Gunda Windmüller, escritora (Foto: Divulgação)

Em pleno século 21, o conceito do amor romântico permanece reduzindo as mulheres a um parceiro, relegando às solteiras a condição de ‘coitadas’. Com base em estatísticas, digressões históricas e sociológicas, experiências pessoais e entrevistas com mulheres em idades entre 30 e 60 anos, a jornalista e escritora Gunda Windmülle desafia a falsa noção de que somente um relacionamento amoroso confere sentido à vida feminina.

Autora de Mulher, solteira e feliz, ela estreia no Brasil com o lançamento da obra pela Primavera Editorial, que destacamos na seção Ler Faz Bem desse especial do Mês dos Namorados. Em tempos de pandemia, o livro está disponível, inicialmente, na versão digital.

A ideia de escrever o livro surgiu, segundo a autora, quando terminou um relacionamento de anos e constatou que as pessoas próximas estavam realmente preocupadas com o presente e futuro dela: casamento, filhos, solidão à noite.

Essas preocupações me intrigaram, porque eu estava realmente feliz. Foi nesse momento que percebi o quanto uma mulher solteira desperta pena, inclusive de outras mulheres. Daí, decidi escrever um livro sobre isso!”, afirma Gunda.

Mestre em Literatura, ela afirma que a virada do século 19 para o 20 é considerada um marco de uma mudança significativa na linguagem do amor. É o momento histórico em que as mulheres começam a desempenhar um papel social no romance. Entretanto, nos livros, elas aparecem como figuras trágicas, seduzidas e traídas como Anna Karenina e Madame Bovary, respectivamente, personagens dos escritores Liev Tolstói e Gustav Flaubert.

As mentiras que a sociedade conta sobre as mulheres

Sobre a verdadeira investigação social que fez no processo de construção da obra, Gunda conta que se deparou com uma série de mentiras que a sociedade conta sobre as mulheres.

A principal é que precisamos nos apressar, porque a vida está prestes a acabar – o que não é verdade. Nós vendemos essa ideia da beleza desaparecendo com a idade; a noção de que tudo se reduz à aparência. Conversei com tantas mulheres na casa dos trinta que sentem, realmente, que as suas vidas estão apenas começando”, afirma.

Dividido em três blocos – Do Amor, Sobre as Mulheres, e Rumo à Liberdade –, a obra trás investigações sobre o relacionamento clássico; o que o amor fez com o feminino; ego e a realidade do desejo masculino; o conceito de single shaming (vergonha de ser solteira); envelhecer sozinha; o melhor de estar sozinha; e o único amor verdadeiro.

Melhor eu já confessar. Estou com trinta e poucos anos. Não sou casada. Não tenho filhos. Sou mulher, solteira e feliz. Suspeito que neste momento muitos começam a duvidar. Pensam que a última palavra não está correta? Mulher, solteira e feliz? À sua frente está a imagem de uma mulher reivindicando, de um jeito desafiador, algo que talvez ela possa sentir agora…” (Gunda)

Crítica ao papel feminino

Em Mulher, Solteira e Feliz há uma crítica ao papel feminino na construção desse comportamento em relação aos seus pares – e o quanto as mulheres podem fazer para que haja uma mudança social que promova uma real transformação.

“Se queremos mudar a narrativa sobre as mulheres, precisamos começar a falar de forma diferente; há uma demanda por sermos mais gentis conosco e com nossas irmãs. Por sermos mulheres, sempre pensamos que devemos ser perfeitas e, quando vemos outras de nós se comportando de maneira ‘não tão perfeitas’, somos rápidas em apontar o dedo, em culpá-las. Esse não é o caminho a seguir”, declara.

Sobre a mensagem que gostaria de trazer para as mulheres solteiras brasileiras, Gunda responde rapidamente: “Você é o suficiente! A sociedade fala continuamente que fala, às mulheres solteiras, um parceiro, uma família perfeita, o corpo certo. Mas, não precisamos de nada disso para sermos completas; somos o suficiente. Pratiquem o amor a si mesmas; esse é o amor que definitivamente vai durar até o fim”, finaliza.

TRECHOS DO LIVRO

Página 17 | “(…) O livro não será sobre como encontrar um homem. Neste livro não há um manual sobre como uma mulher fisga um homem e, se parecer, me avise… Vamos esclarecer isso. Este livro trata de histórias. Da minha, da sua, da nossa história. Conversei com mulheres que me contaram suas histórias. Mulheres na casa dos trinta, quarenta, cinquenta e mais. Histórias sem homens, histórias com homens. Conversei com psicólogos e especialistas em sociologia. E estive em um setor que utiliza o modelo descrito como modelo de negócios.

