Outubro é o mês dedicado à conscientização sobre a perda gestacional, uma experiência difícil e muitas vezes envolta em silêncio. Estima-se que cerca de 20% das gestações terminem em aborto espontâneo, perda involuntária que ocorre antes da vigésima semana de gestação, sendo as alterações genéticas do embrião a principal causa. Além disso, há o óbito fetal, que ocorre após a 20ª semana, e a morte neonatal, que envolve o falecimento do recém-nascido até o 28º dia de vida.

No Brasil, estima-se que uma em cada cinco gestações não chega ao final, enquanto, globalmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para 2,6 milhões de óbitos fetais ou neonatais anuais. Além das causas genéticas, condições maternas como problemas de coagulação, distúrbios hormonais e infecções podem contribuir para esses desfechos. Uma dessas causas, ainda pouco conhecida, é a endometrite crônica.

O tema ganhou visibilidade por meio do relato feito pela atriz Fernanda Paes Leme, de 41 anos, em seu instagram. No vídeo de lançamento do “Mó Grávida”, ela conta o quanto a endometrite afetou suas tentativas de engravidar, incluindo uma perda gestacional. No final de 2021 ela sofreu um aborto espontâneo.

É difícil a gente falar sobre determinados assuntos. Porque o aborto é uma perda invisível. É um luto que você vive de algo que você nem viu a cara, que às vezes você não tem nenhuma peça, nada, nem uma foto pra você lamentar, que é o que acontece quando a gente perde alguém”, disse ela.

Empatia e acolhimento na perda gestacional

A endometrite, uma inflamação do endométrio (o revestimento interno do útero) devido a uma infecção por bactéria, é responsável por até 66% dos casos de repetidas falhas de implantação ou abortos de repetição e repetidas falhas de implantação.

A doença pode ser aguda (que surge de forma repentina e é de curta duração) ou crônica (dura muito tempo ou ocorre repetidas vezes). Após o diagnóstico da condição e tratamento eficaz, Fernanda engravidou novamente, a partir de seus óvulos que haviam sido congelados. Pilar, sua primeira filha, nasceu em abril deste ano.

Quando uma personalidade compartilha sua jornada como tentante, mostra para muitas mulheres o quanto elas não estão sozinhas e que há avanços na ciência que permitem diagnosticar a inflamação, conhecer as bactérias envolvidas, tratar com o antibiótico certo e ampliando assim a chance de engravidar e ter um bebê saudável em casa”, ressalta a biomédica Virginia Regla.

Para Marcelo Cavalcante, especialista em medicina reprodutiva, o aborto espontâneo, o óbito fetal e a morte neonatal são desfechos trágicos, com causas que podem variar desde problemas genéticos até questões uterinas e imunológicas. “Ainda que a prevenção seja limitada em muitos casos, cuidados pré-concepcionais e o acompanhamento médico regular são essenciais para minimizar os riscos”, orienta o Dr. Marcelo.

Neste mês de outubro, a meta é promover a conscientização e o apoio às famílias, mostrando que elas não estão sozinhas nessa jornada. A perda gestacional não deve ser tratada como tabu. É crucial que as famílias recebam apoio e que o luto seja respeitado. “Precisamos falar mais sobre o tema, criando um ambiente de empatia e acolhimento”, ressalta o médico.

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Entenda a endometrite

Qualquer pessoa com útero pode contrair endometrite: esta é uma das infecções mais comuns após o parto. Essa condição é comum em pessoas com doença inflamatória pélvica (DIP). Muitas bactérias diferentes podem causar DIP, e o meio de transmissão mais comum da infecção é através de sexo desprotegido.

Pode começar como corioamnionite durante a gestação (sendo mais relatado seu surgimento ao final do período gestacional) e progredir para endometrite após o parto (pós-parto), sendo um pouco mais comum após cesarianas.

Embora inespecíficos (podendo ser associados com outras doenças) os sinais que podem alertar para endometrite são febre, dor pélvica, sangramento ou corrimento vaginal, constipação ou dor ao evacuar, inchaço no abdômen e mal-estar geral, mas a grande maioria dos casos ainda se mantêm assintomáticos e de difícil suspeita para diagnóstico.

O maior impacto está na endometrite crônica, por ser uma inflamação persistente na mucosa endometrial causada por patógenos bacterianos (bactérias que podem causar doenças em seres humanos), como EnterobacteriaceaeEnterococcusStreptococcusStaphylococcusMicoplasma e Ureaplasma. Embora assintomática na maioria dos casos, a endometrite crônica é encontrada em até 40% dos pacientes inférteis..

Testes moleculares ajudam no diagnóstico da endometrite

Tratamento adequado aumentam as chances de gravidez e nascimento de bebê saudável

A boa notícia é que a endometrite tem cura quando devidamente tratada com antibióticos. Para tanto, exames prévios são necessários para se identificar o patógeno causador da infecção. O teste molecular é o mais indicado para diagnóstico de endometrite crônica. Ele permite a identificação do patógeno, a detecção de bactérias não cultiváveis e o resultado em tempo real.

O exame molecular consiste em um RT-PCR que detecta o DNA de todas as bactérias presentes na biópsia endometrial, mesmo as difíceis de serem cultivadas. É mais amplo que o exame de cultivo, que identifica apenas os patógenos endometriais cultiváveis”, explica sVirginia Regla, assessora científica da Igenomix.

A microbiologia molecular, além de poder detectar patógenos bacterianos que causam endometrite crônica, permite orientar uma terapia direcionada de acordo com o perfil bacteriano patológico encontrado. Outro exame, a histeroscopia, que identifica alterações no útero, como miomas, embora realizado também em tempo curto, não detecta bactérias, sejam elas cultiváveis ou não cultiváveis – tampouco o patógeno – e, portanto, não identifica a causa da endometrite crônica.

Com Assessorias

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