O dia 6 de julho foi escolhido como o Dia Mundial das Zoonoses porque nesta data, em 1885, o cientista francês Louis Pasteur administrou, pela primeira vez, com sucesso, a vacina antirrábica por ele desenvolvida em um jovem que havia sido mordido por um cão. Também de forma inédita a data é lembrada no Rio de Janeiro com uma iluminação especial na Câmara de Vereadores pela campanha Julho Dourado, de conscientização sobre as zoonoses – como são chamadas as doenças que podem ser transmitidas dos animais para os seres humanos.

Mas além da conhecida raiva animal, outras zoonoses têm assustado a população brasileira nos últimos tempos. É o caso recente da febre maculosa, causada por uma bactéria presente no carrapato-estrela que tem como hospedeiros animais de vida rural como bois, cavalos e capivaras, mas que também pode estar presente em animais domésticos, como os cães, já que também são identificadas no chamado ‘carrapato do cachorro’.

Um surto de febre maculosa, identificado após a morte de várias pessoas que frequentaram um show musical numa fazenda no interior de Campinas (SP), acendeu o alerta para o país inteiro. No Estado do Rio, a doença já registrou este ano oito casos em humanos, sendo duas mortes, até o mês de maio, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES).  Sempre pautando seu trabalho pelo interesse público, o Portal ViDA & Ação fez um especial sobre Febre Maculosa.

Outra zoonose que vem preocupando as autoridades sanitárias é a leishmaniose visceral, uma doença grave, que pode ser fatal tanto para animais, quanto para humanos. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença é endêmica em 76 países do mundo e, dos casos registrados na América Latina, 90% ocorrem no Brasil. Segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras, trata-se da segunda doença transmitida por parasita que mais mata no mundo.

Número de casos de leishmaniose visceral animal no Rio quadruplicam

O número de notificações de leishmaniose visceral animal quadruplicou nos últimos seis anos no Rio de Janeiro, de acordo o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária da Prefeitura do Rio (Ivisa-Rio). Foram 601 registros em 2017, saltando para 2.841 registros em 2022.

Entre as regiões com mais casos confirmados estão Centro, Zona Portuária e Zona Norte, com destaque para o bairro do Méier. Recentemente, a Comissão de Saúde Animal da Câmara de Vereadores do Rio promoveu uma audiência pública sobre a situação da leishmaniose animal na cidade, em que debateu medidas de controle e tratamento da doença.

Na ocasião, o presidente do colegiado, vereador Dr. Marcos Paulo (Psol), cobrou o fortalecimento das políticas públicas municipais voltadas à leishmaniose animal, com ações de combate ao mosquito transmissor, ampliação da testagem dos animais e do tratamento veterinário e que a prefeitura forneça o medicamento gratuitamente.

Preocupado com a situação, fez um alerta sobre a subnotificação: “O número oficial de casos de leishmaniose animal está aumentando ano após ano e, certamente, a realidade pode ser muito pior”.

Transmissão e sintomas e prevenção da doença

O principal transmissor da leishmaniose visceral é um mosquito denominado flebotomíneo, conhecido popularmente como mosquito-palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros.

A transmissão ocorre quando a fêmea do mosquito vetor infectado pica cães ou outros animais infectados e depois picam o ser humano, transmitindo o protozoário causador da leishmaniose visceral.

Camila Camalionte, médica-veterinária e gerente técnica da Elanco Saúde Animal, explica que os principais sintomas nos seres humanos acometidos por esta zoonose são a alteração do estado geral, febre, palidez, redução da força muscular, perda de peso e aumento das vísceras – principalmente do baço, do fígado e da medula óssea.

“Em cães acometidos pela doença, os sinais são muito variáveis, desde animais assintomáticos até sinais sistêmicos graves. Entre os sinais estão, descamação de pele e crescimento progressivo das unhas.

Doença sem cura: animais são abandonados ou vítimas de eutanásia

De acordo com especialistas, ainda não existe cura definitiva para a leishmaniose visceral canina. A doença tem evolução crônica, com acometimento sistêmico e, se não tratada, pode levar a óbito em mais de 90% dos casos.

Como não há vacina humana para prevenção e a vacina canina para esta zoonose foi recentemente suspensa, muitas vezes, por conta do alto custo do tratamento/controle clínico, os animais são encaminhados para eutanásia ou acabam abandonados.

Segundo a coordenadora do Laboratório de Vigilância Entomológica da Fiocruz, Elizabeth Ferreira Rangel, as medidas de prevenção e controle da zoonose devem ter como alvo o vetor (mosquito palha).

