O pré-natal é importante para que os pais se prepararem para a chegada do filho e, desta forma, possam oferecer o melhor acolhimento e adaptação para suas possíveis necessidades. Mas não foi o que aconteceu com a cuidadora de idosos Ivana Oliveira. Grávida de seu primeiro filho em 1998, ela fez todo o pré-natal, mas só soube que o seu bebê tinha Síndrome de Down após o nascimento. 

Percebi que meu filho tinha algumas características da Síndrome de Down. E confesso que não foi algo fácil. Eu entrei em choque e não entendia direito o que estava acontecendo, mas o amor sempre fala mais alto. Hoje, Wendel é um rapaz de 21 anos, muito esperto e amado. Acredito que se eu soubesse da Síndrome de Down ainda quando estava grávida, estaria mais preparada para recebê-lo”, afirma.

Exames realizados durante o pré-natal são primordiais para a saúde da gestante e do feto. Por meio do acompanhamento durante a gestação, é possível identificar sinais de doenças genéticas e, desta forma, antecipar condutas que visam melhorar a qualidade de vida do bebê.  Hoje, com o avanço da medicina genética, tornou-se possível detectar a síndrome no início da gestação, ao contrário dos demais métodos conhecidos, que são invasivos – ou seja, que necessitam da introdução de elementos cirúrgicos no organismo.

Um exemplo é o Non-Invasive Prenatal Testing (NIPT), um exame que utiliza apenas uma amostra do sangue materno para analisar a saúde cromossômica do bebê, já a partir da 9ª semana de gestação. Além de não ser invasivo, o exame pode ser feito antes do período em que seriam realizados os outros exames, entre as semanas 9 e 22 da gestação.

É um exame de sangue que não oferece riscos ao feto. Outras opções disponíveis, como a amniocentese, podem ser feitas mais tardiamente, mas consiste na coleta de líquido amniótico por meio de uma punção no abdômen da mãe”, ressalta o médico geneticista Gustavo Guida, do GeneOne, laboratório de medicina genômica da Dasa que abrange o Sérgio Franco Medicina Diagnóstica.

Segundo ele, o NIPT é um exame altamente sensível por apresentar até 95% de acerto ao predizer o risco para algumas doenças genéticas, como a síndrome de Down.

O NIPT consegue analisar o DNA fetal circulante no sangue materno. O exame é importante para os pais se tranquilizarem em relação à saúde do bebê e caso alguma doença seja identificada a família tem a oportunidade de se preparar durante esse período para o nascimento e os cuidados médicos necessários”, afirma o especialista.

Na sua versão ampliada, explica ele, o NIPT possibilita identificar microdeleções nos cromossomos (perda de uma pequena parte de um cromossomo que não é detectável no exame de cariótipo usual), possibilitando o diagnóstico diferencial de outras doenças genéticas, como a síndrome de AngelmanPrader-WilliDiGeorge, Cri du Chat e Deleção 1p36. 

Simpósio em São Paulo 

Acredita-se que o número de brasileiros com Síndrome de Down seja superior a 300 mil pessoas. Não há dados específicos para o Down, mas a estimativa é levantada com base na relação de 1 para cada 700 nascimentos, levando-se em conta toda a população brasileira. No último Censo, em 2010, 23,9% dos entrevistados disseram possuir alguma deficiência, sendo que mais de 2,6 milhões declararam ter deficiência intelectual.

O 9º Simpósio Internacional da Síndrome de Down (T21), que acontece no sábado (23), em São Paulo, tem como tema “Superando a vulnerabilidade, entendendo a evolução do cérebro humano” e leva em conta a importância da reciclagem e a atualização dos mais recentes avanços nos temas de nutrição, educação e saúde.

Os debates serão apresentados por renomados profissionais nacionais e internacionais, incluindo o pediatra e geneticista Zan Mustacchi, primeiro latino-americano a receber o Prêmio Científico do Dia Internacional da Síndrome de Down no Congresso Mundial de Síndrome de Down é considerado uma das maiores referências globais sobre o tema.

