Uma das doenças que tem afetado muitas mulheres no Brasil passou agora a ser mais conhecida do grande público: o lipedema, muitas vezes confundido com sobrepeso ou obesidade. Trata-se de uma doença crônica,  progressiva e sistêmica, caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo subcutâneo, isto é, de gordura, que se concentra principalmente nas pernas e braços, com exceção das mãos e dos pés, causando dor na região afetada.

O lipedema tem ganhado cada vez mais destaque na mídia, nas redes sociais e nos consultórios médicos. especialmente após famosas compartilharem suas experiências com a doença.  A modelo Yasmin Brunet, a repórter Juliana Massaoka, a ex-BBB Amanda Djehdian e a influenciadora Luana Andrade são alguns nomes, trazendo visibilidade ao lipedema, uma doença crônica que afeta milhões de mulheres e está associada ao acúmulo anormal de gordura e inchaço, principalmente nas pernas..

Luana, inclusive, veio a óbito depois de se submeter à lipoaspiração no joelho, por um quadro de embolia em seu pós-operatório. Desde então muito se tem falado sobre o diagnóstico desta condição, que ganhou oficialmente um CID – Classificação Internacional de Doenças – apenas em 2022, apesar de seus primeiros registros científicos terem sido feitos ainda na década de 1940.

Entre os casos mais conhecidos, está o da modelo e influenciadora Yasmin Brunet, que se queixava de inchaço e constantes dores nas pernas ao participar de um reality show e, no fim do ano passado, anunciou ter feito um tratamento com exercícios físicos e mudanças na alimentação, o que resultou em alívio das dores e perda de cerca de 15 quilos.

Essa visibilidade tem ajudado a informar e conscientizar muitas mulheres sobre os sinais e sintomas do problema, que afeta predominantemente o público feminino. O motivo principal é por ter sido um assunto discutido entre algumas influenciadoras e celebridades.

Em fevereiro deste ano, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) elaborou e publicou, em sua revista científica Jornal Vascular Brasileiro, o documento Consenso Brasileiro de Lipedema pela metodologia Delphi, que apresenta informações e estabelece diretrizes claras para o diagnóstico, o tratamento e o manejo da doença.

Estimativa recente aponta que o lipedema atinge entre 10% e 18% das mulheres no mundo, incluindo pelo menos 9 milhões de mulheres no Brasil. De acordo com o Instituto Lipedema Brasil, no país, mais de 5 milhões de mulheres podem ter a doença e não sabem. A nível mundial, 10% das mulheres convivem com a doença.

10 curiosidades sobre o lipedema

Marcela Rassi, médica endocrinologista e professora da Pós Graduação em Endocrinologia da Sanar e Afya apresenta 10 curiosidades sobre o lipedema:

1- Apesar de ser uma doença até então pouco conhecida, ela é mais comum do que se imagina: cerca de 11% das mulheres no mundo são diagnosticadas com lipedema, embora o número possa ser ainda maior. Os dados são ainda incertos por conta da demora ou do não-diagnóstico em muitos dos casos;

2- Lipedema NÃO é resultado de maus hábitos alimentares: muitos acreditam que o excesso de gordura seja proveniente da má alimentação, tal qual a obesidade. Não, o diagnóstico não está relacionado a hábitos alimentares inadequados. Mesmo mulheres que mantêm uma dieta saudável e praticam exercícios regularmente podem desenvolver a condição devido a fatores genéticos e hormonais;

3- Lipedema e Linfedema não são a mesma doença: ainda que as duas doenças apresentem o inchaço como sintoma, lipedema e linfedema têm causas distintas. O lipedema envolve o acúmulo de gordura, enquanto o linfedema é causado pelo acúmulo de líquido linfático. Importante dizer que os dois podem acontecer simultaneamente, agravando sintomas e incômodos;

4- Os hormônios femininos estão diretamente relacionados com a doença: períodos de grandes mudanças hormonais – puberdade, gravidez ou menopausa, podem ser cruciais no desenvolvimento do lipedema ou progressão do quadro, já que é direta a relação entre os  hormônios femininos e o desenvolvimento da doença;

