Você já parou para contar quantas mulheres cientistas você estudou na escola? Assim como grande parte das áreas de trabalho, a ciência ainda é um ambiente estritamente associado ao universo masculino. No Brasil, apenas 31% das posições em STEM ((Science, Technology, Engineering and Math – sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são ocupadas por mulherese sua presença em cargos de liderança em ciência e tecnologia varia entre 0% e 2%.

De acordo com o estudo Global Gender Gap Report 2023 do World Economic Forum o Brasil, um dos maiores países da América Latina, está na 57º posição no ranking global de 146 países em relação à igualdade de gênero. Trata-se de um avanço impressionante em relação ao ranking de 2022, quando o Brasil estava na 94º posição. É um sinal de que o país está trabalhando para avançar nos vários indicadores que estão por trás deste ranking.

Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência propõe o reconhecimento das contribuições femininas para o avanço científico e promove a igualdade de gênero nesse campo. No contexto global chama a atenção o fato de que, no setor internacional de tecnologia – onde o domínio das disciplinas STEM é essencial –, a presença da mulher em posições de liderança é limitada.

Para as engenheiras Franciele Nogueira e Camila Velloso, lideranças da Scala Data Centers e da Vertiv Latin America, a inclusão da mulher no mundo STEM é uma jornada em progresso. Conquistas estão acontecendo, mas ainda há muito a se fazer.

O estudo do World Economic Forum revela que, em todo o mundo, a participação da mulher em posições sêniores de liderança como vice-presidentes e diretores em STEM é de apenas 12,4%. A foto do topo da pirâmide da indústria de tecnologia reforça a tendência que começa com o recrutamento de estudantes STEM: apenas 36,6% dos alunos destes cursos são mulheres.

ONU estima que, por volta de 2050, 75% de todas as posições profissionais serão relacionadas às disciplinas STEM. Com números como estes, é crítico prestar especial atenção à educação e participação da mulher neste universo. As estatísticas são perturbadoras. De acordo com a UNESCO, somente 35% dos formados nas áreas de STEM são mulheres.

No Brasil, dados de 2019 do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, um órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia – revelam que, em todo o país, apenas 35% dos bolsistas de cursos de mestrado em ciências exatas são mulheres. Nas áreas de engenharia e computação, essa marca baixa para 33,6% dos bolsistas.

Nas disciplinas de humanas, por outro lado, a presença de mulheres cursando o mestrado é maciça: 66%. O mesmo relatório revela que os fundos para projetos de mestrado das áreas de humanas são até 60% menores do que os disponibilizados para teses das disciplinas STEM. Essa situação acaba reforçando estereótipos, entregando mais oportunidades a um único gênero.

O impacto desta realidade sobre a economia brasileira é expressivo. Um estudo realizado pela Brasscom – Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais em 2021 indica que, até 2025, 797 mil empregos serão gerados no setor de tecnologia. Tudo indica que essa demanda não será atendida, pois há falta de profissionais capacitados nestas áreas no Brasil. A previsão é de um déficit anual de 106 mil talentos com expertise em STEM. A reduzida presença de mulheres neste contexto contribui para essa situação.

Um mundo digital com poucas mulheres é um universo mais pobre. De acordo com o UN Gender Snapshot 2022 report, da ONU, esse quadro retirou da economia de países com renda baixa ou média US$ 1 trilhão nos últimos 10 anos. Se nada for feito para corrigir isso, as perdas poderão chegar a US$ 1,5 trilhão até 2025.

O quadro é agravado pela diferença salarial entre homens e mulheres. Um estudo de 2023 da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) mostra que a presença feminina em posições que exigem o domínio das disciplinas STEM é de 28,46%.

Esse índice foi construído a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), relatório de informações socioeconômicas criado a partir de dados entregues ao Governo Federal por empregadores de todo o Brasil. Em Santa Catarina, em particular, profissionais homens com formação em STEM ganham em média R$ 6.908,01 – mulheres realizando o mesmo trabalho atingem o valor de R$ 5.170,06.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a diferença de remuneração entre ambos os gêneros voltou a subir no Brasil em 2022, chegando a 22%. Isso significa que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um brasileiro.

Já um estudo de 2018 do Banco Mundial mostra que a redução da diferença salarial entre os gêneros pode melhorar o PIB dos países em 3,3 pontos percentuais. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual, seriam necessários cerca de 250 anos para alcançar a equidade salarial entre homens e mulheres.