Referência na área, o pesquisador é responsável pelo Ambulatório de Genética do Hospital Infantil Darcy Vargas (SP) epresidente do Departamento de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor clínico do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo (Cepec-SP).

O evento será realizado no Teatro Arthur Rubinstein (Clube A Hebraica) – Rua Hungria, 1000, e é uma iniciativa do Cepec-SP e do Instituto Empathiae. A renda do evento será revertida para o Grupo Chaverim, instituição que atua no processo de sociabilização de pessoas com deficiência intelectual no seu protagonismo, no processo de desenvolvimento e inclusão social. Informações no site www.sindromededown.com.br

Campanha “Síndrome de Down: eu escolho incluir” 

Lembrado neste dia 21 de março, o Dia Internacional da Síndrome de Down pretende conscientizar a população sobre a importância da luta pelos direitos igualitários, o seu bem-estar e a inclusão das pessoas com esta condição na sociedade. A escolha da data é uma alusão aos 3 cromossomos no par número 21, característico das pessoas com Down.
Com o objetivo de conscientizar sobre a importância da inclusão social de pessoas com deficiência intelectual, a Apae de São Paulo está lançando a campanha “Síndrome de Down: eu escolho incluir” . A ideia central da campanha é mostrar crianças e jovens com Síndrome de Down que conquistaram espaço no mundo através de atividades sociais, como dança, música e fotografia.
As fotos foram produzidas em parceria com o fotógrafo Mário Castello, que cedeu voluntariamente seu trabalho para a Organização.  O Instituto Mauricio de Sousa também está participando da ação. No dia 21 de março será publicado em sua página oficial no Facebook (facebook.com/ institutoculturalms ) um post retratando a personagem Tati, que tem síndrome de down e suas principais características são o amor aos amigos, a criatividade e o alto-astral.
A Apae de São Paulo defende que essas pessoas devam ser inseridas em todas as esferas sociais e tenham seus direitos civis garantidos, sem qualquer restrição. A Organização, ao longo da sua trajetória, vem apoiando pessoas com deficiência intelectual desde o seu nascimento até o envelhecimento, por meio de serviços de reabilitação, educação inclusiva, inclusão no mercado de trabalho, defesa e garantia dos seus direitos, geração e disseminação de conhecimento, entre outros.
As peças podem ser vistas na página da facebook.com/apaedesaopaulo e em veículos de comunicação.

Colocando a mão na massa

A data também será comemorada com as oficinas de “Down Cooking”, do Instituto Chefs Especiais, ensinando aos alunos a preparar uma receita bem gostosa. A organização sem fins lucrativos foi criada em 2006, com o objetivo de facilitar a inclusão social e autonomia das pessoas com Síndrome de Down por meio de experiências na cozinha.

Destinadas a jovens adultos portadores de Síndrome de Down com mais de 14 anos, as atividades do projeto Down Cooking têm como foco promover maior autonomia no dia a dia dos participantes. “São pessoas que têm uma expectativa de vida maior que no passado”, conta ela. “Muitas vezes, eles até moram sozinhos, então é importante que a sociedade os ajude a ter o máximo de autonomia”, conta a chef Patricia Lopes, da Cook it®, que participa do projeto há cinco anos.

Na prática, além de ministrar aulas e criar as receitas que serão ensinadas, Patricia supervisiona os chefs especiais durante os encontros e, também, as atividades da equipe de voluntários. “As oficinas são 100% mão na massa”, explica a chef. “Eu sempre penso em preparações fáceis de fazer, muito gostosas e que demandam utensílios que os alunos possam utilizar com segurança, sem a necessidade de supervisão”, comenta.

O aprendizado no projeto Down Cooking é de mão dupla, como explica a chef. Voluntária no Instituto desde 2014, ela conta que aprende muito mais do que ensina, todos os dias.  “Todos nós somos diferentes e únicos. Pessoas com Síndrome de Down têm leveza, são totalmente sinceras e muito autênticas, independente de convenções sociais. Realmente é um privilégio essa oportunidade de convívio, pois eles representam para mim uma fonte inesgotável de inspiração”, finaliza.

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