O Dia do Cardiologista, lembrado neste 14 de agosto, acende o alerta para os novos desafios que esses profissionais enfrentam no dia a dia de sua prática clínica. A rotina acelerada, o uso excessivo de telas, a má qualidade do sono e o estresse contínuo estão contribuindo para o aumento de problemas cardíacos em faixas etárias cada vez mais jovens.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os casos de infarto em pessoas com menos de 40 anos cresceram cerca de 17% na última década. O dado revela um cenário inédito: o coração do brasileiro está adoecendo mais cedo, muitas vezes por causas invisíveis e silenciosas.

Embora fatores clássicos como obesidade, hipertensão e tabagismo continuem relevantes, eles agora compartilham espaço com ameaças mais sutis, mas igualmente perigosas. O sedentarismo digital, a privação crônica de sono e o estresse emocional têm sido apontados como agentes significativos na saúde cardiovascular moderna.

Rosangeles Konrad, professora de cardiologia da Afya Educação Médica de Brasília, destaca que os impactos desses hábitos já são claramente perceptíveis nos consultórios.

O coração do século XXI sofre não apenas por colesterol ou cigarro, mas também pelos efeitos da vida sedentária diante de telas, pelo sono insuficiente e pela sobrecarga emocional. Esses fatores são tão relevantes quanto os tradicionais, e muitas vezes mais silenciosos”, afirma a médica.

Segundo ela, o sedentarismo digital vai além de simplesmente “ficar parado”. Longas horas sentado afetam a circulação, reduzem a produção de óxido nítrico (essencial para a dilatação dos vasos sanguíneos) e comprometem o metabolismo, favorecendo o acúmulo de gordura, resistência à insulina, aumento dos triglicerídeos e queda do HDL, até mesmo entre os jovens.

Já a privação de sono, principalmente quando inferior a seis horas por noite, eleva a pressão arterial durante o repouso, aumenta os níveis de inflamação (como a proteína C reativa – PCR-us) e reduz a variabilidade da frequência cardíaca, um importante marcador de risco cardiovascular. Estudos do UK Biobank com quase 500 mil adultos apontaram que o sono inadequado pode aumentar em até 20% o risco de infartos e AVCs.

O estresse crônico é outro fator alarmante. Em uma realidade marcada por hiperconectividade e pressões constantes, o corpo permanece em estado de alerta, ativando continuamente o sistema nervoso simpático. Isso eleva a pressão arterial, a frequência cardíaca e favorece uma vasoconstrição prolongada, alterações que podem causar remodelamento cardíaco e disfunção endotelial mesmo em pessoas jovens e aparentemente saudáveis. O estresse ainda fragmenta o sono, atrapalha a recuperação do sistema cardiovascular e pode ser o gatilho para arritmias e infartos, independentemente da presença de fatores de risco clássicos como colesterol alto ou histórico familiar.

Entre os mais jovens, observam-se cada vez mais diagnósticos de disfunção microvascular coronariana, miocardites (inclusive associadas à COVID-19), espasmos nas artérias coronárias, além de casos precoces de hipertensão e diabetes tipo 2.

Soma-se a isso o uso de anabolizantes, cigarros eletrônicos e drogas recreativas, que podem desencadear arritmias, tromboses e picos de pressão. “Hoje, um jovem de 30 anos pode apresentar risco cardiovascular semelhante ao de um adulto de 50 anos há duas décadas”, observa a Dra. Rosangeles.

Diante dessa realidade, os métodos tradicionais de avaliação cardiovascular se mostram limitados. Para a cardiologista da Afya Brasília, é necessário que os cardiologistas adotem uma abordagem mais ampla e personalizada. “O risco cardiovascular não pode ser avaliado apenas com base em cálculos para os próximos 10 anos. É essencial considerar fatores como qualidade do sono, estresse crônico, inflamação persistente e até a exposição à poluição do ar (como o material particulado fino, PM2,5), que impactam mesmo indivíduos sem colesterol elevado”, defende.

Um novo olhar para o coração

Não basta medir o colesterol ou controlar a pressão arterial. É necessário incorporar o bem-estar emocional, a qualidade do sono e o uso consciente da tecnologia como pilares centrais do cuidado com o coração.

O retrato atual das doenças cardíacas no Brasil exige uma visão mais moderna e abrangente de médicos, gestores de saúde e da própria população. Prevenir doenças cardiovasculares vai muito além dos exames: é preciso enxergar o cotidiano como território de risco, onde o estresse, o sono ruim e a vida hiperconectada colocam o coração em constante ameaça.