Apesar de a TI ser um setor com alta demanda de profissionais, as mulheres sentem que não integram essa parcela e percebem relutância das companhias durante os processos seletivos. Ainda que enfrentem desafios, a participação delas nesse mercado está crescendo: houve um aumento de 60% de 2015 a 2022, segundo últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). 

Baixos níveis de diversidade e a lacuna de gênero em STEM têm repercussões significativas na economia e na inovação, afetando o crescimento e a criatividade. Menos de 30% das alunas selecionam no ensino superior áreas relacionadas ao STEM. A previsão de que 133 milhões de empregos exigirão habilidades em ciência, tecnologia, engenharia e matemática nos próximos anos destaca a urgência de abordar essa disparidade”, diz Diana Daste, diretora de Engajamento Cultural do British Council para o Brasil. 

Histórias de mulheres que brilharam nas Ciências ao longo dos séculos

Mulheres travam há anos a intensa batalha de adentrarem e garantirem o seu espaço de direto no mundo científico. Da Grécia Antiga até os dias atuais, a discrepância do gênero predominante nas áreas de pesquisa ainda é considerável. Inspiradas pela ambição de conhecer o mundo e entender suas variáveis, personalidades femininas se destacaram ao quebrar o estigma social sobre o papel da mulher na ciência e na sociedade.

A contribuição de mulheres para o campo científico tem auxiliado o desenvolvimento da sociedade em diversos aspectos há muitos anos. No entanto, muitas vezes, os nomes e as histórias dessas cientistas são apagados ou ocultados da história. Por esse motivo, o Passei Direto, maior rede de estudos da América Latina e uma marca do UOL EdTech, escolheu cinco mulheres para destacar a importância dessas figuras na evolução da humanidade, celebrando o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência.

Hipátia de Alexandria ( – 415 d.C.)

Nascida no século IV, no Egito, Hepátia foi aluna de uma escola neoplatônica em Atenas, na Grécia, onde desenvolveu estudos sobre a aritmética de Diofanto de Alexandria, conhecido como o pai da álgebra. Ao retornar para o Egito, tornou-se professora de matemática e geografia na Academia de Alexandria, e mais tarde foi promovida a diretora.

Considerada a primeira mulher matemática da história em uma época em que as mulheres ainda não haviam conquistado diretos civis, Hepátia foi responsável por construir um astrolábio (instrumento naval), um hidrômetro e um higroscópio (material que absorve a água). Infelizmente, a vida inspiradora de Hepátia foi interrompida por conta do seu ímpeto pelo conhecimento. A jovem foi assassinada por defender o racionalismo científico grego.

Ada Lovelace (1815 – 1852)

No dia 10 de dezembro de 1815, em Londres, na Inglaterra, nascia a matemática e escritora Augusta Ada Byron King. Conhecida como Ada Lovelace, a filha do Lord Byron, se tornou amiga do matemático britânico Charles Babbage, cooperando com ele em seu trabalho de construção de uma Máquina Analítica, uma ferramenta que poderia realizar cálculos utilizando determinadas funções.

Aos 28 anos, Ada traduziu um manuscrito de um jovem matemático e engenheiro italiano escrito em francês sobre uma palestra dada por ele na Universidade de Turim. Em suas notas, a inglesa discorreu sobre como a Máquina Analítica poderia ser utilizada para alavancar o progresso da sociedade e escreveu um algoritmo para que a máquina pudesse computar a Sequência de Bernoulli. Posteriormente, o algoritmo escrito por Ada seria reconhecido como o primeiro programa de computador da história.

Marie Curie (1867 – 1934)

A polonesa Marie Sktodowska Curie é reconhecida como pioneira em diversos aspectos da sua vida profissional. Pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio, ela foi a primeira mulher a receber um Nobel. Além disso, também foi a única a ser laureada com o prêmio por duas vezes em áreas distintas.

Apesar de ter concluído os estudos aos 15 anos sendo destaque da turma, Marie não conseguiu entrar no ensino superior na sua cidade natal, já que a Universidade de Varsóvia não aceitava mulheres. Em 1891, a polonesa conseguiu se mudar para Paris, ingressou na Universidade de Sorbonne, onde adquiriu seu diploma de Física em 1893 e o de Matemática em 1894.

Marie foi responsável pela criação do termo radioatividade ao concluir que a radiação emanava de dentro do átomo. Na Primeira Guerra Mundial, a cientista desempenhou um papel crucial, onde utilizou o raio-X para auxiliar no tratamento de soldados feridos em combate. A tecnologia é utilizada até os dias atuais.

