Homem negro e criado em uma comunidade carente da zona oeste do Rio de Janeiro, Glauber Lima via na Medicina uma oportunidade de mudar sua realidade difícil, mas acabou descobrindo sua grande vocação: cuidar das pessoas, principalmente as mais carentes, e mostrar a elas que sim, é possível reescrever histórias e ocupar espaços que pareciam intransponíveis.
Hoje, aos 26 anos, o Dr. Glauber comemora o Dia do Médico (18 de outubro) se sentindo realizado em poder trabalhar na saúde pública, oferecendo um cuidado humanizado e acolhedor a cada paciente que atende. “Acredito que sou um médico com uma história que os pacientes se identificam e confiam”, define o médico da Clínica da Família Rosino Baccarini, em Bangu.
Glauber transformou sua história em uma missão de cuidar dos pacientes com carinho e compartilhar sua trajetória pessoal e profissional nas redes sociais, para mostrar a outras pessoas que também é possível ocupar esses espaços. Atualmente, ele conta com um perfil no Instagram com mais de 393 mil seguidores.
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O verdadeiro significado de ser médico
Ingressar nessa profissão não foi fácil. Devido às dificuldades financeiras, Glauber encontrou no shopping perto de casa um lugar improvisado para estudar com mais conforto e se preparar para o vestibular. O esforço valeu a pena e ele foi aprovado em uma faculdade federal do Rio de Janeiro.
No seu primeiro estágio, em uma clínica da família da cidade do Rio, Glauber compreendeu o verdadeiro significado de ser médico e descobriu sua identificação profunda com a profissão.
Eu percebi que realmente gostava da Medicina quando comecei a atuar nos estágios. E também, durante a faculdade, o contato com professores que tinham uma abordagem mais humanizada foi fundamental para minha inspiração nessa profissão”, declara Glauber.
Mas foi no momento em que entrou em contato direto com os pacientes que ele descobriu meu verdadeiro interesse e vocação. E foi nesse ponto que a vontade de trabalhar no SUS também começou.
Coincidentemente, o estágio foi na unidade de saúde que Glauber frequentava enquanto paciente, a Clínica da Família Olímpia Esteves, em Padre Miguel. Foi com essa experiência que ele compreendeu a importância do SUS para a população, especialmente para pessoas de comunidades carentes, como aquela onde ele cresceu.
Foi em sua unidade básica de referência que ele começou a perceber que, naquela posição de médico, também servia de inspiração para pessoas que tinham a mesma origem e histórias de vida muito parecidas com a dele, e que viam naquele rapaz a prova de que poderiam sonhar e alcançar novos espaços.
Comecei a entender o verdadeiro sentido de estar do outro lado da mesa. Percebia o sorriso das pessoas que me viram crescer ao me encontrar como médico. E também o olhar dos jovens da minha rua, que me viam ali e, mesmo sem dizer uma palavra, entendiam que o futuro deles também podia ser naquele lugar, ou onde quisessem”, conta ele. “Desde então, levo esse propósito comigo: mostrar para os nossos que também podemos ocupar esses espaços. A gente pode chegar lá”.
A motivação para seguir essa profissão sempre veio da família e, justamente, na época em que Glauber se identificou com a Medicina, ele sofreu uma grande perda familiar. Pouco antes da formatura, sua avó faleceu e isso quase o fez desistir, mas com o apoio da família ele seguiu em frente.
Hoje, Glauber vê também os seus seguirem seus passos: a mãe está se formando em Nutrição, a irmã cursa Direito e o pai está estudando Administração. Já formado,Glauber compartilha sua história nas redes sociais, inspirando jovens de comunidades semelhantes. Ele destaca a importância do acolhimento na medicina:
Eu me vejo nos meus pacientes e eles se veem em mim. Um abraço no final da consulta pode dizer muito. Levo saúde para quem mais precisa e em contrapartida recebo um sorriso, frases de carinho ou até um pão de queijo quentinho quando vou consultá-los na casa deles”.
Fonte: SMS-Rio