Doenças do coração continuam como as principais causas de morte no mundo e muitas delas podem ser drasticamente evitadas

Cardiologista reforça a importância do diagnóstico precoce e do cuidado integral para prevenir doenças cardiovasculares

As doenças cardiovasculares seguem liderando as causas de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que a cada 90 segundos uma pessoa morra em decorrência de alguma cardiopatia. Apesar da gravidade dos números, a própria OMS aponta que 80% dessas mortes poderiam ser evitadas com hábitos preventivos, acompanhamento regular e tratamento adequado.

Em alusão ao Dia do Cardiologista, celebrado em 14 de agosto, especialistas voltam a chamar a atenção para os riscos da negligência e para a importância do check-up cardiológico como ferramenta de diagnóstico precoce e cuidado ampliado.

O Dia do Cardiologista reforça uma mensagem que precisa ser constante: a de que a saúde do coração exige atenção contínua e não apenas em situações de emergência. A negligência, aliada à crença de que é preciso esperar por sintomas para buscar ajuda, contribui para o agravamento de quadros que poderiam ser tratados precocemente”, alerta Bianca Maria Prezepiorski, diretora de Governança do Hospital Cardiológico Costantini.

O alerta para além da data

Cuidar da saúde cardíaca deve ser entendido como um ato de responsabilidade individual. É também uma forma de garantir qualidade de vida e longevidade com autonomia. O diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de prevenção”, destaca a médica cardiologista.

Segundo ela, o coração é um órgão sensível a múltiplos fatores: genéticos, ambientais e comportamentais. “Ao cuidar apenas quando há sintomas, perde-se a oportunidade de intervir antes que a doença se instale. O acompanhamento preventivo permite avaliar com mais profundidade o funcionamento do sistema cardiovascular e suas conexões com outros órgãos e condições clínicas”, explica a médica.

Os diferenciais de um check-up cardiológico

check-up cardiológico considera fatores como hereditariedade, tabagismo, rotina alimentar, qualidade do sono, estresse, funcionamento renal, presença de diabetes, condições pulmonares, entre outros elementos. Isso se deve à característica multifatorial das doenças cardíacas, que muitas vezes se desenvolvem de forma silenciosa.

“Quando analisamos o coração, não podemos limitar a avaliação ao órgão em si. Precisamos entender o contexto do paciente, o conjunto de hábitos e as condições associadas que podem indicar riscos futuros. Por isso, o cardiologista trabalha com uma visão integral”, detalha Dra. Bianca.

Prevenção deve começar cedo

A médica também destaca que a atenção à saúde do coração deve começar ainda na gestação, com o adequado acompanhamento pré-natal e o controle de fatores de risco por parte da gestante. “Condições como pressão alta, diabetes gestacional e dislipidemia materna, por exemplo, podem influenciar o risco cardiovascular do bebê e da própria mãe no futuro”, afirma.

A partir da infância e juventude, os hábitos de vida passam a ter papel central. Atividade física, alimentação balanceada, controle do estresse e acompanhamento médico regular são apontados como práticas essenciais para a manutenção da saúde cardíaca ao longo da vida.

Check-up cardiológico, a melhor forma de prevenção

check-up cardiológico é estruturado para investigar de forma aprofundada o funcionamento do sistema cardiovascular.  Ao contrário da percepção mais comum, de que apenas alguns exames laboratoriais bastam para assegurar o bom estado de saúde, o check-up com o cardiologista investiga os fatores de risco e as condições associadas. Ou seja, ele acaba sendo mais completo e varia conforme idade, histórico familiar e fatores clínicos individuais.

Alguns exames são considerados basilares na avaliação cardiológica:

  • Eletrocardiograma (ECG): Registra a atividade elétrica do coração e permite identificar alterações no ritmo cardíaco, além de infartos prévios.
  • Ecocardiograma: Exame de imagem que utiliza ultrassom para avaliar a anatomia do coração, função dos ventrículos, válvulas e fluxo sanguíneo.
  • Teste ergométrico (ou teste de esforço): Avalia a resposta do coração ao exercício físico, útil para investigar dores no peito e o desempenho cardiovascular.
  • Mapa 24h (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial): Mede a pressão arterial ao longo de 24 horas, identificando picos de hipertensão que não aparecem em consultas comuns.
  • Holter 24h: Registra a atividade elétrica do coração de forma contínua durante 24 horas para detectar arritmias silenciosas.
  • Exames laboratoriais: Incluem avaliação de colesterol total e frações (LDL, HDL), triglicerídeos, glicemia, função renal e, quando necessário, marcadores inflamatórios e hormonais.
  • Avaliação clínica detalhada: Inclui anamnese completa, histórico familiar, análise de estilo de vida (alimentação, sedentarismo, tabagismo, estresse), e exame físico.

Não é apenas a somatória dos exames que importa, mas a interpretação clínica integrada. Um check-up cardiológico é também uma oportunidade de orientação, de escuta ativa e de construção de uma conduta de saúde a longo prazo”, conclui a cardiologista Dra. Bianca Maria Prezepiorski.

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *