Enquanto os ecos do massacre do último dia 28 de outubro ainda ressoam nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, onde 121 vidas foram ceifadas na mais letal operação policial da história do Brasil, uma luz de esperança e cuidado persiste. Em vez de tiros e o temor de balas perdidas, profissionais de saúde continuam a levar assistência vital à população no Complexo do Alemão.
A Carreta da Saúde, um serviço móvel recém-lançado pelo programa “Agora Tem Especialistas”, do Ministério da Saúde, mantém sua atuação na comunidade, um símbolo de resistência e compromisso em meio à adversidade. Ao Portal VIDA E AÇÃO, durante o Rio Health Fórum — evento paralelo à Fisweek25 —, o secretário executivo da pasta, Adriano Massuda, garantiu a permanência do serviço.
Representando o titular Alexandre Padilha, que está em viagem África do Sul, o ministro da Saúde em exercício confirmou que a Carreta da Saúde já estava presente no território antes da chamada ‘Operação Contenção’, e sua missão não será interrompida. Questionado sobre a oferta do serviço em áreas distantes e, por vezes, conflagradas pelo tráfico, milícias ou alvo de operações policiais, ele foi enfático, como reiterado em entrevista, publicada no nosso canal do YouTube:
Nós não fazemos nenhuma discriminação. A Carreta da Saúde vai continuar no Alemão. A gente tem por princípios do SUS o acesso universal, integral, e de equidade. E é onde o SUS mais tem que estar presente. É onde as pessoas mais precisam do SUS. Então, esse é um compromisso do governo do presidente Lula e do Ministério da Saúde.”
As unidades de saúde móveis circulam por lugares com falta de médicos ou onde eles nem podem entrar, por questão de segurança, fruto da falta de políticas públicas dos estados, como é o caso do Alemão. Segundo ele, o serviço será levado a outros municípios, em parceria com prefeituras e governos estaduais.
No Estado do Rio, além do Complexo do Alemão, o serviço itinerante permanece estacionado em Japeri, cidade da Baixada Fluminense, que tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Na carreta, são oferecidas consultas e exames à população (saiba mais ao final do texto),
Confira a entrevista com Adriano Massuda em nosso canal no Youtube:
‘Agora Tem Especialistas’, um marco de inovação para o SUS
‘É a política mais inovadora do SUS em 35 anos’, diz ministro em exercício
Durante o evento, ministro da Saúde em exercício fez um balanço das inovações implementadas ao longo dos 35 anos do Sistema Único de Saúde, destacando o lançamento recente do programa Agora Tem Especialistas. Na entrevista veiculada em nosso canal do YouTube, Massuda aprofundou os detalhes do programa “Agora Tem Especialistas”, destacando-o como a política mais inovadora do SUS em 35 anos, especialmente desenhada para enfrentar as lacunas na atenção especializada.
É uma política de saúde que o presidente Lula nos trouxe, ele nos apresentou dois grandes desafios: recuperar as coberturas vacinais e combater a desinformação, e enfrentar as lacunas na atenção especializada, que era o maior gargalo do SUS.”
Durante seu discurso na abertura oficial do Rio Health Fórum, o secretário executivo do Ministério de Saúde detalhou o mecanismo inovador que permite a expansão da oferta de serviços:
O programa cria uma nova moeda para o SUS. Ele permite que hospitais filantrópicos e privados paguem dívidas ou troquem créditos tributários federais futuros pela prestação de serviços à rede pública. É um dinheiro novo para o sistema, uma inovação importante. Também implementamos a troca do ressarcimento feito pelas operadoras de planos de saúde pela execução direta de atendimentos, o que aprofunda a integração entre o público e o privado. Isso coloca o sistema de saúde brasileiro em outro patamar.”
Massuda enfatizou que a iniciativa é fundamental para um país de dimensões continentais como o Brasil, transformando o sistema de saúde em um modelo capilarizado e democratizando o acesso e uso de recursos. As unidades de saúde móveis circulam por lugares com falta de médicos ou onde eles nem podem entrar, por questões de segurança, como é o caso do Alemão e de Japeri, na Baixada Fluminense, que possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.
Reestruturação dos hospitais federais do Rio de Janeiro
Ainda durante a entrevista ao Vida e Ação, Massuda destacou os esforços do Governo Federal para recuperar os hospitais federais do Rio de Janeiro, que passava por uma grave crise estrutural e de gestão.
Os hospitais de hoje são muito diferentes dos hospitais há dois anos atrás. Hospitais como Bonsucesso e Andaraí, que foram fiscalizados, estão passando por um processo de reestruturação predial e de equipes que vão fazer com que essas unidades deem um atendimento em maior quantidade e qualidade para a população.”
Ele citou as novas estratégias de gestão, que incluem parcerias:
Estamos em vias de começar a operação com a EBSERH no Hospital dos Servidores e também no Hospital da Lagoa. Isso [a reestruturação] é fruto de todo o empenho do governo federal em colaboração com o governo municipal, Fiocruz, Grupo Hospitalar Conceição e EBSERH nesse processo de reestruturação dos hospitais federais.”
