O câncer é a primeira causa de morte por doença em crianças e a segunda causa de óbito em geral, depois dos acidentes. Os dados mais recentes, de 2020, revelam que foram registrados 2.280 óbitos em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos no Brasil. Isso ocorre porque o tempo entre a percepção de sintomas e a confirmação diagnóstica do câncer infantojuvenil é longo e por isso muitos pacientes chegam ao tratamento em fase avançada da doença.
Por isso, no dia 15 de fevereiro, o mundo volta seus olhares para o Dia Internacional da Luta contra o Câncer Infantil. Criada em 2002 pela Childhood Cancer International (CCI). A data simboliza uma campanha global de conscientização sobre a doença que, a cada três minutos, vitima uma criança no mundo, além de apoiar crianças e adolescentes com a doença e seus familiares.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Iniciativa Global para o Câncer na Infância, coloca o combate ao câncer infantil como prioridade e planeja alcançar uma taxa de sobrevivência de, pelo menos, 60% até 2030, o dobro da taxa de cura atual, podendo salvar a vida de mais de um milhão de crianças nos próximos dez anos.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que no triênio 2023/2025 ocorrerão, a cada ano, 7.930 novos casos de câncer em crianças e jovens de 0 a 19 anos de idade.De acordo com dados da OMS, cerca de 300.000 crianças são diagnosticadas com câncer todos os anos no mundo.
Desigualdade nas chances de cura
O Inca estima que, apenas em 2022, cerca de 8.460 novos casos de câncer infanto-juvenis foram diagnosticados no Brasil. Entre os tipos mais comuns de câncer infantojuvenil estão leucemia, linfoma e tumores do sistema nervoso central. Estes últimos são os mais comuns entre os tumores infantis, representando cerca de 25%, e é o tipo que mais causa morte.
De acordo com pesquisa realizada pelo Inca, cerca de 80,8% dos pacientes que iniciaram o tratamento da doença chegaram ao hospital sem diagnóstico. Apesar dos avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento da doença, há desigualdade nas chances de cura do câncer infantojuvenil, alerta o Instituto Ronald McDonald, que atende crianças vítimas da doença e seus familiares.
Segundo levantamento do Inca, enquanto as chances médias de sobrevivência nas regiões Sul do Brasil são de 75% e na região Sudeste são de 70%, nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte elas são de 65%, 60% e 50% respectivamente. Saiba mais aqui.
Nos países de alta renda, entre 80% e 85% das crianças acometidas por câncer podem ser curadas atualmente. No Brasil, o percentual é mais baixo e variável entre as regiões, mas apresenta média de cura de 65%. “É menos do que nos países de alta renda porque muitas crianças já chegam aos centros de tratamento com sinais muito avançados”.
Câncer em criança é diferente do tumor no adulto
A oncologista pediátrica do Inca Sima Ferman, chefe da Seção de Pediatria, lembrou que atualmente a doença é altamente curável. “Essa é a principal informação que a gente tem”, disse em entrevista à Agência Brasil. Segundo ela, a incidência de câncer vem aumentando lentamente ao longo dos anos, ele começa a aparecer como causa importante de doença em criança. “Como nem todas são curadas, a doença pode ter, na verdade, um percentual de mortalidade infantil também.
Para a oncologista, a doença é muito séria, mas trouxe, ao longo dos anos, uma esperança de busca pela vida. Há possibilidade de cura, se o paciente é diagnosticado precocemente e tratado nos centros especializados de atenção à criança.
Tumores em crianças são diferentes dos que acometem pessoas adultas. “Adulto tem muito carcinoma, tumores de células diferenciadas”, explica a médica do Inca. Segundo ela, os tumores de crianças são diferentes. Embora esses três tipos sejam mais frequentes, existe uma gama de tumores, como os embrionários, que ocorrem nos primeiros anos de vida. São exemplos os da retina, de rim, de gânglio simpático.
“São tumores que acontecem, mais frequentemente, em crianças menores. Mas todos eles são muito diferenciados e respondem bem ao tratamento quimioterápico, normalmente. Essa é a principal informação que a gente tem para dar nesse dia tão importante”, reiterou a especialista.
Alerta: ‘criança não inventa sintoma’
Sima Ferman reafirmou que o diagnóstico precoce é muito importante. Por outro lado, admitiu que esse diagnóstico é, muitas vezes, difícil, tendo em vista que sinais e sintomas se assemelham a doenças comuns de criança. O Inca faz treinamento com profissionais de saúde da atenção primária para alertá-los da importância de uma investigação mais profunda, quando há possibilidade de o sintoma não ser comum e constituir doença mais séria.
Sima lembrou que criança não inventa sintoma e os pais devem sempre acompanhar a consulta e o tratamento dos filhos e dar atenção a todas as queixas feitas por eles, principalmente quando são muito recorrentes e permanecem por um tempo. “É importante estar alerta porque pode ser uma coisa mais séria do que uma doença comum”.
Podem ser sinais de tumores em crianças uma febre prolongada por mais de sete dias sem causa aparente, dor óssea, anemia, manchas roxas no corpo, dor de cabeça que leva a criança a acordar à noite, seguida de vômito, alterações neurológicas como perda de equilíbrio, massas no corpo. “São situações em que é preciso estar alerta e que podem levar a pensar em doença como câncer”.
