“Eu não vivo sem você”. Uma frase comum e frequentemente dita em relacionamentos amorosos pode ser um sinal de dependência emocional. Muitas vezes mascarada como carinho e cuidado, a dependência emocional é um problema preocupante que impede o estabelecimento de relações saudáveis.

O Dia dos Namorados, quando muitos casais celebram o amor e a companhia, é também um bom momento para refletir sobre a qualidade das relações afetivas, especialmente quando o amor se confunde com dependência emocional. Profissionais de saúde mental fazem um alerta sobre os sinais e sintomas desse problema psicológico-afetivo, explicando as possíveis causas e abordagens terapêuticas eficazes para superá-lo.

De acordo com a psicóloga Áurea Chagas, professora de Psicologia do CEUB,  a dependência emocional é uma condição psíquica que se desenvolve ao longo da vida de uma pessoa e pode ser acompanhada por uma série de sintomas. A dependência emocional pode afetar negativamente a saúde dos indivíduos que se relacionam, pois eles tendem a se concentrar excessivamente em suas próprias necessidades de atenção e aceitação.

Isso dificulta a compreensão da subjetividade do outro como um indivíduo autônomo, levando a exigências constantes para reafirmar o amor do parceiro. Essa dinâmica prejudica a qualidade do relacionamento e pode causar sofrimento para ambos os parceiros”, destaca.

Sinais comuns, como baixa autoestima, insegurança, medo, necessidade de controle sobre o outro, choro fácil, distúrbios do sono e da concentração, baixa tolerância à frustração, dificuldade para ficar sozinho, dificuldade em tomar decisões e fazer escolhas, são indícios de um parceiro que desenvolve um comportamento dependente. A pessoa pode desenvolver quadros de depressão, ansiedade, fobias e até sintomas físicos, como dores crônicas.

Dependência emocional pode começar na infância

Quanto às causas veladas da dependência emocional e do medo da solidão, Áurea ressalta que o ambiente inicial dessa pessoa quando criança desempenha um papel crucial. A docente do CEUB revela que se a criança não recebe cuidado emocional adequado durante seu desenvolvimento, ela pode crescer sentindo-se desvalorizada e não reconhecida.

Esses sentimentos de desvalorização podem se manifestar na vida adulta como dependência emocional, tornando a solidão uma experiência aflitiva. A falta de recursos psíquicos para lidar com as emoções e os próprios desejos contribui para essa dificuldade em ficar sozinho”, explica a psicóloga.

De acordo com a especialista, as pessoas que desenvolvem dependência emocional, inconscientemente, podem repetir padrões de relacionamento baseados em suas primeiras experiências de amor, também na infância. Ela explica que, se essas experiências foram marcadas por desamparo e baixa autoestima, é comum que busquem parceiros que de alguma forma reproduzam essas dinâmicas. “A repetição desses padrões geralmente leva a relacionamentos insatisfatórios e até abusivos”, revela.

Amor com equilíbrio: por que a autonomia emocional é essencial nos relacionamentos

Especialista analisa vínculos afetivos e alerta para os riscos da dependência emocional nas relações amorosas

A autonomia dentro de um relacionamento não significa distanciamento, mas sim maturidade emocional, respeito às individualidades e vínculos mais saudáveis.Segundo Talita Rocha, professora do curso de Psicologia da Una Uberlândia, a autonomia emocional é um dos pilares de uma relação afetiva saudável.

Ter autonomia emocional é ser capaz de reconhecer as próprias emoções, lidar com elas e não colocar a responsabilidade do próprio bem-estar no outro. Isso não diminui o amor, pelo contrário: fortalece o vínculo com base no respeito mútuo”, explica.

Embora o desejo de proximidade seja natural nas relações amorosas, é importante estar atento aos sinais de desequilíbrio. Rocha alerta que a dependência emocional pode surgir de forma sutil, mas tem efeitos profundos. “A pessoa dependente vive em função do outro, teme ser abandonada e sente que não consegue ser feliz sozinha. Isso leva a um ciclo de insegurança, ciúme excessivo e, muitas vezes, à anulação de si mesma para agradar o parceiro”, destaca.

