A doença de Alzheimer atinge 5% da população com mais de 65 anos – ou 1,4 milhão de pessoas no Brasil. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Alzheimer é a principal causa dos 70% dos casos de demência no mundo e, até 2050, a previsão é que os casos tripliquem no Brasil.

A enfermidade provoca a perda de funções como memória, raciocínio, juízo crítico e orientação, podendo levar à desorientação espacial, alterações de comportamento e dificuldades para a realização de tarefas corriqueiras, como se alimentar ou se vestir. Em fases mais avançadas, o paciente passa a não reconhecer parentes e amigos, até ficar totalmente dependente.

“A pessoa torna-se incapaz de aprender novas informações. Essa alteração de memória é justamente para as novas informações, os fatos recentes. A memória de acontecimentos antigos continua bastante preservada, no início. O paciente pode ainda não reconhecer lugares que antes eram familiares, se perder em datas e também apresentar quadros de depressão, apatia, surtos de agressividade, delírios de roubo e mania de perseguição”, explica a neurologista Jerusa Smid, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Doutora em Ciências pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, ela explica que até o momento, a literatura médica não descobriu as causas da doença.

Sabe-se, no entanto, que é preciso dar atenção às proteínas Beta-amiloide, que são consequências de parte da degradação celular. Elas se acumulam no cérebro de pessoas mais idosas e ainda mais nas acometidas por Alzheimer. Provavelmente são produtos de um mecanismo de reparação celular irregular e, por isso, se acumulam em grande quantidade nesses grupos. Não são a causa exclusiva do Alzheimer, nem sua única consequência, apenas um dos componentes da sua fisiopatologia”, explica.

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Doença começa muito antes dos primeiros sintomas

Como não tem cura, os especialistas se empenham em fazer o diagnóstico precoce e trabalham no sentido de aplicar medidas consideradas preventivas para retardar o avanço da enfermidade. Até o momento só existem medicamentos que atuam na qualidade de vida de pessoas com Alzheimer: melhoram comportamento ou ciclo sono-vigília ou agressividade ou disposição ou apatia.

A doença começa muito antes dos primeiros sintomas. Isso porque temos uma “reserva cognitiva”, uma “resiliência cerebral”. Nessa fase, acontecem ainda bastante sinapses e a ela vai avançando, mas sem manifestar problemas.

Inicialmente, o Alzheimer acomete a região do hipocampo, que é portão da memória. No quadro primário, que é chamado comprometimento cognitivo leve, o indivíduo percebe que sua memória está deteriorando. O primeiro sintoma, na maioria dos pacientes, é esquecimento para eventos recentes, enquanto fatos remotos seguem preservados.

Às vezes, a pessoa é incapaz de lembrar o que almoçou ontem, mas lembra com detalhes de sua casa de infância, por exemplo. E isso vai levando a perda de independência e autonomia. Com a evolução da doença, outras regiões do cérebro vão sendo acometidas e mais alterações cognitivas ocorrendo, piorando a qualidade de vida.

Como a doença está bastante associada ao envelhecimento, especialistas recomendam olhar para pessoas muito antes disso: aos 20, 30 anos e não aos 70. É preciso investir em uma melhor qualidade de envelhecimento cerebral desde jovem.

As principais medidas preventivas

Uma pesquisa publicada na revista cientifica “The Lancet”, no ano passado, aponta como medidas preventivas:

manter o nível de açúcar no sangue e o peso para evitar diabetes;

obter o máximo de educação escolar na infância;

manter-se cognitivamente ativo, por meio de leituras, jogos e aprendendo coisas novas;

controlar a depressão; gerenciar o estresse; ter a pressão arterial sob controle, especificamente a partir dos 40 anos;

examinar perda de audição ao longo da vida; praticar regularmente atividades físicas;

seguir uma alimentação saudável, balanceada e rica em vitamina C;

evitar exposição à poluição do ar e ao fumo; não abusar de bebidas alcoólicas;

buscar ter um sono de qualidade, entre outros cuidados.

“São ações consideradas preventivas para retardar a doença, já que não há como evitá-la”, finaliza a neurologista Jerusa Smid.

 

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