Inabela descobriu os sintomas da Zika com seis meses de gestação. A filha Graziella. que nasceu com microcefalia, fez dois anos em outubro (Foto: Reprodução- Cabeça e Coração)
Inabela descobriu os sintomas da Zika com seis meses de gestação. A filha Graziella, que nasceu com microcefalia, fez dois anos em outubro (Foto: Reprodução- Cabeça e Coração)

Moradora de Recife (PE), Inabela Souza, de 32 anos, descobriu aos seis meses de gravidez que tinha sintomas de Zika. Em outubro de 2015, nascia Graziella, uma das crianças fruto da chamada “geração microcefalia”, resultado do surto de Zika vírus no Brasil.

“Os próprios médicos me disseram que a bebê não passaria do terceiro mês de vida. O pai dela entrou em depressão quando soube, porque dizia que não queria uma filha com deficiência. Mas Deus confortou ele, e agora ele adora a nossa filha”, conta Inabela ao site Cabeça e Coração, dedicado a relatar experiências de famílias com crianças microcéfalas (veja mais aqui).

Atualmente, o pai de Graziella trabalha, mas Inabela teve que sair do emprego. “Hoje vivo só para ela. Levo a bebê de segunda a sexta aos hospitais para fazer estimulação e fisioterapia. Tenho outra filha, a Fávia, de 10 anos. O meu sonho é ver minha caçula vivendo normalmente, e que um dia eu possa voltar a trabalhar para ajudar em casa”, conta a mãe.

Graziella é mais uma das vítimas da doença que recebe apoio da ONG Visão Mundial no Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (Cervac), iniciativa comunitária que atende pessoas com deficiências. Há cerca de dois anos, profissionais de saúde como fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas atendem dezenas de crianças com microcefalia. Além dos atendimentos clínicos, a família das crianças recebe atendimento educativo e psicológico.

“Trouxe minha filha com 6 meses e hoje, quase fazendo dois anos, ela teve um avanço total. A coordenação motora melhorou porque ela não conseguia abrir a mão, ela também já consegue passar muito tempo sentada, além de ficar com a cabeça levantada. A visão também melhorou e hoje ela já consegue comer porque a fonoaudióloga trabalhou bastante a deglutição dela”, conta Inabela.

Falta apoio do governo para as famílias

Apesar do auxílio dos profissionais, Inabela tem dificuldades em manter outros gastos da filha, já que abandonou o trabalho de vendedora para cuidar dela. “Vivo de doação das pessoas porque não tenho auxílio do governo na compra de medicamentos, leite e fralda, por exemplo. Muitas vezes deixo de comprar a feira. Além das vacinas que nunca têm nos postos médicos”, conclui.

A grande maioria das crianças que nasceu com microcefalia, vítimas do grande surto que se iniciou em 2015, completa dois anos agora no último trimestre de 2017. Neste sábado, dia 11 de novembro, fazem exatos 2 anos da declaração, feita pelo governo, de emergência em saúde por casos de microcefalia. O anúncio acontece após a divulgação de número alarmante de casos de microcefalia.

O desenvolvimento destas crianças tem sido um desafio para as famílias e as mães não se sentem amparadas pelo governo. ONGs, como a Visão Mundial – que advogam e lutam pela causa da infância – querem alertar a opinião pública sobre este grande problema.

O Zika Vírus, provocado pelo mosquito Aedes aegypti, continua atingindo centenas de pessoas no Brasil. Em 2016, foram confirmados 130.701 casos, distribuídos em 2.306 municípios. Este ano, já foram registrados 316 casos, sendo 58 confirmados no país. Mesmo com o número menor, a doença continua atingindo crianças. Em Pernambuco, são 131 casos da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco (SES-PE).

Bebês melhoram postura e choram menos

O psicólogo Thiago Barreto atende os pequenos desde o início e conta sobre o trabalho que é feito no Cervac. “Nós repassamos técnicas e exercícios para a família dar continuidade ao processo em casa, dessa forma conseguimos resultados positivos. Ao longo desses dois anos, já é possível notar os bebês que têm uma postura melhor, que choram menos, tudo isso é fruto de um esforço em conjunto”.

Thiago ainda reforça o desafio que é trabalhar com crianças com o Zika vírus. “Está sendo gratificante, mas desafiador porque estamos trabalhando com algo novo. Ainda há sintomas que não são conhecidos e temos que lidar com as demandas as famílias trazem, por isso que também fazemos conversas semanais com as mães para debater temas que elas queiram”, conclui.

O coordenador de projetos da Visão Mundial em Recife, Davi Chagas, comenta sobre a importância da assistência às famílias com crianças com casos de microcefalia no estado. “Essa parceria tem contribuído bastante não apenas para o desenvolvimento das crianças, mas também para o suporte familiar porque Pernambuco foi surpreendido com essa epidemia e muitas famílias que atendemos não têm apoio do governo”, conta.

O Cervac não trabalhava com crianças portadoras da Síndrome Congênita do Zika vírus, mas com o apoio da Visão Mundial, a instituição pôde fazer esse trabalho. “A Visão Mundial chegou na hora certa porque várias mães já estavam nos procurando para fazer os atendimentos, mas faltavam profissionais. Com o passar do tempo, já temos visto crianças mais desenvolvidas e famílias mais comprometidas”, conta a coordenadora de saúde do Cervac, Alba Lopes.

Algumas crianças atendidas pelo Cervac, em parceria com a Visão Mundial, já completaram dois anos de idade neste segundo trimestre de 2017. De acordo com o crescimento delas, há uma mudança no acompanhamento, já que o grupo chamado “cervaquinho” cuida de crianças até dois anos. Por isso, várias crianças já avançaram para outras áreas na instituição como o grupo de estimulação precoce, que cuida de crianças de 2 a 6 anos.

 

Laboratório vai produzir testes de zika, dengue e chicungunha no Brasil

O laboratório alemão Euroimmun, especializado em diagnóstico autoimune e o primeiro a fornecer exames de zika, dengue e chikungunya no Brasil, abrirá sua fábrica própria no país em 2018. “Da nossa fábrica sairão biochips® capazes de detectar doenças para o mercado internacional, por exemplo. Hoje, importamos e distribuímos 18 mil biochips por dia. Com a nova instalação, vamos produzir 40 mil e podemos até dobrar esse número na segunda fase de expansão”, conta Gustavo Janaudis, CEO da filial brasileira.

A sede será instalada na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo. O local teve um investimento inicial de R$ 8,5 milhões e contará com um centro de pesquisa e de desenvolvimento. Com a instalação da fábrica, a Euroimmun espera de tornar o maior fabricante do país de testes para dengue, zika e chikungunya. De acordo com Janaudis,  a meta é transformar o país em uma plataforma de desenvolvimento de produtos.

Com pesquisas no Brasil, a indústria dará a oportunidade a talentos e cientistas nacionais de desenvolverem seus testes em larga escala. Além disso, a Euroimmun Universidade vai ampliar o programa de educação continuada, uma prática que já é realizada pela empresa atualmente, com a inauguração de um Centro de Treinamento para a América Latina. Oferecerá cursos de educação a distância, com estrutura de aprendizagem e treinamento para os clientes.

Os clientes terão acesso a testes exclusivos e inovadores realizados pelo time de especialistas e acompanhamento dos profissionais que ficam na sede localizada na Alemanha. A prática promoverá a redução de custos e prazos aos testes hoje encaminhados para laboratórios no exterior. A Euroimmun ainda criará o Instituto de Imunologia Experimental que será o primeiro fora da matriz alemã e que vai apoiar a produção científica, a pesquisa e o desenvolvimento dos pesquisadores do Brasil.

Fonte: Visão Mundial e Cabeça e Coração e Euroimmun, com Redação

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