O termo “cuidados paliativos” é associado, pela maioria das pessoas, à atenção dada a quem tem uma doença incurável quando está chegando ao fim da vida. Essa interpretação, no entanto, é incompleta, pode gerar resistências e desincentivar que outros enfermos se beneficiem dessa assistência. Por isso, é preciso enfrentar os tabus que envolvem esse assunto e derrubar os mitos que o cercam.
Para estimular esse debate, no próximo dia 12 de outubro será celebrado o Dia Mundial de Cuidados Paliativos. A data – comemorada anualmente no segundo sábado do mês – foi estabelecida pela Worldwide Hospice Palliative Care Alliance, organização não governamental presente em mais de 100 países. O tema escolhido para este ano é “Meu Cuidado, Meu Direito”.
A Organização Mundial de Saúde define cuidados paliativos como “a assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos espirituais”.
São, portanto, cuidados que devem ser oferecidos para todos aqueles que enfrentam uma doença grave já a partir do diagnóstico, seja um câncer de mama em estágio inicial com grande chance de cura ou um quadro avançado de Alzheimer, por exemplo. Esse conjunto de ações também é indicado para pessoas com problemas cardiovasculares, respiratórios ou renais, diabetes, artrite reumatoide, AIDS e outras doenças neurodegenerativas, como Parkinson.
“Os cuidados paliativos fazem parte de uma abordagem mais humanizada, com o intuito de promover alívio ao paciente e às famílias”, explica Euro Palomba, urologista e CEO da Rede Relief. “Esse acompanhamento visa amenizar a dor e reduzir desconfortos causados pela própria doença ou por tratamentos, como náusea, falta de apetite, falta de ar e fadiga. Já do ponto de vista emocional, o objetivo é oferecer suporte psicológico para que o paciente e as pessoas próximas possam lidar com angústias, medos e depressão”.
Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine, em 2010, mostrou que pacientes com câncer de pulmão que receberam cuidados paliativos a partir do diagnóstico tiveram maior qualidade de vida durante o tratamento em comparação àqueles que receberam apenas a terapia convencional. Eles também apresentaram menos sintomas depressivos (16%, contra 38% entre o segundo grupo que não recebeu a atenção integral) e viveram, em média, dois meses a mais.
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Demanda é maior que a oferta no Brasil
No Brasil, a demanda ainda é maior que a oferta no setor. De acordo com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), o País conta com cerca de 177 equipes nos 2.500 hospitais com mais de 50 leitos – isso representa menos de 10% dos estabelecimentos de saúde. Mas existem bons sinais de mudança.
Em novembro de 2018, o Ministério da Saúde publicou uma resolução que normatiza a oferta de paliativos como parte dos cuidados continuados integrados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), mas poucos ainda têm acesso a esse serviço.
Em São Paulo, a Rede Relief possui duas Unidades de Cuidados Continuados e que contam com times especializados em paliativos. “As equipes multidisciplinares são formadas por médicos especialistas nas mais diversas patologias, além de psicólogos, fonoaudiólogos e enfermeiros, todos preparados para dar apoio ao doente e também à família”, conta Euro Palomba.