Segundo o Google Trends, as buscas por termos relacionados ao metanol cresceram até 2.800% nos últimos dias, reflexo da preocupação da população com os casos de intoxicação após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas no Brasil, que já levaram cinco pessoas à morte, além de causar sérios danos à visão.
O metanol é um álcool incolor e volátil, usado principalmente na indústria como combustível, solvente e matéria-prima para tintas e plásticos. Quando ingerido, mesmo em pequenas doses, pode causar dor de cabeça, tontura, náusea e visão turva nas primeiras horas.

Altamente tóxico, o metanol é metabolizado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, que tornam o sangue ácido e provocam danos severos. Em situações graves, a intoxicação evolui para convulsões, falência múltipla de órgãos e óbito.

Também preocupam os especialistas os danos irreversíveis ao nervo óptico. Isso ocorre porque o ácido fórmico se acumula no organismo, prejudica a oxigenação celular e leva à morte das fibras nervosas responsáveis pela visão.

Segundo dados da revista científica Nature, a ingestão de apenas 10 ml de metanol diluído em uma bebida é suficiente para causar lesões neuro-oftalmológicas graves, e 30 ml podem ser fatais.

Diante do perigo, especialistas aproveitam o Dia Mundial da Visão, celebrado neste 9 de outubro, para reforçar o alerta sobre a importância de cuidar da saúde ocular, principalmente diante dos casos de intoxicação por metanol no Brasil, que podem causar graves problemas à visão.

Recomendação é buscar socorro médico imediatamente

Oftalmologistas explica como a substância afeta o nervo óptico e reforça a importância de diagnóstico rápido

Sintomas visuais são sinais de alerta importantes sobre a intoxicação por metanol. Ela pode causar visão turva súbita e progressiva, fotofobia, sensação de neblina ou véu, manchas no campo visual, dificuldade em distinguir cores e perda parcial ou total da visão. Em casos de suspeita de intoxicação, a recomendação é procurar imediatamente um pronto-socorro.

A diferença em relação à visão turva de uma ressaca comum é que, no caso do álcool etílico, a turvação é leve, transitória e melhora com repouso e hidratação, enquanto no metanol ela é intensa, persistente, tende a piorar rapidamente e pode evoluir para cegueira irreversível se não houver tratamento precoce”, alerta Ricardo Filippo, da COI Oftalmologia.

No cenário de emergência, o papel do oftalmologista é reconhecer precocemente os sinais visuais de intoxicação por metanol, diferenciar de outras causas de visão turva, documentar a extensão do dano ocular e alertar imediatamente a equipe clínica sobre a gravidade do quadro, já que o tratamento deve ser iniciado sem demora”, conclui.

Efeitos são sentidos entre 8 e 24 horas após ingestão do metanol

Os sintomas visuais da intoxicação por metanol geralmente começam entre 8 e 24 horas após a ingestão, com uma visão borrada ou embaçada, como se houvesse uma névoa, com manchas no seu campo de visão, sensibilidade à luz e pode chegar até a perceber uma visão totalmente apagada.

A oftalmologista Tatiana Leão Vanini, do CBV Hospital de Olhos, afirma que podem surgir manchas escuras no centro do campo visual, dificuldade para enxergar cores, principalmente o vermelho, e perda rápida da acuidade visual, que pode evoluir até a cegueira.

As pupilas também podem parar de reagir normalmente à luz. Um sinal que ajuda a diferenciar esse quadro de outros problemas oculares é a perda de visão nos dois olhos de forma rápida, com pupilas alteradas, mas sem alterações visíveis no fundo do olho nos primeiros exames, o que é típico da neuropatia óptica por metanol.”

Ácido fórmico, um veneno para os olhos

As oftalmologistas explicam que quando o metanol entra em contato com o corpo, ele é transformado em ácido fórmico, uma substância altamente tóxica que pode causar danos às fibras nervosas da retina e do nervo óptico, considerada o principal agente causador dos sintomas e cegueira

O ácido fórmico atrapalha o funcionamento das mitocôndrias, que são como usinas de energia dentro das células. O nervo óptico, que é responsável por levar as informações da visão do olho até o cérebro, precisa de muita energia para funcionar bem, então ele é um dos primeiros a ser afetado”, explica a oftalmologista da Afya Ipatinga Fabiana Athayde Martins Araújo.

Quando isso acontece, os “fios” dos neurônios começam a se danificar, e as células da retina que mandam os sinais visuais para o cérebro começam a morrer. “Isso pode levar à perda parcial ou total da visão, um quadro chamado neuropatia óptica tóxica”, 

Exames oftalmológicos de urgência

Na suspeita de intoxicação por metanol, alguns exames oftalmológicos podem ser fundamentais já nas primeiras horas, com o exame do fundo do olho podendo estar normal no início, mas em pouco tempo pode revelar edema do nervo óptico, seguido por palidez ou sinais de atrofia.

A capacidade visual geralmente já está reduzida de forma importante logo na avaliação inicial. Quando disponível, o campo visual computadorizado pode mostrar escotomas centrais, típicos do quadro”, explica a oftalmologista Fabiana Athayde Martins Araújo.

A tomografia de coerência óptica (OCT) pode detectar precocemente o edema do nervo óptico e, em fases mais tardias, o afinamento da camada de fibras nervosas da retina. A avaliação das pupilas costuma mostrar dilatação com resposta à luz lenta ou ausente. Por fim, os potenciais evocados visuais (PEV) ajudam a confirmar a lesão, indicando falhas ou ausência na condução dos sinais pelo nervo óptico”, conclui a oftalmologista da Afya Ipatinga.

Tratamento deve ser iniciado em até 24 horas

No hospital, o tratamento costuma envolver uma abordagem multidisciplinar, que busca neutralizar os efeitos do metanol no organismo e, ao mesmo tempo, proteger a visão. O acompanhamento oftalmológico é parte fundamental desse processo. Esse processo de ser rápido e, sem tratamento imediato, pode deixar sequelas permanentes.

O tratamento só é eficaz se iniciado precocemente, idealmente nas primeiras 8 a 24 horas após a ingestão, antes que ocorra dano estrutural permanente; após 48 horas, a chance de recuperação visual é muito baixa”, explica Ricardo Fillipo.

Um dos desafios está no tempo de reação. Existe uma janela curta para que o tratamento oftalmológico seja eficaz e consiga impedir a evolução para a cegueira. Ultrapassado esse limite, as lesões tendem a se tornar irreversíveis.

Tatiana Vanini explica que o fomepizol – antídoto importado pelo Ministério da Saúde para bloquear a intoxicação por metanol – tem efeito positivo para impedir o agravamento do quadro ocular nos pacientes.

O fomepizol age impedindo que o fígado metabolize o metanol ingerido nessas duas substâncias tóxicas – formaldeído e ácido fórmico. Se o metanol não vai ser transformado em ácido fórmico, então não teríamos então o efeito deletério dessa substância sobre o nervo óptico”, explica a oftalmologista.

Para os sobreviventes que ficam com sequelas, a reabilitação envolve recursos como treinamentos visuais, tecnologias assistivas e adaptações na rotina, que ajudam a recuperar a autonomia. Ainda assim, especialistas reforçam que a prevenção continua sendo a forma mais eficaz de evitar tragédias como as registradas em São Paulo.

Com Assessorias

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