Transparência na compra de medicamentos de alto custo
Durante três dias, entre 5 e 7 de novembro, o Rio Health Fórum reuniu as principais autoridades, lideranças e especialistas do setor para discutir desafios e oportunidades para ampliar o acesso da população à saúde. Em entrevista à imprensa no fim da cerimônia, ele falou sobre a compra sigilosa de medicamentos de alto custo pelo SUS e e ressaltou a complexidade do cenário atual.
Hoje a gente lida com medicamentos que estão num patamar de preços que ameaça a sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro. E são medicamentos importantes, que trazem ganhos terapêuticos. Então, nós temos que construir mecanismos que deem transparência para os auditores controlarem a compra, mas que possam não publicizar (divulgar o preço do remédio), porque isso tem um impacto na dinâmica de mercados globais, pois um determinado valor serve de parâmetro global.
Segundo ele, o governo federal busca entendimentos com o Tribunal de Contas da União (TCU) para ampliar a oferta de medicamentos, garantindo segurança jurídica e transparência. “A gente está em discussão com o TCU para que possamos ter ampliação da oferta de medicamentos de qualidade, com segurança jurídica e transparência”, disse, sem estipular um prazo para a adoção do novo sistema.
A Fisweek reúne iniciativas e debates sobre inovação, criatividade e tendências na área da saúde. O Ministério da Saúde marcou forte presença no evento com estandes de cinco iniciativas: o programa Agora Tem Especialistas, o Instituto Nacional de Cardiologia (INC), o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e a Fiocruz.
SUS como exemplo mundial de inovação social
Em seu discurso durante o evento, o ministro em exercício disse ainda que o diálogo e a cooperação são essenciais para enfrentar os desafios da saúde no Brasil e consolidar o SUS como exemplo mundial de inovação social.
É muito positivo ver a consolidação deste fórum como um espaço de articulação, encontro e debate sobre o futuro da saúde. O SUS representa uma das maiores inovações sociais do mundo — fruto de luta e transformação — e garante o acesso igualitário à saúde no Brasil.”
Massuda disse ainda que, apesar dos avanços, nosso desafio era ir além. “O presidente Lula nos apresentou dois grandes desafios: recuperar as coberturas vacinais e combater a desinformação; e enfrentar as lacunas na atenção especializada. O Agora Tem Especialistas nasce dessa necessidade e traz um conjunto de inovações que tornam o SUS ainda mais forte”, afirmou.
Inovações na atenção primária e especializada
Outro avanço, conforme Massuda, foi em relação à Política Nacional de Atenção Especializada, que estabeleceu novas bases para o desenvolvimento da atenção especializada, alinhadas com os princípios do SUS, visando construir parcerias público-privadas sustentáveis que atendam ao interesse público. A PNAES trouxe inovações importantes nos mecanismos de financiamento do cuidado especializado, incluindo as ‘Ofertas de Cuidados Especializados’.
O SUS também se destacou pela inovação na organização de serviços colocando o Brasil como pioneiro na implementação de equipes multiprofissionais de saúde. “A Atenção Primária no Rio de Janeiro, com a introdução das equipes de Saúde da Família, representou uma revolução. Esse modelo inovador assegura que populações atendidas por equipes de saúde da família recebam melhores cuidados”, afirmou.
Sobre o programa Agora Tem Especialistas, o ministro explicou ainda que a iniciativa cria novos mecanismos de financiamento e amplia a capacidade de resposta do SUS às demandas da população. “Os hospitais filantrópicos e privados podem quitar dívidas ou trocar créditos tributários federais futuros pela prestação de serviços à rede pública”, disse.
É um dinheiro novo para o sistema, uma inovação importante. Também implementamos a troca do ressarcimento feito pelas operadoras de planos de saúde pela execução direta de atendimentos, o que aprofunda a integração entre o público e o privado. Isso coloca o sistema de saúde brasileiro em outro patamar”, explicou Massuda.
Sobre o programa Agora Tem Especialistas
O programa Agora tem Especialistas busca ampliar a oferta de atendimentos na rede pública em todo o país, reduzindo o tempo de espera por consultas, exames e cirurgias. Criado para apoiar estados e municípios e desafogar a demanda reprimida, é uma das principais estratégias do governo federal para reduzir desigualdades regionais no acesso à atenção especializada em saúde.
Entre suas iniciativas estão 29 carretas da Saúde da Mulher em funcionamento em todas as regiões do país (27 estados e o DF), oferecendo mamografias, colposcopias e biópsias. Até 2026, o programa pretende levar 150 carretas para locais de difícil acesso e cidades-polo.
Na área oncológica, por exemplo, outro avanço do programa foi a entrega de um acelerador linear em Blumenau (SC), com capacidade para atender 600 novos casos de câncer por ano, entre os 121 equipamentos que serão entregues até o fim de 2026, beneficiando mais de 84,7 mil novos pacientes.
Na modalidade crédito-financeiro, 12 hospitais privados e filantrópicos aderiram ao programa, com possibilidade de conversão de até R$ 2 bilhões por ano em dívidas ou créditos tributários futuros em atendimentos adicionais para usuários do SUS. A participação da rede privada complementa o programa, inclusive operadoras de planos de saúde podem participar por meio da modalidade ressarcimento ao SUS.
Com informações do Ministério da Saúde, fisweek e Estadão






