A chegada à rede pública da vacina contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador da bronquiolite em bebês, representa um marco para a saúde materno-infantil, segundo especialistas. Para a pediatra Mariana Bolonhezi, democratizar o acesso à prevenção é fundamental em um país com grande diversidade socioeconômica.

A inclusão da vacina contra o VSR no SUS é um avanço significativo. A bronquiolite é uma das principais causas de internação em bebês e, com a imunização gratuita, ampliamos a proteção e reduzimos desigualdades. Significa que mais crianças, independentemente da renda da família, terão a chance de começar a vida com mais segurança”, afirma.

A ginecologista e obstetra Camila Bolonhezi destaca que a vacinação da gestante tem impacto direto e imediato na proteção do recém-nascido. “Ao imunizar a gestante após a 28ª semana, garantimos a transferência de anticorpos para o bebê ainda na gestação. Isso oferece uma defesa essencial nos primeiros meses de vida, período em que o sistema imunológico é imaturo e as infecções respiratórias podem evoluir rapidamente para quadros graves”, explica.

Ela reforça ainda que a tecnologia aplicada no imunizante é segura e bem avaliada: “É uma estratégia amplamente estudada, recomendada internacionalmente e que representa uma grande conquista para a saúde pública brasileira”.

Para a pediatra Mariana Bolonhezi, a proteção coletiva também é um benefício importante da nova política pública.

“A vacinação reduz a circulação do vírus na comunidade e diminui o número de hospitalizações. Isso alivia o sistema de saúde e melhora a qualidade de vida das famílias, que deixam de enfrentar episódios graves e recorrentes de bronquiolite na primeira infância”, completa.

Com a distribuição do primeiro lote, estados e municípios iniciam agora o processo de planejamento para vacinação, que deve começar ainda este ano. A expectativa é que a nova estratégia fortaleça a prevenção de infecções respiratórias e reduza significativamente a incidência de casos graves de bronquiolite em todo o país.

Fabricante da vacina garante segurança e eficácia

A vacina Abrysvo, desenvolvida pela Pfizer e incorporada neste ano ao Calendário Nacional de Vacinação da Gestante, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), foi aprovada no Brasil em abril de 2024, para a prevenção de doenças provocadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR), principal causa de infecções respiratórias graves em crianças pequenas.

A aprovação regulatória de Abrysvo no Brasil foi baseada em resultados que demonstraram a eficácia e a segurança da vacina durante os estudos realizados em seu programa de desenvolvimento clínico. No estudo de fase 3 para a indicação materno-fetal, a vacina se mostrou capaz de prevenir 82,4% das formas graves de doenças respiratórias causadas pelo VSR em crianças de até 3 meses de idade, porcentagem que se mantém elevada, em 70%, para bebês até os 6 meses.

Mais de 7 mil gestantes participaram do estudo, envolvendo 18 centros de pesquisa, sendo quatro deles localizados no Brasil: dois no Rio Grande do Sul, um em Santa Catarina e um no interior de São Paulo. “Quando a mãe recebe a vacina, os anticorpos produzidos por ela atravessam a placenta, fortalecendo o organismo do bebê, cujo sistema imunológico ainda está em desenvolvimento”, explica a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro.

Vale destacar que o desenvolvimento de vacinas para gestantes é considerado prioritário pela Organização Mundial de Saúde, podendo reduzir as taxas de mortalidade infantil, aliviar a sobrecarga hospitalar e evitar o forte impacto das doenças para as famílias”, complementa Adriana.

A chegada do imunizante ao SUS ocorre a partir da assinatura de um acordo entre a Pfizer e o Instituto Butantan para a transferência de tecnologia, com foco na fabricação nacional da vacina. “Com esse movimento, reforçamos o compromisso da Pfizer de trabalhar para ampliar o acesso dos brasileiros a inovações que respondam aos grandes desafios de saúde do nosso tempo”, complementa Adriana.

A indicação materno-fetal de Abrysvo incorporada ao PNI contempla aplicação de dose única, a partir da 28ª semana de gestação, de modo que as crianças já nasçam imunizadas contra o VSR.

A chance de apoiar o governo na proteção contra um vírus tão impactante para as famílias como o VSR nos enche de orgulho. A vacina tem o potencial de prevenir cerca de 28 mil internações por ano, o que também representa um grande benefício para o sistema de saúde como um todo”, afirma a diretora médica.

Paralelamente à chegada da indicação materno-fetal do imunizante à rede pública, Abrysvo também vem sendo disponibilizada pelos centros e clínicas de vacinação particulares do Brasil, desde setembro de 2024, tanto para as gestantes elegíveis (de 24 a 36 semanas de gestação, conforme a aprovação regulatória no Brasil), quanto para os idosos.

Atualmente, Abrysvo é a única vacina aprovada no Brasil para imunização dos três grupos populacionais mais vulneráveis às infecções pelo VSR: bebês, idosos e adultos com comorbidades. Outras vacinas estão em processo de aprovação pela Anvisa e Conitec.

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Cenário epidemiológico da bronquiolite no Brasil e no Rio

Os dados mais recentes para o ano epidemiológico de 2025 apontam que o VSR se manteve como a causa mais frequente de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil, detectado em 39% dos diagnósticos com resultado positivo para algum vírus respiratório. Ao longo do ano, as crianças pequenas, menores de 2 anos, concentram os casos de hospitalizações provocadas pelo vírus.

A forte presença do VSR no cenário epidemiológico brasileiro reforça os dados da literatura médica sobre o tema. Nos menores de 2 anos de idade, o VSR é responsável por até 40% das pneumonias e 75% dos quadros de bronquiolite – uma inflamação aguda das ramificações que conduzem o ar para dentro dos pulmões, podendo causar quadros graves, que demandam internação.

Globalmente, infecções por VSR também constituem uma das principais causas de mortes em bebês. Altamente contagioso, o VSR está associado a surtos em ambientes hospitalares, sobretudo em unidades neonatais, com elevada morbimortalidade. Estima-se que o VSR seja responsável por 66 mil a 199 mil mortes por ano em menores de 5 anos no mundo.

Em 2025, até outubro, o vírus sincicial respiratório foi responsável por 1.563 casos de SRAG na cidade do Rio, sendo 55% dos casos em crianças menores de seis meses. No ano passado, o Brasil registrou mais de dois mil óbitos infantis em decorrência da bronquiolite, além de mais de 120 mil internações. Somente na cidade do Rio de Janeiro, mais de 1.500 crianças foram hospitalizadas devido à doença.

O imunizante VSR A e B (recombinante) é inativado e permite a prevenção, além da bronquiolite, também de outras doenças respiratórias causadas pelo vírus em recém-nascidos. A proteção se dá pela transferência de anticorpos produzidos pela mãe para seu bebê durante a gestação, protegendo-o contra formas graves da doença nos primeiros seis meses de vida.

Para ampliar a proteção, a vacina é disponibilizada no Calendário de Vacinação da Gestante, de acordo com as diretrizes do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Ela pode ser aplicada junto com outras vacinas, como influenza, covid-19 e dTpa adulto, facilitando a imunização e a atualização da caderneta da gestante.

Com Assessorias

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