Dor, muita dor no corpo todo. Ela está comigo há tanto tempo que já somos amigas íntimas. Aprendi a conviver com isso, apesar de não ser nada fácil. A sensação que tenho é de estar sendo abraçada por um arame farpado o tempo todo.”
Assim a secretária Claudia Aguiar descreve a fibromialgia, diagnosticada em 2013. A doença que causa dor crônica generalizada levou a cantora Lady Gaga a adiar o seu show no Brasil em 2017.
Mas não é só a dor. Há também a tristeza, a ansiedade, a fadiga, a sensação de inutilidade por não conseguir tomar um banho direito, porque até a água do chuveiro causa dor quando encosta no couro cabeludo”, complementa Cláudia.
A secretária conta que, além de medicamentos para controlar o desconforto, investe em terapia. “As pessoas me veem e perguntam: ‘Mas você é tão alto astral, está sempre sorrindo, de bem com a vida’. Sigo assim porque não quero me tornar a reclamona. Mas já fiquei afastada do trabalho por dez dias sem conseguir me mexer, de tanta dor”, relata a secretária.
Combinação entre medicações e práticas integrativas
Em geral, o tratamento da fibromialgia combina duas abordagens: medicamentosa e integrativa. Os medicamentos têm como objetivo reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida do paciente, auxiliando também no sono e no controle do estresse. Para isso, podem ser prescritos antidepressivos, analgésicos e anticonvulsivantes.
Já as terapias integrativas como fisioterapia, acupuntura e massagens, envolvem estratégias que ajudam a minimizar a dor e o impacto emocional da doença. Além disso, o uso de medicamentos para aliviar e prevenir as dores crônicas é essencial, frequentemente associado a antidepressivos, já que a doença pode causar alterações emocionais devido à dor constante e às limitações diárias.
O principal sintoma da fibromialgia é uma dor generalizada que acomete os dois lados do corpo por mais de três meses. O diagnóstico é clínico, pois não há alterações detectáveis em exames de sangue ou radiografias. O tratamento é individualizado e inclui orientações para evitar esforços pesados ou repetitivos, além da prática de alongamentos e exercícios musculares, preferencialmente com acompanhamento de um fisioterapeuta”, afirma o neurologista e clínico geral Conrado Friggi Bissoli.
Alimentação e exercícios ajudam no controle da dor
A fibromialgia é uma condição complexa e desafiadora que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Embora o tratamento convencional com medicamentos e fisioterapia desempenhe um papel importante no manejo da doença, muitas pessoas também buscam terapias complementares para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida”, ressalta o médico reumatologista da Unimed Araxá, Carlos Eugênio Parolini.
Especialista em tratamentos de fibromialgia, o médico destaca que uma das abordagens mais recomendadas é a prática de exercícios regulares. “Eles podem incluir alongamentos (pilates), atividade aeróbica de baixo impacto como a caminhada, natação e hidroginástica. O treinamento de força também é benéfico para fortalecer os músculos e diminuir a sensação de fadiga”, indica.
A alimentação saudável também desempenha um papel importante. “O uso de dieta anti-inflamatória (restrição de açúcares, farinha refinada) e rica em frutas, vegetais, grãos integrais, além de ácidos graxos e ômega 3 (linhaça, sardinha, salmão, etc.) podem também beneficiar o tratamento. A dieta pode ser acompanhada do uso de suplementos como o magnésio (dimalato) e melatonina.
Fora isso, temos as atividades físicas integrativas (mente e corpo) associadas à meditação, respiração e autocontrole: yoga, tai chi e lian gong”, destaca o especialista.
Tratamentos complementares na luta contra a fibromialgia
Técnicas corporais
1) Acupuntura: sistêmica (agulhas em vários pontos distribuídos no corpo), auriculoterapia (agulhas na orelha), acupuntura com laser (sem agulhas, indolor), eletroestimulação com agulhas.