Para os profissionais de saúde da atenção primária, especialmente, a médica recomendou que devem levar a sério as queixas dos pais e das crianças e acompanhar o menor durante todo o período até elucidar a situação para a qual a criança foi procurar atendimento. “E, se for o caso, fazer exames mais profundos e ver se há alguma doença que precisa ser tratada”.
Para cada criança, um tratamento diferente
Para cada tipo de câncer, os oncologistas do Inca procuram estudar a biologia da doença, para dar um tratamento que possa levar à chance de cura, com menos efeitos no longo prazo.
“Para conseguir isso, temos que saber especificamente como a doença se apresentou à criança e, muitas vezes, as características biológicas do tumor. Isso vai nos guiar sobre o tratamento que oferece mais ou menos riscos para esse paciente ficar curado e seguir a vida”, destaca a médica.
Em geral, o tratamento de um câncer infantil leva de seis meses a dois anos, dependendo do tipo de doença apresentada pelo paciente. Após esse prazo, a criança fica em acompanhamento, ou “no controle”, por cinco anos. Se a doença não voltar a se manifestar durante esses cinco anos, pode-se considerar o paciente curado.
“Cada vez, a chance de a doença voltar vai diminuindo mais. A chance é maior no primeiro ano, quando termina o tratamento, e vai diminuindo mais e mais”, disse a oncologista pediátrica.
Cuidados paliativos são essenciais no tratamento de câncer em crianças
Assim como o tratamento, a cura e o combate, os cuidados paliativos têm um papel importante na vida da criança diagnosticada com câncer. A taxa de mortalidade do câncer no público infantil no Brasil é duas vezes maior do que nos Estados Unidos, de acordo com dados do Instituto Desiderata.
O Inca aponta que 80% dos casos em crianças podem ser curados, caso sejam diagnosticados precocemente. Dentro disso, por não ser possível que todas sobrevivam, os cuidados paliativos se tornam uma forma de prover o atendimento adequado do diagnóstico ao desfecho da condição.
Nesses casos, é essencial que o suporte para a criança e para a família seja multidisciplinar e possa abranger o físico, emocional, espiritual e social, assim como o apoio às famílias quanto ao luto pela perda. Também é função dos cuidados paliativos mediar os conflitos sobre as decisões de fim de vida, que no caso do paciente infantil, podem ser ainda mais complicadas.
Para pacientes oncológicos, especialmente crianças, a qualidade de vida durante o cuidado e tratamento com a doença é essencial para que os momentos de vida com a doença sejam os mais pacíficos possíveis.
Pensando a partir do ponto de tornar o tempo de vida mais qualitativo ao invés de prolongar a sobrevida por meio de tratamentos invasivos, é preciso ressaltar que a luta contra o câncer – marcada pelo dia 15 de fevereiro –, em casos terminais, também pode ser a oportunidade de viver bem o tempo que se tem.
Cuidados paliativos no Brasil
De acordo com o Inca, a prática de cuidados paliativos pediátricos foi definida em 1998 como assistência prestada a pessoas com doença crônica e/ou ameaçadora da vida. No Brasil, os cuidados paliativos ainda não são acessíveis para todos, especialmente pela falta de medicamentos para combater a dor.
Uma das formas de aumentar as chances de cura da condição no público infantil é manter os exames da criança em dia, desse modo, o câncer será identificado nos primeiros estágios, o que facilita a recuperação. Além disso, segundo um relatório do governo federal, dos pacientes, em cuidado paliativo, 34% têm algum tipo de câncer.
O cenário dessa assistência no país é de avanço, mas também de estigma. Embora os pacientes que necessitam dessa prática tenham aumentado, segundo a OMS, a valorização do indivíduo frente à doença é um debate na saúde quando se trata dos cuidados paliativos.
A tendência é de que essa assistência seja cada vez mais procurada por conta do envelhecimento da população e por uma busca maior das pessoas em preservar a qualidade de vida durante todas as fases da doença.
Medicina genética pode direcionar melhor o tratamento
Receber o diagnóstico do câncer infantil assusta pais e familiares, mas o tratamento, quando iniciado de forma precoce, influencia positivamente nas chances de cura. Por isso, o avanço do diagnóstico precoce é essencial para o aumento das chances de cura e da escolha do tratamento personalizado. A medicina de precisão é capaz de identificar as características genéticas de cada tumor, fazendo com que um mesmo tipo de câncer tenha características específicas, a depender do organismo.
“A personalização do tratamento é uma das principais recomendações para o combate à doença, principalmente quando se trata de quadros mais raros e mais agressivos. Nesses casos, é preciso analisar os antecedentes pessoais do paciente e o histórico familiar em busca de possíveis patologias que podem predispor geneticamente o paciente ao desenvolvimento de câncer”, diz a Ana Claudia Carramaschi Villela Soares, hematologista pediátrica da Dasa Genômica, braço genômico da Dasa.
Segundo ela, pode acontecer de existir o mesmo tumor, no mesmo local, e a terapia escolhida ser totalmente diferente, porque as condições genéticas são outras. “Cada indivíduo é único e os testes genéticos auxiliam na indicação do melhor tratamento para cada paciente”, complementa a especialista.
A Dasa Genômica acaba de trazer ao Brasil o teste MethylBrain, uma ferramenta poderosa no auxílio ao diagnóstico dos tumores cerebrais, possibilitando sua classificação de forma mais precisa, refinada e capaz de fornecer informações muito importantes para auxiliar nas decisões de tratamento e seguimento desses pacientes.
Com Agência Brasil e Assessorias