Entre os sinais de alerta estão a dificuldade de tomar decisões sem a aprovação do outro, medo constante de rompimento, idealização extrema da pessoa amada e abandono de interesses pessoais. “Quando a relação passa a ser o único centro da vida, há perda de identidade. Isso não é amor, é uma relação de fusão emocional, que tende a gerar sofrimento para ambas as partes”, analisa a psicóloga.

Autonomia não é ausência de afeto

Rocha reforça que autonomia emocional não é sinônimo de frieza ou desapego. “Pelo contrário. Pessoas emocionalmente autônomas conseguem se entregar de forma mais verdadeira, porque não esperam que o outro preencha todos os seus vazios. Elas amam com liberdade, não por carência”, explica.

Desenvolver essa autonomia exige autoconhecimento, autoestima e, muitas vezes, apoio profissional. “Muitos padrões de dependência têm origem em vivências anteriores, como abandono, negligência ou insegurança na infância. O processo terapêutico pode ajudar a ressignificar essas experiências e construir vínculos mais equilibrados”, pontua.

Equilíbrio entre autonomia e vínculo

De acordo com a psicóloga, é possível manter a autonomia sem perder a intimidade. “O equilíbrio vem do respeito mútuo à individualidade e da construção de um vínculo baseado na confiança, e não na necessidade”, afirma. Diálogo, escuta empática, liberdade de escolha e acordos saudáveis são ferramentas importantes para isso.

Rocha também aponta estratégias práticas, além da terapia individual, para quem deseja cultivar essa independência emocional: “escrever um diário emocional para reconhecer sentimentos, estabelecer limites e aprender a dizer ‘não’ sem culpa, construir uma rede de apoio e de hobbies fora da relação fortalecem a identidade pessoal”.

Relacionamentos mais saudáveis começam dentro de nós

Neste Dia dos Namorados, a psicóloga convida à reflexão: “Mais do que ter alguém, é preciso saber ser alguém. Amar com autonomia é reconhecer o outro como parceiro, não como salvador. É dividir a vida, e não se anular nela”.

Para quem está em um relacionamento, vale observar se há espaço para o diálogo, o crescimento individual e a liberdade emocional. Já quem está solteiro também pode aproveitar a data para fortalecer o autocuidado e investir em si mesmo, afinal, um relacionamento saudável começa com uma relação amorosa com quem somos.

Relacionar-se com o outro é importante, mas não pode ser condição para se sentir completo. A solidão não deve ser temida, mas compreendida como parte do processo de amadurecimento emocional. Quando aprendemos a estar bem com nós mesmos, as relações que criamos tendem a ser mais leves, recíprocas e verdadeiras”, conclui Rocha.

Sou dependente emocional. E agora?

De acordo com a especialista, o autoconhecimento é fundamental no processo de superar a dependência emocional, permitindo que a pessoa identifique os fatores que contribuem para sua dependência emocional. O tratamento pode ser feito por meio de várias abordagens psicológicas, desde que com a ajuda de um profissional qualificado.

A dependência emocional é um desafio significativo, mas com o apoio adequado e a busca pelo autoconhecimento, é possível superá-la e desenvolver relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios”, assegura a professora do CEUB.

No enfrentamento ao medo de estar sozinho em meio à pressão para ter um relacionamento no Dia dos Namorados, Áurea Chagas ressalta que o amor próprio e o bem-estar individual são as únicas coisas que importam. “O fator primordial é sentir-se bem consigo mesmo antes de entrar em um relacionamento”. Como forma de exercitar a autoestima e a autoconfiança no enfrentamento, ela sugere que cada indivíduo encontre prazer em atividades que aprecie, como viajar, ler, estudar, nadar ou desafiar-se em novas habilidades.

Com Assessorias

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