Médicos, enfermeiros, estudantes, lideranças indígenas e representantes de movimentos sociais ocuparam as ruas de Belém (PA), nesta terça-feira (11), para denunciar o que chamam de uma das dimensões mais negligenciadas da emergência climática: a saúde pública. A Marcha Global Saúde e Clima, que reuniu cerca de 3 mil pessoas em um percurso de 1,5 km entre a Embaixada dos Povos e a Zona Azul da COP30, aconteceu dois dias antes do “Dia da Saúde” na COP30, quando os debates estarão centrados nesta pauta.
A mobilização foi realizada pelo Movimento Médicos pelo Clima, idealizado pelo Instituto Ar, em parceria com a Rede de Trabalho Amazônico (GTA), movimento que atua na defesa dos povos da floresta e da diversidade amazônica. A a médica patologista especialista em Gestão de Sustentabilidade Evangelina Araújo, fundadora do Instituto Ar, fez um alerta:
A mudança do clima é hoje uma crise de saúde. Os efeitos são enormes: adoecimentos, mortes e um custo imenso para os sistemas de saúde. O Brasil precisa sair da inércia e se preparar. Falta planejamento, faltam protocolos, faltam planos emergenciais para enfrentar desastres como enchentes, secas e queimadas. A saúde precisa estar no centro dessa resposta, porque os impactos atingem diretamente a vida das pessoas”.
Com carro de som, faixas e falas de lideranças, o ato percorreu as ruas até a Zona Azul da COP30 com forte presença de movimentos indígenas, organizações da sociedade civil, profissionais da saúde e juventudes. As mensagens nos cartazes refletiam a mensagem da iniciativa: “Não há saúde sem justiça ambiental”, “A crise climática é uma crise de saúde”. Durante o trajeto, representantes se revezaram no microfone, em cima do carro de som, para falar sobre os impactos da crise climática nos territórios e na saúde das populações.

Essa marcha representa a população que sofre com os transtornos climáticos. Médicos e médicas precisam estar próximos de quem enfrenta essa realidade. Estar aqui é estar ao lado de quem tem sofrido todos os danos dos desastres socioambientais”, defendeu a médica Isadora Viana Fernandes, do Movimento Médicos pelo Clima.
Crise climática causa 250 mil mortes adicionais por ano
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050 a crise climática será responsável por 250 mil mortes adicionais por ano, em decorrência de desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. A estimativa é que os custos diretos com saúde decorrentes das mudanças climáticas alcancem de 2 a 4 bilhões de dólares por ano até 2030.
A crise climática já compromete a saúde de milhões de brasileiros. A elevação das temperaturas intensifica casos de estresse térmico e doenças cardiovasculares, enquanto a poluição do ar está diretamente relacionada ao agravamento de doenças respiratórias como asma e bronquite.
Eventos extremos, como enchentes e secas prolongadas, afetam o abastecimento de água, a produção de alimentos e aumentam a incidência de doenças transmitidas por vetores, como dengue, zika e malária. Além disso, o impacto psicológico desses eventos — como perdas materiais, deslocamentos forçados e medo do futuro — tem contribuído para o aumento de casos de ansiedade, depressão e sofrimento mental, especialmente entre populações vulneráveis.
Apesar dos inúmeros impactos, o debate sobre saúde é tratado como tema secundário nas conferências climáticas e não como pauta interligada.
Muitas vezes, esse diálogo acontece de forma fragmentada, especialmente dentro do próprio poder público, onde as pastas são tratadas como se estivessem completamente separadas”, afirma Danielle Cruz, coordenadora do Movimento Saúde Sustentável. “Seguimos tratando apenas as consequências das mudanças climáticas na saúde quando, na verdade, o meio ambiente deveria ser reconhecido como parte da promoção da saúde. Essa perspectiva já está presente na nossa formação enquanto profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), mas ainda falta integrar essa visão à prática e às políticas públicas”.
A mobilização teve a participação de autoridades como Mario Moreira, presidente da Fiocruz, Mario Massuda, secretário-executivo do Ministério da Saúde, e Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena do mesmo ministério.
Saúde e clima são temas intrínsecos. Quando falamos de crise climática, estamos falando de nutrição, de doenças agravadas pelo clima, de destruição ambiental e tudo isso impacta diretamente a saúde das pessoas. Não é possível separar uma coisa da outra. Precisamos tratar clima e saúde como o que realmente são: dimensões inseparáveis da mesma agenda”, defendeu o secretário adjunto de Gestão Administrativa da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará, Edney Pereira.
A iniciativa foi apoiada por Fiocruz, Conselho Regional de Enfermagem do Pará (Coren-PA), 350.org Brasil, Manas da Periferia, Coletivo Pororoka, Movimento Saúde Sustentável, Médicos Sem Fronteiras, Red Clima Salud, Juntos!, iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), Grupo de Trabalho de Saúde Planetária da SBMFC, Hospitais Saudáveis, International Pesticide Standard Alliance (IPSA), Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (CIRAT), Instituto Paraense de Desenvolvimento (IPAD) e Global Climate and Health Alliance, com apoio da RD Saúde.
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Organização abre exposição em Belém mostrando como os eventos climáticos extremos afetam diretamente a saúde das populações mais vulneráveis
Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontece entre 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém (PA), a organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) apresenta a exposição “A crise climática é uma crise de saúde!” na Embaixada dos Povos, área aberta ao público.
A mostra reúne fotografias e painéis informativos que revelam os impactos das emergências climáticas sobre as populações atendidas pela organização em diferentes partes do mundo — como o aumento de eventos climáticos extremos, a perda de vidas, o agravamento da desnutrição, a disseminação de doenças como malária, dengue e cólera, além dos deslocamentos forçados causados por secas e enchentes.
O público também poderá assistir a um vídeo sobre a atuação de MSF durante as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024. A tragédia evidenciou como eventos climáticos extremos podem afetar diretamente a saúde física e mental das pessoas. Na ocasião, MSF apoiou o sistema de saúde local com atendimento psicológico e cuidados médicos em comunidades gravemente atingidas.
Os eventos climáticos extremos representam hoje uma das maiores ameaças globais à saúde. Seus impactos já afetam o cotidiano de milhões de pessoas. Em locais onde o acesso à saúde é limitado, essas consequências são ainda mais graves — e é nesse cenário que MSF, presente em mais de 70 países, testemunha diariamente o agravamento das vulnerabilidades humanas diante da crise climática.
Para garantir a acessibilidade, a exposição contará com audiodescrição em português e inglês, painéis táteis para pessoas com deficiência visual e o vídeo legendado.
Ao levar a exposição para Belém, MSF busca ampliar o debate sobre a crise climática como uma crise de saúde, destacando a importância de incluir as populações em maior situação de vulnerabilidade no centro das decisões globais sobre o clima.
Além da mostra na Embaixada dos Povos, MSF também apresenta a exposição “A crise climática é uma crise de saúde!” na Blue Zone, espaço onde ocorrem as negociações entre os representantes das delegações, entre os dias 12 e 13 de novembro.
Com Assessorias