“Nossa experiência mostra que quando se fala em prevenção, a ação mais eficaz é realizar campanhas educacionais para esclarecer a comunidade como evitar a proliferação do vetor”, explicou a pesquisadora.

Já para a gerente da Elanco, a melhor forma de prevenção é o uso de antiparasitários específicos, combinados a algumas medidas de proteção.

Julho Dourado: Câmara do Rio alerta para prevenção de zoonoses

Pela primeira vez, Câmara do Rio adere a campanha Julho Dourado, de conscientização sobre zoonoses (Foto: Divulgação)

Pela primeira vez, a fachada da Câmara Vereadores do Rio de Janeiro fica iluminada de amarelo até sexta-feira (7/7) chamando atenção dos cariocas para a campanha Julho Dourado. A iniciativa de iluminar o Legislativo municipal, tomada pela Comissão de Saúde Animal, tem o objetivo de conscientizar para a prevenção das zoonoses e a promoção da saúde dos animais domésticos e em situação de rua.

“Para a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a saúde humana e animal estão intercaladas e representam um ecossistema. A campanha do Julho Dourado serve de alerta para redobrarmos os cuidados com os nossos animais e com os humanos. Também não podemos esquecer os cuidados com os animais que estão em situação de rua”,  destaca o vereador Dr. Marcos Paulo (PSOL), autor do requerimento para a iluminação especial do  prédio da Câmara.

Segundo ele, a ação é também uma oportunidade de colocar em prática o conceito de saúde única. “Quando falamos em prevenção de zoonoses é fundamental mantermos a vacinação dos animais em dia”, destaca. O médico, que se destaca nas causas em defesa animal, diz que outros cuidados devem ser tomados para garantir a saúde e bem-estar dos animais, como manter os cantinhos onde ficam os animais bem limpos e sempre lavar os comedouros, bebedouros e brinquedos auxiliam.

Outras zoonoses que são problemas de saúde pública

Febre Amarela

Carrapato-estrela, transmissor da bactéria que causa a febre maculosa (Foto: CDC/ Dr. Christopher Paddock/ James Gathany)

A febre maculosa é uma infecção febril que pode se tornar grave e com elevada taxa de letalidade. Nos últimos 10 anos, mais de 2 mil pessoas foram infectadas pela doença no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde – 36% desses casos foram registrados em São Paulo. Causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, a febre é transmitida pela picada do carrapato infectado, cujo período de infestação ambiental se intensifica entre junho e novembro.

Apesar de o carrapato-estrela ser o principal vetor transmissor da Rickettsia, causadora da febre maculosa, outras espécies de carrapato têm potencial de transmissão da doença. Isso reforça a importância de manter seus pets protegidos dos carrapatos.

“Vale lembrar que, além da febre maculosa, devemos estar atentos a outras enfermidades graves que também são transmitidas por carrapatos. A picada desses parasitas pode transmitir hemoparasitoses, que são doenças que afetam a saúde e bem-estar, podendo levar os animais à morte”, explica Camila Camalionte, médica-veterinária e gerente técnica da Elanco.

“No caso da febre maculosa, além de ser uma hemoparasitose, é uma zoonose, ou seja, uma doença que pode acometer tanto animais quanto seres humanos que forem picados pelo carrapato-estrela infectado”, explica a especialista.

Leia mais no Especial Febre Maculosa

Verminoses

Os vermes intestinais representam riscos à saúde dos pets e para as pessoas com quem convivem. Alguns parasitas são considerados zoonoses, ou seja, podem ser transmitidos para os humanos, como a giardíase e hidatidose.

Os parasitas podem ser contraídos em situações comuns do dia a dia, como pequenos passeios dos pets nas ruas e mesmo animais que não saem de casa podem contrair verminoses. Segundo Tatiana L. R. Pavan, médica-veterinária e consultora técnica sênior da Elanco, cerca de 20% dos gatos diagnosticados com vermes não saem de casa.

“O animal sem acesso à rua não está livre do risco, visto que os responsáveis têm contato com o meio externo e podem levar ovos, cistos e até pulgas para dentro de casa”, explica, destacando que, por meio do nosso vestuário e sapatos, podemos levar parasitas e vermes para nossos lares. 

Como buscar ajuda

No Rio de Janeiro, caso um animal apresente alguma suspeita de doenças procure um médico veterinário ou entre em contato com o Centro de Controle de Zoonoses  (CCZ) pelo Canal 1746 da Prefeitura.

Com informações da Elanco Saúde Animal e Vereador Dr Marcos Paulo

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