Com tudo isso, não quero enterrar o amor e declarar os homens como seres inúteis. De jeito nenhum! Prefiro libertar o amor. Quem liberta o amor não sabe aonde a história vai levar. Não sei como a minha história continua. Ainda assim, como outras histórias que relato, ela continua. Não sei se não estarei casada daqui a um ano. E mãe… Ou mãe. De qualquer forma, não importa. Não muda o fato de que minha história não precisa de um príncipe para ter um final feliz. Não acredito na moral desses contos de fadas. Acredito na vida e no poder das narrativas. E por isso nenhum príncipe surgirá por um motivo muito simples: porque ele não precisa surgir.”

Página 32 |“(…) Solteiras não têm boa reputação, ainda não. Os tempos mudam, mas mudam lentamente, muito lentamente. A psicóloga Astrid Schütz e seus colegas conduziram um estudo sobre atitudes em relação a solteiros. Os solteiros não estão em conformidade com a norma, desviam-se dela e não são vistos pelo que têm, mas pelo que não têm. Por aquilo que supostamente lhes falta.”

Página 61 e 62 |“(…) Para as mulheres, a sensação de serem livres no amor, de serem elas mesmas, de serem realmente alguma coisa é bastante nova. Tradicionalmente, tínhamos permissão para fazer muito pouco. Alguns exemplos: ocupar cargos públicos, votar, ganhar dinheiro, herdar – em sua maioria, essas realidades mudaram apenas nos últimos cem anos. O que mudou apenas nos últimos cinquenta anos é que as mulheres podem manter seu nome após o casamento, podem ter uma conta corrente própria, podem trabalhar sem a permissão do marido, e que o estupro no casamento é crime. E mesmo se o relacionamento estivesse em pé de igualdade, as mulheres não tinham esse direito. As mulheres também não tinham direito à escolha, a se apaixonar. As mulheres eram casadas e, no altar, não apenas simbolicamente o poder sobre elas era transferido do pai ao marido, mas juridicamente. Ainda hoje casa-se assim, mas sem a transferência de domínio. Mas o rito permanece: o pai pousa a mão da filha sobre a do homem. As latinhas e os sapatos velhos pendurados no para-choque do carro quando um casal recém-casado parte para a lua de mel são símbolos da violência que cabe ao marido. Toda mulher carrega essa história de falta de liberdade em seu véu de noiva, um véu pelo qual muitas mulheres anseiam.”

Single shaming: a vergonha de estar solteira

Por Lu Magalhães

Historicamente, as mulheres solteiras têm sido estigmatizadas em diferentes culturas; elas são enxergadas como um fardo para a comunidade – renegadas como se fossem indivíduos que não pertencem à coletividade. Em pleno século 21, essa estigmatização não cessou e mostra uma face inacreditável do atraso cultural que carregamos.

Essa é uma das conclusões de Gunda Windmüller (foto), mestre em Literatura e jornalista, autora do livro Mulher, solteira e feliz, lançado pela Primavera Editorial. Essa obra é bastante relevante, porque nos convida a refletir sobre a construção social que perpetua a falsa noção de que somente um relacionamento amoroso confere sentido à vida feminina.

Com base em estatísticas, digressões históricas e sociológicas, experiências pessoais e entrevistas com especialistas e mulheres em idades entre trinta e sessenta anos, Gunda traz um texto provocativo, consistente e que lança luz a conceitos e preconceitos que permeiam o tecido social. Um deles é o single shaming, em livre tradução: vergonha de estar solteira. Ela cunhou esse termo por defender que é mais fácil combater os problemas quando temos um nome para eles; com a nomeação de um preconceito é possível começar um processo de desconstrução.

O single shaming aborda, fundamentalmente, o que a mulher está perdendo. Supostamente, claro! É degradante porque as solteiras percebem – no olhar, no discurso e nas atitudes – a pena que a sociedade dedica a elas; esse sentimento acaba por contaminar o cotidiano delas, que passam a sentir pena de si mesmas. A frase padrão que ilustra esse comportamento é “você ainda vai encontrar o cara certo”. O mito do “cara certo” é brutal, porque passa a imagem que sem esse homem essa mulher é um ser incompleto.

O mais chocante é que obras adoradas por mulheres contribuem, cotidianamente, para disseminar esse conceito. O Diário de Bridget Jones e Sex and City são dois exemplos clássicos de como o single shaming se tornou socialmente aceitável, segundo Gunda Windmüller.

Por mais charmosa, ingênua e assoberbada que seja a heroína, seu final é inevitável. Seu final feliz. A pergunta era: Renée Zellweger ficará com Hugh Grant ou Colin Firth no final? Homem ou homem. Nada de Bridget”, afirma, no livro Mulher, solteira e feliz.

