A designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, e o motoboy Wesley Neves Pereira (31), vítimas do envenenamento por metanol, tiveram suas vidas interrompidas pela cegueira e graves sequelas neurológicas. Seus relatos alertam sobre a crise de saúde pública causada pela falsificação de bebidas.

A crise de contaminação de bebidas alcoólicas com metanol, um veneno industrial, escancarou uma das faces mais cruéis do mercado ilegal: a destruição de vidas de pessoas comuns. Na série Vida sem Álcool, o portal Vida e Ação traz as histórias de sobreviventes que hoje carregam sequelas permanentes, sendo a cegueira a mais emblemática.

O preço de uma noite de celebração

O caso de Radharani Domingos, uma designer de interiores de 43 anos, chocou o país. Após sair para se divertir com as amigas para celebrar o aniversário de uma delas e consumir apenas três caipirinhas em um bar da zona sul de São Paulo, ela perdeu totalmente a visão.

Em entrevista exclusiva ao Fantástico deste domingo (12/10), Radharani relatou o drama da intoxicação, que a deixou cega e exigiu 15 dias de internação. Ela sofreu convulsões e precisou ser intubada. Recebeu alta da UTI no final de setembro de 2025, mas os médicos consideram a perda da visão irreversível.

Sua alta hospitalar, celebrada com alívio, veio acompanhada do pânico de perder a autonomia de uma vida ativa.  Apesar do prognóstico de cegueira definitiva, ela tenta um tratamento alternativo, sem comprovação científica, que vem sendo utilizado no Irã, na tentativa de recuperar ao menos parcialmente a visão.

Em entrevista ao Fantástico, ela afirmou que se sentia “envenenada” e indignada com a situação.É revoltante você pedir caipirinha e tomar metanol. Me envenenaram e estão envenenando outras pessoas.” A revolta de Radharani Domingos é o espelho de toda a sociedade.

Leia e previna-se – série ‘Vida sem Álcool’

O futuro incerto do Motoboy que bebeu uísque adulterado em baile funk

Outra história emblemática é a de Wesley Neves Pereira, motoboy de 31 anos. Ele recebeu alta após uma luta de 45 dias internado devido à intoxicação por metanol, presente em um uísque adulterado que ele comprou junto com amigos em um baile funk na  periferia de São Paulo. Ele não chegou a observar se a garrafa tinha lacre de segurança.

No dia seguinte, os primeiros sintomas intensos e diferentes de uma ressaca normal. Em seu relato ao Jornal Nacional em 8 de outubro, ele descreveu os sintomas iniciais — dor e queimação abdominal intensa. “Senti uma dor na barriga e falei: ‘Mãe, está doendo muito. Pegando fogo, está queimando”).

Wesley perdeu a visão e enfrenta sequelas neurológicas e motoras graves. Além da perda quase total da visão, a toxina afetou seus pulmões, levou-o a sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e exigiu traqueostomia e ventilação mecânica.  A irmã de Wesley, Sheily Pereira Neves, emocionou-se ao falar da transformação: “A gente vê ele como ele era e como ele está…”.

O motoboy agora lida com fraqueza nos movimentos e dor nas pernas, além da cegueira. “Muita fraqueza no movimento, mobilidade ruim. Eu tenho que ficar tomando remédio direto para dor nas pernas. A minha visão eu perdi também”.

Após a alta do hospital em outubro de 2025, ele expressou preocupação com o futuro, já que a visão comprometida o impede de voltar a trabalhar para ajudar os pais financeiramente.  

Sequência de danos

Wesley Neves Pereira e Radharani Domingos são vítimas da mesma onda de intoxicação por metanol ocorrida em São Paulo em 2025. Infelizmente, eles não são casos isolados. O metanol tem vitimado pessoas em diferentes estados, deixando danos permanentes, como cegueira e lesões cerebrais, além da morte. Mesmo quem sobrevive pode ficar com sequelas duradouras, como problemas visuais, dificuldades cognitivas e até sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson.

As tragédias recentes no Brasil, envolvendo bebidas alcoólicas adulteradas, trouxeram à tona relatos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas por essa intoxicação.

