia de acordo com a progressão e gravidade da doença”.
A psicóloga Sabrina Presman, também diretora da Espaço Clif, confirma que o tratamento para largar o vício é multidisciplinar, e que a imersão numa clínica pode dobrar as chances de quem quer parar. “A internação auxilia também na reprogramação mental de quem quer superar o vício em cigarro. Orientamos sobre diversas técnicas para os pacientes se manterem longe do fumo, sendo que cada um tem uma prescrição conforme a sua realidade. Junto à medicação, mais o trabalho do nutricionista, evita-se com mais chances as recaídas”, diz a especialista em Dependência Química pela Uniad/Unifesp.
Com Assessorias