Em um trecho da obra, Gunda compara a imagem de homens solteiros versus mulheres solteiras. Em entrevista conduzida com Jean-Claude Kaufmann, o sociólogo afirma que “a solidão masculina pode ser complicada e difícil de suportar, mas é, essencialmente, um assunto privado.

Aqui está a grande diferença para as mulheres, para quem viver sozinha é ao mesmo tempo um assunto privado e público, algo que se torna interesse de toda a sociedade”, revela. Uma mulher que foge disso é uma ameaça; um homem, ao contrário, é um modelo de conduta. Um solteirão cobiçado.

Em Mulher, Solteira e Feliz há uma crítica ao papel feminino na construção do single shaming – e o quanto as mulheres podem fazer para que haja uma mudança social que promova uma real transformação.

Se queremos mudar a narrativa sobre as mulheres, precisamos começar a falar de forma diferente; há uma demanda por sermos mais gentis conosco e com nossas irmãs. Por sermos mulheres, sempre pensamos que devemos ser perfeitas e, quando vemos outras de nós se comportando de maneira ‘não tão perfeitas’, somos rápidas em apontar o dedo, em culpá-las. Esse não é o caminho a seguir”, declara a autora.

Acredito, sinceramente, na importância da leitura no processo de reflexão – que dará início a um questionamento social essencial para construirmos um novo repertório sobre as mulheres. Por isso, convido as mulheres a lerem Mulher, solteira e feliz. Vamos ampliar o debate?

*Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.

SOBRE A AUTORA

Doutora em Literatura, a escritora Gunda Windmüller nasceu em 1980, na Alemanha. Como jornalista freelancer, colabora com publicações como Die Welt, ze.tt e Huffpost.

FICHA TÉCNICA

Título:  Mulher, solteira e feliz

Autora:  Gunda Windmüller

Páginas:  272

Preço sugerido: R$ 29,90 (digital)

Como deixar o coração no ‘modo avião’

“Deixei meu coração em modo avião. Hoje não quero criar expectativas, controlar o que não posso, me culpar por aquilo que não depende só de mim.” Quem nunca quis simplesmente desligar os sentimentos para que aquela saudade não doesse tanto, aquela ausência não machucasse ao extremo e que a raiva e o rancor não tomassem conta do coração?

Viver é uma intensa montanha russa de emoções e lidar com tudo isso é um aprendizado. Saber muitas vezes deligar a dor, abafar a tristeza e preencher a solidão tem um segredo: colocar o coração em modo avião e deixar a vida te surpreender.

Lançado pouco antes da pandemia pela Faro editorial, “Deixei meu coração em modo avião” é o quarto livro de Fabiola Simões, criadora da página “A soma de todos os afetos”, que tem hoje mais de 2,5 milhões de seguidores. Conhecida por seus textos leves e tão verdadeiros, que falam ao coração de pessoas de todas as idades, revelando dores e amores que todos nós já vivenciamos e que Fabíola traduz através de crônicas.

Amores, amizades, solidão, solitude, amor próprio, paciência, resignação, força e descobrimento, são alguns dos tópicos que permeiam os textos de Fabíola e que fazem o leitor se reconhecer em cada uma das linhas.

Fabíola reflete sobre uma das atitudes mais difíceis quando falamos de sentimentos: a paciência. Aprender a esperar o momento de agir, da dor amenizar, da ferida sarar e da saudade deixar de doer. Este livro vai falar ao coração de cada leitor de uma forma única e especial e fazer um convite, deixar o coração se acalmar e esperar que a vida te surpreenda.

“Guiado por um olhar doce e observador, você vai se enriquecer com os aprendizados, fazer uma pausa e pensar sobre suas próprias experiências, as mais corriqueiras e as mais marcantes, as que deixaram saudade e as que deixaram feridas que não veem a hora de ser curadas, as que foram vividas e as que você viverá a partir de agora. Boa leitura!” – Liliane Prata, escritora

Sobre a autora

Desde que me lembro, escrever é, para mim, despir-me. Ao mesmo tempo que encontro cura nas palavras, elas me desafiam a ter coragem. Coragem de me desabrigar, de me desproteger, de tornar-me vulnerável. Em 2012, senti o impulso de criar o blog “A Soma de todos os Afetos”. O blog cresceu, e hoje conta com mais de 2,5 milhões de seguidores no Facebook e mais de 150 mil no Instagram. De lá pra cá também lancei dois livros e um canal no YouTube.

Dentista há mais de 20 anos, divido meu tempo entre trabalhar num Centro de Saúde, escrever e estar ao lado daqueles que amo. Mineira de Itajubá, casada há dezoito anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, gosto de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas”, afirma Fabíola.

Título: Deixei meu coração em modo avião

Autora: Fabíola Simões

Páginas: 272

Preço: R$ 49,90

Com Assessorias

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