5- Sinais e sintomas são bastante distintos: podem incluir dor e sensibilidade nas áreas afetadas, formação de hematomas, aparência desproporcional das pernas e braços em comparação com o resto do corpo, inchaço anormal, sensação de cansaço e peso nas pernas, perda de mobilidade. A pele também pode parecer mais fria ao toque e apresentar textura irregular;

6- Além do impacto físico, lipedema causa impacto na saúde mental: o estado constante de dor crônica e as alterações físicas que trazem consigo o lipedema podem afetar diretamente a saúde mental. Não é incomum em pacientes diagnosticadas com lipedema o desenvolvimento de quadros de depressão, ansiedade e transtornos de imagem;

7- O diagnóstico nem sempre é simples e pede conhecimento especializado: o diagnóstico pode não ser fácil e requer exame físico detalhado, avaliação do histórico familiar e de estilo de vida do paciente. Além disso, exames complementares podem ser solicitados como avaliação hormonal e exames de imagem

8- Terapias chamadas conservadoras são as primeiras linha de tratamento: mudanças no estilo de vida com dieta adequada, controle do peso e suplementação quando necessária associada a exercícios específicos, drenagem linfática manual, uso de roupas de compressão e fisioterapia ajudam a melhorar a circulação, reduzir o inchaço e aliviar a dor em pacientes acometidos pelo lipedema;

9- Lipoaspiração Tumescente é a opção cirúrgica para casos mais avançados: remover o tecido adiposo anômalo pode aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pacientes que desenvolveram casos avançados do lipedema. Vale lembrar aqui que a cirurgia deve ser sempre recomendada por um profissional da saúde especializado para lidar com esta condição;

10- O tratamento é sempre contínuo e pede dedicação e disciplina: o lipedema é uma condição que pede acompanhamento constante e multidisciplinar, sempre variando de caso a caso. Na maioria das vezes inclui acompanhamento com endocrinologista, fisioterapeuta, médico vascular e nutricionistas, sempre visando a melhoria dos sintomas e qualidade de vida do paciente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Como prevenir e tratar o lipedema

Também não existem ainda formas conhecidas de prevenção contra o surgimento do lipedema, mas os médicos recomendam a detecção precoce, através de exames, e o tratamento adequado para ajudar a controlar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Ingrid Pereira cita também que o lipedema não responde bem a dietas e exercícios convencionais, ao contrário do que acontece na obesidade, o que exige a adoção de outras estratégias na mudança no estilo de vida. Elas envolvem a adoção de uma dieta balanceada, com alimentos anti-oxidantes (como carne magra, vegetais de cor escura, azeite, castanha e peixes como atum e salmão), e atividades físicas de baixo impacto, como caminhada, hidroginástica, natação, ioga, pilates e exercícios de fortalecimento muscular.

Também são recomendadas atividades de fisioterapia e terapia compressiva, com uso de bandagens e meias de compressão. “A intervenção cirúrgica, através da lipoaspiração, pode ser considerada em casos avançados, mas deve ser precedida por tratamento conservador”, ressalta a professora, frisando que as opções de tratamento da doença devem ser analisadas e aplicadas conforme o estágio de cada caso.

Lipedema: reconheça os sinais e saiba como tratar a doença

A condição que afeta milhões de mulheres ganha visibilidade e alerta para a importância do diagnóstico precoce

Caracterizado pelo acúmulo de gordura de forma desproporcional nas pernas, quadris e, em alguns casos, nos braços, ele é frequentemente confundido com obesidade ou retenção de líquidos. A cirurgiã vascular Camila Caetano explica que essa confusão pode atrasar o diagnóstico.

O lipedema é uma doença crônica e progressiva, que muitas vezes é negligenciada por falta de conhecimento. O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações, como dores intensas, dificuldade de locomoção e impactos emocionais severos.”

As causas ainda não são totalmente compreendidas, mas fatores genéticos e hormonais desempenham um papel significativo. O tratamento inclui mudanças no estilo de vida, terapias físicas, uso de compressão e, em casos mais avançados, procedimentos cirúrgicos, como a lipoaspiração específica para o lipedema. “Cada paciente é único, e o tratamento deve ser personalizado. A combinação de intervenções pode proporcionar alívio dos sintomas e melhoria na qualidade de vida”, ressalta Dra. Camila.

Com Assessorias

 

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