É comum associar o amor com as palpitações excessivas do coração, à sensação de paz interior ou até mesmo aos hormônios e seus efeitos no cérebro. O que poucas pessoas sabem é que, além dos sintomas já conhecidos, existem outras reações cardíacas que simbolizam esse sentimento.
Uma delas é a diminuição dos riscos cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo.

Um estudo realizado pela Sociedade Britânica Cardiovascular aponta que 42% das pessoas que não possuem um parceiro têm mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares. Com a proximidade do Dia dos Namorados, em que muitos celebram o amor, mas muitos também se entristecem com a solidão, é preciso ficar atento para a saúde do coração.

Coração partido nem sempre é sinônimo de decepção amorosa ou sofrimento pela perda ou partida de um grande amor. A síndrome do coração partido é caracterizada por sintomas que se assemelham a um infarto do miocárdio, embora não haja obstrução das coronárias. Entre os sintomas, estão dor no peito, falta de ar, palpitações e até mesmo desmaios repentinos.

Ao contrário do que muitos pensam, esta síndrome não é exclusiva de pessoas que vivenciam o fim de um relacionamento amoroso. Ela está relacionada ao estresse emocional e pode ser desencadeada por qualquer evento estressante, como a perda de um ente querido, um acidente, problemas financeiros ou até mesmo uma discussão intensa.

“Durante um episódio, o ventrículo esquerdo do coração sofre uma paralisia no ápice e no centro, que o deixa sem força para desempenhar sua função adequada. Esse quadro é desencadeado pela exposição excessiva a hormônios do estresse, como a adrenalina, que são produzidos quando somos submetidos a fortes emoções”, explica o cardiologista Gabriel Gonzalo, do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês (IRSSL).

Além dos sintomas físicos, a Síndrome do Coração Partido pode ter um impacto emocional significativo. Mas ela não ocorre somente em situações negativas, Isso porque a produção de adrenalina e de outros hormônios que causam estresse aumenta em situações de forte emoção – inclusive positivas – e isso pode interferir no funcionamento do coração.

“Muito se fala sobre a Síndrome do Coração Partido e sua relação com situações ruins, mas também acontece quando a pessoa é submetida a uma felicidade extrema por causa dessa descarga de adrenalina, ainda que seja muito raro”, pontua a médica cardiologista Salete Nacif, do Hcor.

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Doença é mais frequente entre as mulheres

síndrome do coração partido, também conhecida como cardiomiopatia induzida por estresse ou síndrome de Takotsubo, foi diagnosticada pela primeira vez por médicos japoneses.  Embora seja considerada rara, pode ter consequências graves e até mesmo levar à morte.

Estima-se que de 1% a 4% das pessoas afetadas por essa síndrome possam evoluir para óbito, especialmente quando não tratadas. Isso ocorre devido a complicações como arritmias cardíacas, formação de trombos intracavitários ou insuficiência cardíaca refratária. Um aspecto relevante é a maior prevalência dessa síndrome em mulheres.

“Alterações hormonais, especialmente durante a menopausa, quando ocorre a diminuição da produção de estrogênio, um hormônio protetor do coração, podem contribuir para essa maior suscetibilidade. Além disso, as mulheres tendem a apresentar maior sensibilidade ao estresse físico e emocional”, diz o cardiologista Gabriel Gonzalo.

Segundo ele, o tratamento depende da gravidade dos sintomas, mas é semelhante ao tratamento para insuficiência cardíaca. Entre eles, o uso de medicações inibidoras da enzima conversora de angiotensina (IECA), diuréticos e beta bloqueadores, assim como uso de vasodilatadores para enfrentar a mecanismo que causou o problema e inclusive pode incluir antidepressivos e ansiolíticos se for o caso.

Síndrome não ocorre só em situações negativas

Para a cardiologista Bianca Maria Prezepiorski, diretora médica do Hospital Costantini, de Curitiba, referência em doenças do coração, ter um amor, afeto e relacionamentos saudáveis, tanto os românticos como os familiares e profissionais, faz muito bem ao coração.

“O contrário, viver sob estresse, manter relacionamentos tóxicos, deixar-se levar pela tristeza da solidão, pode causar a síndrome do coração partido, disfunção cardíaca desencadeada quando vivemos uma experiência de emoção negativa”, ressalta, apontando que a causa está nos hormônios.

Ela explica que o amor libera hormônios da felicidade, como ocitocina, serotonina, endorfina, dopamina. “A tristeza, um rompimento, uma briga, uma discussão, por exemplo, liberam cortisol, que comprime os vasos sanguíneos, aumenta a pressão e os batimentos cardíacos. Uma tristeza longa será prejudicial ao coração”, explica Dra Bianca.

A descarga desses hormônios na corrente sanguínea pode estreitar as artérias que irrigam o coração, causando dor no peito, queda de pressão e até desmaios. A síndrome do coração partido costuma ser passageira, mas demanda atenção, para evitar complicações. “Se a pessoa já tem um histórico cardíaco, é preciso ter cuidado”, afirma a médica.

Ocitocina, o hormônio do amor, evita até AVC

A médica cardiologista Salete Nacif, do Hcor, explica que o estado emocional tem parte importante em todas as glândulas e órgãos, principalmente o coração, que passa por alterações na aceleração, nos vasos sanguíneos e nas plaquetas. 

“Quando as pessoas estão em um relacionamento saudável, geralmente o estado emocional delas também está melhor. O cérebro e o coração são parte de um eixo só, então elas tendem a ter melhores parâmetros hemodinâmicos, ou seja, a pressão arterial fica mais baixa e os batimentos cardíacos mais controlados”, afirma.

Além disso, o corpo produz a ocitocina, o chamado “hormônio do amor”, responsável por reduzir o estresse e promover o bem-estar físico e emocional. Junto a isso, promove a vasodilatação, aumentando o diâmetro das artérias, inclusive as coronarianas, prevenindo isquemias e o surgimento da hipertensão arterial. “Esse hormônio também diminui os sintomas de depressão, ansiedade e fobia social.

Nas mulheres, os distúrbios psicológicos são responsáveis por causar duas vezes mais Doenças Isquêmicas do Coração (DIC). Já nos homens, a liberação da ocitocina também previne a hipertensão arterial e favorece o relaxamento muscular”, explica a especialista.

Há também a descarga de outros neurotransmissores, como a serotonina e a endorfina, chamados de “hormônios benéficos”, que estimulam o bem-estar emocional e físico. Entretanto, a adrenalina também entra em ação quando a emoção é a chave principal, mas esse sentimento, quando em excesso, pode causar uma reação um pouco inusitada.

Como cuidar do seu coração

Apesar de não existir uma forma eficaz para prevenção total, Dr. Gabriel explica que a adoção de alguns hábitos pode contribuir para uma melhor saúde cardíaca. “Devemos adotar um estilo de vida mais saudável, tanto física quanto emocionalmente, buscando atividades que aliviem nossa tensão e promovam o autocontrole, como atividade física e prática de esportes ou atividades de relaxamento”, finaliza.

Além dos cuidados mais básicos, como uma dieta balanceada com pouco sódio, o controle da hipertensão e combate ao sedentarismo, Dra. Salete explica que fazer atividades junto com o parceiro pode ajudar a manter o órgão funcionando bem. Isso acontece porque os hormônios liberados durante esse convívio ajudam a regular a pressão e os batimentos cardíacos.

“O ideal é fazer algo que leve prazer ao casal, alinhado com as limitações de cada um. Há várias atividades que podem ser realizadas em conjunto, como o próprio exercício físico, uma caminhada ou, caso procurem algo diferente, aulas de dança de salão, por exemplo. Qualquer atividade vai ajudar o coração a bater mais saudável”, finaliza a cardiologista.

Para evitar a síndrome do coração partido, a doutora Bianca recomenda sair de relações tóxicas, no trabalho e fora dele, dormir bem, descansar, praticar atividades físicas e reservar um tempo para o lazer. “E, claro, tenha um amor, cultive a família e as boas amizades”

Com Assessorias

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