2) Massoterapia: alívio da tensão muscular
3) Osteopatia: liberação das fáscias e músculos
4) Hidroterapia: terapia da água aquecida, assistida por fisioterapeuta para liberar as tensões musculares
5) TDCS: estimulação elétrica transcraniana, para diminuir a dor
6) EMT: estimulação magnética transcraniana para diminuir a dor.
7) Reiki: foco no campo energético
8) Terapia crânio-sacral: equilíbrio do sistema nervoso e das tensões.
Atividades e terapias cognitivo-comportamental
1) Meditação: alívio da dor, controle do estresse, autoconhecimento
2) Psicoterapia cognitivo-comportamental: realizada por psicólogo, para reestruturação dos pensamentos
3) Arteterapia: melhora da expressão emocional
4) Musicoterapia: melhora da expressão emocional
5) Participação em grupos de apoio com equipe multidisciplinar.
O papel da acupuntura no tratamento da fibromialgia
Obter um diagnóstico precoce e de estratégias eficazes de manejo para melhorar a qualidade de vida dos pacientes é sempre importante e entre as abordagens complementares, a acupuntura e a fisioterapia têm se mostrado aliadas poderosas no alívio dos sintomas.
Segundo o fisioterapeuta Leandro Daval, do Instituto Pierin, a acupuntura se destaca no tratamento da fibromialgia “por seu papel como regulador energético, proporcionando sensação de alívio da dor e bem-estar”.
Essa técnica milenar chinesa tem ganhado reconhecimento no meio médico ocidental por sua capacidade de modulação da dor, atuando diretamente nas fontes de desconforto dos pacientes.
Além da acupuntura, a prática de exercícios físicos controlados é essencial para quem sofre com essa condição. Daval ressalta que “além da acupuntura atuar de forma modulatória no controle da dor, sabemos que a atividade física controlada, através de exercícios criteriosos, ajuda a melhorar essa condição de dor crônica da fibromialgia“.
Segundo o fisioterapeuta, exercícios de baixo impacto, como hidroterapia e Pilates, especialmente quando realizados no final do dia ou no período noturno, podem melhorar significativamente a qualidade do sono dos pacientes, contribuindo para um controle mais efetivo da dor.
A melhora da qualidade do sono, consequentemente, melhora a controlar a dor”, destaca o especialista, enfatizando a importância de um tratamento holístico que considera não apenas a condição física, mas também o bem-estar geral do paciente.
Alternativas naturais ganham espaço no alívio da dor crônica
Compostos como PEA e curcumina despontam como soluções eficazes e com menos efeitos colaterais
Diante da complexidade e natureza silenciosa da fibromialgia – que não apresenta uma causa única e cujos tratamentos convencionais nem sempre funcionam da mesma maneira para todos os pacientes –, cresce o interesse por alternativas que aliviem os sintomas de forma mais integrada e com menos efeitos colaterais.
Entre os ativos que vêm ganhando destaque estão a palmitoiletanolamida (PEA) e a curcumina, dois compostos que atuam de forma indireta no sistema endocanabinoide, presente em nosso organismo e responsável pela regulação de determinadas funções do corpo humano. Tais substâncias oferecem benefícios comprovados no combate à dor, à inflamação e à sensibilização nervosa, ajudando os pacientes a reconquistar qualidade de vida.
A PEA, produzida naturalmente pelo corpo, possui propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e neuroprotetoras. Em pacientes com fibromialgia, sua suplementação tem reduzido a sensibilidade exacerbada a estímulos, modulando a resposta dos neurônios à dor”, afirma.
Na prática clínica, vemos que muitos pacientes com fibromialgia se beneficiam de uma abordagem mais integrada, que inclua alimentação, sono de qualidade, atividade física e suplementação com compostos naturais com respaldo científico. O mais importante é entender que cada organismo responde de um jeito e que o cuidado precisa ser individualizado, respeitando-se o ritmo e as necessidades de cada pessoa”, conclui A na Beatriz.