A expressão “fake news” significa informação falsa que é transmitida ou publicada como notícia e na área da saúde, profissionais e pacientes têm sofrido as consequências na medida em que as notícias falsas estão mudando o comportamento da população. Elas são repassadas e divulgadas de maneira imprecisa, tendo seu conteúdo modificado, sem a consulta de referências ou fontes com credibilidade.
Pela facilidade e agilidade no acesso à informação, as redes sociais e as ferramentas de compartilhamento de conteúdo têm um poder enorme na propagação de fake news. Como o compartilhamento se dá de maneira quase que imediata, as fake news são muito difíceis de serem combatidas, causando graves consequências à saúde dos adultos e, consequentemente, das crianças.
Com o intuito de informar pais e responsáveis sobre os mais diferentes temas na saúde, o Sabará Hospital infantil aproveitou a semana do famoso Dia da Mentira, celebrado em 1º de abril, para lançar a segunda edição da campanha “Sabará contra as fake news na pediatria”.
A campanha usa as redes sociais para identificar as principais dúvidas no cuidado com as crianças. Ao longo de todo o mês, especialistas da Instituição esclarecem as principais dúvidas sobre doenças respiratórias, vacinação, alimentação, amamentação, entre outras.
A disseminação de informações falsas causam reais prejuízos à saúde, pois doenças extintas ou quase extintas no Brasil como a poliomielite e o sarampo podem voltar a aparecer em decorrência da não vacinação das crianças”, alerta Daniella Bomfim, infectologista e diretora técnica do Sabará Hospital Infantil.
Medo de possíveis eventos adversos das vacinas
O medo de possíveis eventos adversos (19,76%), aliado à falta de confiança nas vacinas (19,27%), são atualmente os principais motivos que levam pais e responsáveis a negligenciar a vacinação de crianças e adolescentes. Outras alegações comumente ouvidas em consultório são o “esquecimento” (17,98%); a falta de vacinas no serviço público (17,58%); e o preço das vacinas nos serviços privados (10,69%).
Os dados são da pesquisa “Hesitação vacinal: por que estamos recuando em conquistas tão importantes?”, realizada com a intenção de reforçar junto à população e aos pediatras a importância das vacinas para prevenir ou impedir o agravamento de doenças. O estudo foi apresentado em abril de 2023 pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pelo Instituto Questão de Ciência (IQC).
O estudo, inédito no País, colheu informações junto a cerca de mil pediatras brasileiros para compreender a visão dos especialistas a respeito da vacinação e descobrir, ao mesmo tempo, as dúvidas mais comuns sobre o tema, relatadas pelas famílias durante as rotinas de atendimento pediátrico.
Maior apreensão das famílias é com vacina da covid
Segundo 81,29% dos pediatras entrevistados, a vacina contra a covid-19 é a que tem gerado maior apreensão nas famílias, seguida pelas vacinas contra o vírus influenza (6,7%) e a febre amarela (6,09%), doenças mais conhecidas pela população. Os principais motivos alegados pelas famílias nos consultórios para preterirem a vacina contra o coronavírus são:
- “a vacina da covid-19 com tecnologia RNA pode trazer riscos à saúde das crianças” (18,09%);
- “não aceitar correr riscos, uma vez que imunizações podem causar doenças como miocardite e trombose” (16,58%); “
- as vacinas de RNA não são seguras no longo prazo” (13,07%); “crianças não têm covid grave” (12,84%); e
- “não conheço nenhuma criança que morreu de covid” (8,80%).
Muitas dúvidas e afirmações falsas baseadas em desinformação têm chegado até os pediatras. Entre as principais, estão frases como “Minha filha não precisa da vacina para HPV pois ainda não iniciou a vida sexual”; “Vacina para HPV pode gerar efeitos neurológicos graves”; e ainda “A doença por rotavírus é leve em crianças”.
Segundo a percepção dos especialistas, esse conteúdo é veiculado sobretudo por meio das redes sociais (30,95% deram essa resposta). Aplicativos de mensagens, como o WhatsApp (8,43%), e a internet como um todo (13,60%) aparecem com um poder de influência superior ao da TV (3,34%).
Na avaliação do pesquisador e coordenador do estudo, o professor de psicologia social da Universidade de Brasília (UnB) e colaborador do IQC Ronaldo Pilati, estudos como esse são de fundamental importância para a compreensão dos fatores sociais e comportamentais que estão por trás da hesitação vacinal.
O emprego de técnicas científicas neste tipo de levantamento permite elaborar ações para combater este perverso movimento de questionamento da vacinação, por meio de ações para preparar os atores da saúde pública, bem como pela elaboração de políticas públicas baseadas em evidências para a promoção da vacinação populacional”, afirmou.
“O médico mantém um contato bastante próximo junto às famílias. Isso o coloca num lugar privilegiado para entender as dinâmicas que têm levado o Brasil a regredir em termos de coberturas vacinais. A partir da análise dessas informações trazidas pelos pediatras, nossa intenção é propor novas estratégias de enfrentamento contra a desinformação e, consequentemente, a hesitação vacinal”, esclarece o presidente da SBP, Clóvis Francisco Constantino.
O que fazer ao desconfiar de notícia falsa?
“Disseminar fake news causa um grande impacto na sociedade e, na área da saúde, além de gerar desinformação, pode dificultar, atrasar e até atrapalhar um diagnóstico. Antes de tomar como verdade, as pessoas que consomem essas notícias transmitidas por redes sociais, blogs e outros meios relacionados à saúde, devem se certificar que as informações são validadas pelos órgãos competentes como o Ministério da Saúde, OMS ou Anvisa”, explica Thales Araújo de Oliveira, gerente médico responsável pelo Pronto-Socorro e pelo Centro de Excelência do Sabará Hospital Infantil.
Ao receber postagens ou mensagens sobre assuntos que possam impactar negativamente a saúde de outra pessoa, algumas dicas como a verificação da fonte ou referência sobre o tema (checar a página em que a notícia está hospedada ajuda muito no entendimento de sua veracidade), a confirmação da data da divulgação (muitas vezes, são notícias antigas, que até já não condizem com o momento atual), a utilização de sites oficiais de checagem de notícias contribuem para evitar que as fake news se propaguem e ainda promove uma comunicação consciente e responsável.
4 fakes envolvendo a saúde das crianças
Esse ano, além de perguntas sobre intolerância alimentar, há questões sobre a interferência climática na saúde das crianças, vacinas, eficácia e efeitos colaterais, amamentação, alimentação, entre outras. Confira algumas fakes envolvendo a saúde das crianças:
Vacinas trazem mais males do que benefícios às crianças
“Fake. Essa foi uma dos notícias falsas mais republicadas nos últimos anos. Por causa disso, milhares de crianças estão deixando de se vacinar contra doenças que já estavam controladas no Brasil como o sarampo ou a paralisia infantil. “Vacinem suas crianças! A vacinação é a maneira mais efetiva de reduzir doenças graves que podem provocar mortes ou sequelas graves”, afirma o gerente médico e infectologista do Sabará Hospital Infantil, Francisco Ivanildo de Oliveira Junior.
Comer e entrar na água pode levar a criança à morte
“Fake. Não é o entrar na água que causa qualquer tipo de problema de digestão e sim os exercícios e as brincadeiras que ocorrem dentro da piscina. O organismo precisa de um tempo para realizar a digestão. Sendo assim, se entrar numa piscina e ficar quietinha, a criança não terá problema. Agora se ela entrar na água, pular, nadar ou sair correndo, após se alimentar pode sim ter complicações”, explica Caroline Peev, coordenadora do Pronto- Socorro do Sabará Hospital Infantil.
Depois de um tempo o leite materno fica fraco e precisa ser complementado com fórmulas.
“Fake. Desde que a mãe tenha uma alimentação saudável e balanceada, o leite materno se adapta a todas as necessidades que o bebê precisa. Mesmo com as crianças internadas na UTI aqui no Sabará, nós procuramos incentivar as mães a amamentarem seus filhos para melhor recuperação do bebê ”, explica Denise Madureira, coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Sabará Hospital Infantil.
Chás e sucos podem ser adoçados e fornecidos para crianças de qualquer idade
“Fake. O excesso de açúcar não é indicado em qualquer idade, mas ele é ainda mais nocivo em crianças abaixo dos dois anos. A inserção desse ingrediente pode causar cáries precocemente nas crianças, além de contribuir para o surgimento da obesidade infantil. O ideal é prorrogar ao máximo a introdução do açúcar na dieta infantil, usando apenas os açúcares “bons” como os encontrados nas frutas”, diz a nutricionista do Sabará Hospital Infantil, Fernanda Rabelo.
Com informações do Sabará Hospital infantil e da SBP