Nise da Silveira (1905 – 1999)

Nascida em Maceió, no estado do Alagoas, em 1905, a brasileira Nise Magalhães da Silveira ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia com apenas 16 anos e se graduou em 1926 em uma turma de 157 pessoas, sendo a única representante feminina.

Ainda jovem, Nise estagiou na clínica do médico neurologista Antônio Austregéliso e teve a oportunidade de mergulhar no mundo da psiquiatria. Em 1933, integrou o Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospício Nacional de Alienados, onde começou a se incomodar com a forma como os pacientes eram tratados.

A atuação de Nise no campo psiquiátrico foi marcada pela oposição e combate às práticas tradicionais da psiquiatria da época, como camisa de força, lobotomia, eletroconvulsoterapia, confinamento e insulinoterapia. Nise propunha tratamentos alternativos e humanizados para garantir a recuperação dos pacientes e foi transferida para trabalhar com terapia ocupacional. A médica ficou conhecida por utilizar a arte como método de remissão dos internos.

Agenda Positiva

Mulheres e Meninas na Ciência: Fiocruz promove Imersão no Verão 2025

O Programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência, da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz), promove o evento Imersão no Verão 2025, com cinco dias de atividades – de 10 a 14 de fevereiro -, voltadas para 200 estudantes do ensino médio da rede pública do Rio de Janeiro.
A programação inclui a visitação das alunas aos laboratórios e espaços de pesquisa, acompanhadas por pesquisadoras da Fiocruz, que tornarão pública a rotina profissional, a fim de despertar o interesse das meninas para a carreira nos campos da saúde e ciência. A programação também engloba mesas de debates e atividades culturais.

Segundo a coordenadora de Divulgação Científica da Vpeic/Fiocruz, Cristina Araripe, a iniciativa tem como principal objetivo promover debates sobre a importância atual da equidade de gênero e raça na ciência. “Com a finalidade de aproximar a sociedade deste grande desafio, que é a inclusão de mais mulheres e meninas na pesquisa, a Fiocruz vai, mais uma vez, abrir as suas portas, seus laboratórios para que jovens alunas de ensino médio conheçam de perto os projetos desenvolvidos pela instituição”, destacou.

Ampliar acesso a universidades

A edição deste ano pretende ampliar e fortalecer as iniciativas e experiências já existentes, com foco em duas importantes questões de base. “De um lado, queremos envolver mais pesquisadoras, gestoras e alunas de pós-graduação em nossas ações educativas, de popularização e divulgação científica, de outro, queremos contribuir para que as alunas de escolas públicas participantes tenham mais acesso às universidades, em áreas de conhecimento, onde existem poucas mulheres no mercado de trabalho. Na própria Fiocruz, em setores de produção de vacinas, imunobiológicos, medicamentos, ou seja, onde há sub-representação feminina na pesquisa em CT&I”, argumenta Cristina.

Comemorado em todo o mundo em 11 de fevereiro, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência já entrou no calendário da Fiocruz, mobilizando trabalhadoras de várias unidades técnico-científicas regionais da Fundação em todo o país. Desde 2019, quando teve início, o evento já recebeu 900 alunas que participaram de atividades promovidas pelo Programa, vinculado à Vpeic-Fiocruz.

Programa abriu portas para estudante da UFRJ 

Ao longo destes seis anos de existência, é possível registrar o impacto positivo que o Programa exerceu na vida de alunas participantes. É o caso da estudante de Enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduarda Bento, que participou da edição de 2020. Ela relembra como o evento foi o ponto de partida para novas possibilidades e um novo mundo que se descortinaram naquele momento.

”Não é como se tivesse passado só dois dias na Fiocruz. Eu pude conhecer tanta gente e ter acesso a tanta informação diferente que é como se eu tivesse passado quase metade de uma vida naquele espaço. Foi algo transformador, porque mudou a minha perspectiva de vida, possibilitou vislumbrar novas possibilidades, fez com que eu criasse novas amizades e tivesse essas pessoas comigo até hoje. Foi uma experiência profunda, tanto para minha vida profissional e acadêmica como pessoal”, descreve.

Antes de participar do evento promovido pela Fiocruz, Eduarda afirma não ter pensado em seguir carreira na área de saúde. “As pesquisadoras que se voluntariaram para receber as meninas em seus laboratórios foram peças fundamentais, porque muitas mantiveram contato com a gente e fizeram um trabalho de mentoria, orientação e acompanhamento, com informações sobre possibilidades em carreiras na área. Eu digo isso em relação a uma vaga numa universidade federal ou de iniciação científica. Posso dizer que não foi uma experiência de apenas dois dias, foi uma experiência de vida mesmo”, declara.

Eduarda hoje é bolsista do Programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência, atua junto à mobilização de meninas nas escolas e vê a experiência como uma forma de projetar sonhos profissionais. “Essa experiência casa muito com meus objetivos futuros no campo da ciência e da saúde, porque eu pesquiso sobre letramento em saúde para pacientes com doenças inflamatórias intestinais. Mesmo que seja pesquisa de outro campo, envolve a educação como promotora de saúde, como algo que possibilita o bem-viver e o bem-estar de uma determinada população. É o que me possibilita sonhar, o que quero projetar para a minha vida profissional é continuar esse casamento entre saúde e educação que caminham juntas e possibilitam diferentes formas de existir”, destaca.

Confira a programação completa no Portal Fiocruz.

Palavra de Especialista

Como incentivar novos exemplos de mulheres bem-sucedidas em STEM

Por Franciele Nogueira e Camila Velloso*

Só 12,4% das posições de liderança nas áreas de tecnologia e exatas são ocupadas por mulheres. Como alterar esse quadro? Diversas práticas podem contribuir para suavizar o acesso de mulheres a cursos da área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e a posições profissionais na economia digital brasileira. Esses pontos dizem respeito a realidades enfrentadas não só por nós duas, mas por todas as mulheres e que exigem transformação.

Curiosamente, quando as mulheres fazem escolhas de um currículo educacional ou uma carreira, elas costumam ser atraídas por áreas onde veem mulheres de sucesso. É uma situação “galinha-ovo” – se poucas mulheres entram no campo STEM, haverá poucos exemplos de mulheres de sucesso nesta área. Por meio de encorajamento, mentoria e suporte para mulheres interessadas neste caminho, haverá mais exemplos de mulheres de sucesso.

A presença de mulheres em posição de direção nas empresas brasileiras de tecnologia serve de fonte de esperança para as mulheres considerarem STEM na hora de definir suas carreiras. Trata-se de uma inspiração que não é nada teórica, e inclui uma dura jornada que alia trabalho e formação contínua. Esses exemplos de mulheres bem-sucedidas em STEM devem ir além do universo da empresa e atingir escolas, comunidades e outros ambientes onde há meninas e mulheres que precisam acreditar que a mudança é possível.

Vale destacar, ainda, que o impacto positivo do suporte da família não pode ser ignorado. Para uma das autoras, vir de uma família de engenheiros proveu a ela um ambiente de suporte em que sua entrada no mundo STEM era não só encorajada, mas nutrida. Contar com membros da família que compreendem os desafios e as oportunidades do setor provê valiosa orientação e mentoria. Isso incentiva a mulher a se destacar na carreira STEM.

Iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) 

É fundamental que as empresas de tecnologia priorizem a diversidade. Programas de Diversidade e Inclusão podem encorajar as mulheres – além de outros grupos – em suas empresas e suas áreas. Na verdade, a meta é levar a bandeira DEI para comunidades menos favorecidas em geral. Isso inclui desenvolver programas e campanhas voltados para meninas e mulheres de todas as raças desde a educação fundamental até a universidade.

Trata-se de apresentar a economia digital brasileira como um espaço que precisa de mulheres e deseja receber profissionais mulheres. É uma semeadura de esperança que inclui vários públicos-alvo, apresentando uma visão pragmática, a partir de exemplos e de ações educativas, de um novo Brasil digital. Nós duas somos parte desta jornada e estamos envolvidas em programas DEI.

RH – Em conjunto com o time de DEI, o RH pode ajudar a mudar o mundo. Para isso, é necessário adotar uma postura ativa de ir ao encontro de estudantes e jovens profissionais com potencial para participar dos programas de recrutamento para posições que exigem o domínio das disciplinas STEM. A seleção para ocupar uma vaga deve ser focada na competência do (a) candidato (a).

Mas campanhas de recrutamento e orientação ajudam essas jovens mulheres a compreender as oportunidades em organizações de tecnologia e a educação necessária para conquistar essas posições profissionais. O processo de recrutamento tem de ser amplo, trazendo mais pessoas para conhecer a empresa e apresentando os benefícios de se trabalhar ali. Isso inclui oferecer grupos de apoio ao colaborador, espaços de comunidade e mentoria para pessoas novas em posições STEM. Nós acreditamos que isso é um dos pontos críticos para se expandir a presença feminina nas posições profissionais STEM.

O papel dos líderes

Nas empresas, o gestor – homem ou mulher – é crítico para o suporte às mulheres que atuam com disciplinas STEM. A entrega de feedback do líder para a colaboradora mulher é um momento com foco em resultados que ilumina a jornada da profissional e, ao final do dia, pode colaborar para a construção de uma sólida autoestima. Outro ponto de destaque é que, no passado era comum que as jovens mulheres profissionais ou outros profissionais não típicos adotassem uma “mudança de código” – alterando a forma de se apresentar no ambiente de trabalho para facilitar sua inclusão num time principalmente masculino e homogêneo.

Isso pode incluir mudar a forma de se vestir, esconder seus reais interesses e hobbies, alterando sua “personalidade de trabalho” para facilitar sua adaptação. Em teoria, esses dias ficaram no passado. Organizações estão incluindo a diversidade em sua missão e valores, suportando uma cultura onde a mulher e outros profissionais não típicos serão tratados da mesma maneira que um homem sem, no entanto, ter de negar seu eu autêntico. O líder desempenha um papel crucial na construção de um ambiente de trabalho seguro e que suporta a mulher, provendo equidade em oportunidades e pagamento.

Líderes precisam exigir palavras e comportamentos respeitosos de todos os colaboradores, e iniciar discussões e treinamentos sobre comportamentos aceitáveis, deixando claro a consequência de atos inaceitáveis. O líder pode, em meio à rotina de trabalho, colaborar para que a mulher seja parte de uma cultura de respeito e de reconhecimento. Vale destacar que uma das autoras, assim que foi convidada para ocupar sua posição atual, observou que o web site da empresa apresentava mulheres em posições de liderança. Isso a levou a acreditar que se tratava de uma organização que oferecia oportunidades iguais para homens e mulheres. Essa percepção ressalta a importância de uma liderança que apoia a geração de um ambiente inclusivo para mulheres em STEM.

Educação

Educação é muito mais do que ir à escola, e a educação dada às meninas brasileiras de todas as classes sociais segue tendo falhas graves. Em uma loja de brinquedos, por exemplo, há uma divisão clara entre brinquedos para meninas, um setor majoritariamente cor-de-rosa e focado em bonecas, e a área para meninos, cheia de jogos de ciências e brinquedos de montar. Nas escolas, é comum encontrar grupos de robótica que, apesar de serem abertos a todos os alunos, são formados apenas por meninos.

Isso apresenta às crianças um mundo segmentado que não facilita a construção da autoestima das meninas. Em relação, por exemplo, aos cursos universitários de engenharia, a limitada presença de mulheres estudantes faz com que muitas vezes elas se fechem em si mesmas, sentindo-se sem lugar. Um resultado desse quadro pode ser a desistência do curso universitário de STEM. Família e escola precisam mudar para quebrar estereótipos. A meta é criar um terreno fértil para a menina, a adolescente e a jovem mulher acreditarem que não há limitações de gênero para quem fizer da educação e da carreira em STEM uma opção natural.

A vida da mulher que trabalha é complexa – são muitos papéis convivendo em paralelo.

Durante a pandemia, nós duas tivemos a oportunidade de misturar de forma intensa a vida profissional e a vida doméstica. Nossos filhos nos viram trabalhando, e trabalhando com prazer e garra. Como sociedade, precisamos continuar a valorizar mulheres multifacetadas que nutrem sua família e trabalham para prover a seus familiares. Isso é um ensinamento para as novas gerações, que podem reconhecer que as mulheres são igualmente capazes de ser bem-sucedidas na educação em STEM e em carreiras STEM. Em 2024, é fundamental que encorajemos e suportemos garotas e mulheres para elas concretizarem seu potencial, incluindo o interesse por STEM em todos os níveis educacionais e em todas as oportunidades de carreira. Podemos trabalhar juntos para fazer com que essa jornada seja suave. Ao final, todos ganham.

*Franciele Nogueira Ferreira Rosa é diretora de Engenharia de Design da Scala Data Centers. Camila Velloso é diretora de Operações da Vertiv Latin America.

 

Com assessorias

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