  • Lesões neurológicas persistentes: Sobreviventes como o comerciante Cláudio Crespi (55), que chegou a ficar em coma, também carregam sequelas permanentes, como apenas 10% da visão e dificuldades na fala e locomoção. O metanol pode causar sequelas neurológicas graves, que resultam em dificuldades cognitivas e danos cerebrais, incluindo edemas e hemorragias cerebrais e até mesmo sintomas de parkinsonismo, conforme alertam neurologistas.
  • Perda da visão: Um estudante em São Paulo, após consumir gin com metanol, relatou ter acordado com a visão completamente escura e uma forte dor de cabeça. Ele sobreviveu, mas passou por dias de internação. O metanol, ao ser metabolizado pelo organismo, se transforma em ácido fórmico, uma substância que ataca o nervo óptico, causando danos visuais graves e, muitas vezes, irreversíveis.
  • Outros sintomas graves: Além da cegueira, vítimas relataram sintomas como confusão, náusea, vômito, falta de coordenação, dores abdominais intensas, dificuldade respiratória e convulsões. A intoxicação também pode levar à falência de órgãos e causar danos permanentes no sistema nervoso.

Alerta de saúde: sinais de intoxicação

A intoxicação por metanol é uma emergência médica. O metanol é traiçoeiro, pois os primeiros sintomas se assemelham a uma embriaguez comum, surgindo de 12 a 48 horas após o consumo. Por isso, A informação e a vigilância são essenciais para proteger a sua saúde e a de sua família. Não confie em bebidas de origem duvidosa e preços muito abaixo do mercado.  Os sinais incluem:

Atenção: Qualquer pessoa que tenha ingerido bebida alcoólica com metanol e apresente estes sintomas deve procurar ajuda médica imediatamente, pois o diagnóstico e tratamento rápidos são essenciais para evitar danos permanentes e a morte

Sintomas de alerta (buscar ajuda médica imediata):

  • Visão embaçada ou “visão de nevasca” (o sintoma mais grave).
  • Dor de cabeça intensa e persistente.
  • Náuseas, vômitos e dor abdominal severa.
  • Dilatação das pupilas e respiração acelerada.
  • Confusão mental e tontura intensa.

Saiba quem são as cinco vítimas fatais do metanol

As cinco vítimas fatais já confirmadas do metanol são Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, Marcos Antônio Jorge Júnior, 46, e Marcelo Lombardi, 45, moradores da cidade de São Paulo; Bruna Araújo, 30, moradora de São Bernardo do Campo; e Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23, morador de Osasco.
  • Ricardo Lopes Mira, de 54 anos: Primeira vítima fatal confirmada, o empresário do setor de plásticos passou mal em 12 de setembro, após beber em um bar na Mooca, zona leste de São Paulo, e morreu quatro dias depois, em 16 de setembro. era conhecido por amigos e familiares como um bebedor contumaz. Apesar disso, também gostava de esporte. Em seu perfil no Facebook, há uma série de foto de fotos, de 2012, em que ele aparece jogando pelo time de polo aquático no Clube Atlético Juventus, na Mooca. passou mal em 12 de setembro após consumir a bebida.
  • Marcelo Lombardi, de 45 anos: A segunda vítima do metanol em São Paulo morreu no dia 28 de setembro. Ele era advogado e dono de uma imobiliária familiar na região do Sacomã, na zona Sul, onde morava com a esposa. O casal tinha uma cachorrinha. A família de Marcelo mora no bairro há mais de 30 anos. Ele e as três irmãs tinham perdido o pai há menos de dois anos.
  • Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos: Em 2 de outubro, a Secretaria da Saúde de São Paulo confirmou a terceira morte. Ele passou mal ao beber no mesmo bar que Ricardo, em 28 de setembro. O homem tomou vodca e foi o único do grupo de amigos a passar mal. Os demais ingeriram cerveja. Antes de morrer, chegou a perder a visão. Segundo a amiga, Marta Galvão Alves, Marcos era “uma pessoa sensacional” que tinha “um coração grande”. Ela chamou a morte do amigo de “uma fatalidade irreparável”
  • Bruna Araújo, de 30 anos: A única mulher dentre as vítimas fatais do metanol, a designer de extensão de cílios e sobrancelhas faleceu no último dia 6 de outubro. Ela estava internada desde 29 de setembro, após beber vodca adulterada com suco de pêssego durante uma festa com as amigas. No dia seguinte, ela chegou a enviar uma mensagem de áudio a uma amiga, pedindo ajuda para ir a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).
  • Daniel Antonio Francisco Ferreira, de 23 anos: A quinta vítima fatal por intoxicação de metanol em São Paulo é a mais jovem. Em Osasco, onde a vítima morava, há 10 casos em investigação. Outros seis foram descartados.

Com Assessorias e Agências

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *