O ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden, de 82 anos, acaba de concluir as sessões de radioterapia, para tratar um câncer de próstata agressivo, com metástases ósseas. Segundo a equipe médica, o tratamento tem como objetivo controlar o avanço da doença e aliviar sintomas após o diagnóstico de um adenocarcinoma prostático com escore de Gleason 9 – grupo de Grau 5, o mais alto de agressividade.

A filha de Biden, Ashley, postou um pequeno vídeo de seu pai tocando o sino, uma tradição para muitos pacientes com câncer ao concluir uma sessão de tratamento. “Toque o sino!”, escreveu Ashley Biden em um story do Instagram. “Obrigado aos incríveis médicos, enfermeiros e equipe da Penn Medicine. Somos muito gratos!”, completou.

Outra foto com o ex-presidente; sua esposa, Dra. Jill Biden; Ashley; e dois netos incluiu a legenda: “Papai tem sido muito corajoso durante todo o tratamento. Grata.” Biden discursou em Boston neste domingo (21), ao receber um prêmio por sua carreira no Instituto Edward M. Kennedy.

Em maio deste ano, o gabinete de Biden já havia confirmado que ele havia sido diagnosticado com uma “forma agressiva” de câncer de próstata que se espalhou para os ossos, após exames detectarem um nódulo prostático e sintomas urinários progressivos. Ele iniciou um tratamento com comprimidos para tratar o câncer no início deste ano.

No início de outubro, foi anunciado que ele passaria pela radioterapia e, paralelamente, receberia tratamento hormonal conforme anunciou um porta-voz de Biden à agência AFP. No entanto, agora ainda não está claro quais serão os próximos passos do tratamento de Biden. O porta-voz de Biden não forneceu detalhes à CNN sobre suas futuras opções de tratamento.

Joe Biden chama atenção para uma das terapias mais importantes da oncologia moderna

O caso de Joe Biden reacende o debate sobre a radioterapia, uma das três principais modalidades de tratamento contra o câncer, ao lado da cirurgia e das terapias sistêmicas com medicamentos.

Em câncer de próstata, a radioterapia pode ser indicada em diferentes fases da doença: desde o tratamento inicial e curativo, primário, quanto de forma complementar à cirurgia de retirada da próstata (prostatectomia radical), ou seja, como tratamento de resgate, até o controle de sintomas em estágios mais avançados.

A American Cancer Society (ACS) orienta que a radioterapia pode ser o tratamento inicial do câncer de próstata localizado, com taxas de cura comparáveis às da cirurgia radical. Em tumores localmente avançados — quando o câncer extravasa a cápsula prostática ou invade as vesículas seminais —, a radioterapia pode ser combinada a terapias hormonais. Já em casos metastáticos, como o de Biden, o tratamento pode ter objetivo paliativo ou de controle local, reduzindo a dor e preservando a função óssea.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), mesmo em casos avançados, a radioterapia pode desempenhar um papel fundamental no controle do câncer de próstata. O caso de Joe Biden evidencia o avanço das opções terapêuticas e o papel central da radioterapia em diferentes estágios do câncer de próstata. Mesmo em situações de doença avançada, a técnica pode prolongar a sobrevida e oferecer conforto ao paciente.

Quando a radioterapia é recomendada?

O médico Erick Rauber, radio-oncologista e diretor de comunicação da SBRT, explica que a radioterapia pode ser indicada tanto para o tratamento localizado na próstata, quanto para as áreas com metástases ósseas – como é o caso de Joe Biden – com o objetivo de aliviar sintomas, retardar a progressão do câncer e melhorar a qualidade de vida do paciente.

A presença de metástase óssea no momento do diagnóstico é um dado fundamental para o planejamento de todo o tratamento. Os ossos são os locais mais comuns de disseminação do câncer de próstata e a radioterapia é frequentemente usada para tratar essas lesões metastáticas, controlando a dor e prevenindo fraturas ou complicações neurológicas”, explica o médico.

Além da função paliativa, a radioterapia é utilizada com intenção curativa, seja como tratamento principal em tumores localizados, seja como complemento após cirurgia. Neste último caso, a radioterapia pode ser aplicada de forma adjuvante (quando há risco de células residuais) ou de resgate (em caso de elevação do PSA, o marcador do câncer de próstata).

Hoje damos preferência à radioterapia de resgate precoce, iniciada assim que o PSA começa a subir de forma consistente após a cirurgia, pois ela mantém boa eficácia e reduz o risco de recidiva”, detalha Elton Trigo Teixeira Leite, médico radio-oncologista e diretor científico da SBRT.

Quando menos é mais: o avanço do hipofracionamento

Estudos recentes mostram que técnicas como a radioterapia hipofracionada — com cerca de 20 sessões — e a ultrahipofracionada — com apenas 5 aplicações —, com menos sessões e doses mais concentradas, mantêm alta eficácia e reduzem efeitos colaterais.

Os protocolos modernos de radioterapia têm evoluído para reduzir o número de sessões, sem perda de eficácia. “Antes, os pacientes precisavam fazer de 32 a 40 aplicações; hoje, com o hipofracionamento moderado, é possível realizar o tratamento em cerca de 20 sessões. Já o ultrahipofracionamento permite completar o ciclo em apenas cinco aplicações”, explica Teixeira Leite.

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O que é importante saber sobre câncer de próstata avançado?

Câncer de próstata com metástase, com tratamento efetivo, também pode ter bom prognóstico, diz SBCO

Nos EUA, segundo o levantamento SEERs, do National Cancer Institutes (NCI), cerca de 8% dos casos de câncer de próstata no país são diagnosticados com metástase. Por isso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) faz um alerta sobre os cuidados essenciais.

Nos casos em que o câncer de próstata se espalha para os ossos, os sintomas costumam incluir dores ósseas, especialmente na região lombar, quadris e costelas, além de fraqueza, e, em alguns casos, sintomas urinários mais intensos. É fundamental que os homens com esses sinais busquem uma avaliação médica”, explica o cirurgião oncológico Jayme Nobre, coordenador nacional da Comissão de Tumores Genito-Urinários da SBCO.

O tratamento para os pacientes com diagnóstico de câncer de próstata varia de acordo com a localização e o estágio da doença. Quando a doença é localizada — ou seja, só atingiu a próstata e não se espalhou para outros órgãos —, costuma-se fazer cirurgia e/ou radioterapia. Em alguns desses casos, pode ser adotada a proposta de vigilância ativa.

Diagnosticar, por meio do rastreamento populacional, pode significar a diferença entre um tratamento localizado e um caso de metástase, com impacto direto na qualidade de vida”, afirma Nobre.

Ele lembra que, além da idade avançada, outros fatores aumentam o risco da doença, como histórico familiar, obesidade e ser negro — grupo que tem maior propensão à forma agressiva do tumor. Por isso, também é fundamental adotar hábitos saudáveis, como evitar o tabagismo, praticar atividade física e manter uma alimentação equilibrada.

Como tratar o câncer de próstata metastático?

Bloqueio hormonal é uma das alternativas em casos avançados

Nos casos em que o câncer é diagnosticado em sua forma mais agressiva, com metástase, o tratamento visa reduzir os níveis de testosterona e melhorar a qualidade de vida.  Pode-se envolver cirurgia, radioterapia e hormonioterapia.

As estratégias incluem abordagens mais complexas, como bloqueio hormonal (hormonioterapia), radioterapia para alívio de sintomas e, em alguns casos, cirurgia de orquiectomia bilateral — procedimento que reduz drasticamente os níveis de testosterona, hormônio que alimenta o crescimento do tumor”, explica Nobre.

Embora os casos diagnosticados em Gleason 9 – o tipo que foi diagnosticado em Joe Biden – sejam vistos como uma forma mais agressiva da doença, o paciente pode ser sensível a hormônios, ou seja, um bom respondedor à hormonioterapia.

Também conhecida como castração hormonal, a hormonioterapia consiste na administração de um tratamento que visa reduzir os níveis de testosterona, hormônio masculino que não está relacionado ao câncer, mas que alimenta o tumor. “Quando a testosterona é inibida, muitas das células dependentes do hormônio morrem”, explica o médico.

Diagnóstico e tratamento do câncer de próstata

Identificar os sinais no começo são fundamentais para antecipar o diagnóstico e o início do tratamento. A doença costuma evoluir de forma silenciosa, portanto, os check-ups anuais com exame de PSA e toque retal são fundamentais, assim como o protocolo de vigilância ativa.

Como a escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada, de acordo com a avaliação médica, o cirurgião oncológico é um dos profissionais habilitados para o planejamento terapêutico e cirúrgico do câncer de próstata.

De acordo com a SBCO, juntamente a uma equipe multidisciplinar, este especialista poderá definir qual é a melhor, mais segura e eficaz conduta para cada paciente.

Com Assessorias

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