A preocupação com a saúde mental de crianças e adolescentes – que tem levado à maior ocorrência de casos de transtornos emocionais e mentais, autolesão e uso abusivo de álcool e drogas – não é apenas nas escolas públicas do Rio de Janeiro, como mostramos nesta sexta-feira (12/8). Na rede privada de ensino o problema é cada vez maior, mas a forma de enfrentá-lo tem sido bem diferente de uma escola para outra.

No Colégio Pensi, um dos maiores da rede particular do Rio, a falta de psicólogos salta aos olhos. Somente na unidade Tijuca 1, na Zona Norte do Rio, onde estão matriculados mais de 2 mil alunos, há apenas uma psicóloga escolar no turno da manhã. A profissional, entretanto, é voltada exclusivamente para atender os alunos na parte pedagógica, auxiliando na elaboração de planos de estudos, já que não dá conta de ouvir tantas demandas, nem realizar ações de prevenção.

Recentemente, uma adolescente de 16 anos que relatou sofrer bullying e cyberbullying por parte de um grupo de colegas de uma turma do segundo ano do Ensino Médio enfrentou dificuldades para ser transferida para outra unidade da rede própria do colégio. A adolescente está em tratamento psicoterápico e recebeu recomendação médica para mudança de unidade escolar.

Procurada pela família, a coordenação pedagógica diz não reconhecer que o bullying ocorre internamente e que o processo “é pontual e acontece apenas nas redes sociais”, mesmo reconhecendo a existência de outros episódios envolvendo a mesma estudante como alvo de outros dentro da sala de aula ou no recreio. Procurada por ViDA & Ação, a assessoria de imprensa do Colégio Pensi não respondeu à reportagem.

Acolhimento socioemocional é matéria indispensável

Sem dúvida, após o retorno às atividades presenciais, o maior desafio das salas de aulas não é matemática ou química, mas o acolhimento. Em São Paulo, educadores do Colégio Renascença perceberam que os estudantes se acostumaram com o ritmo das redes sociais e chegam à escola mais imediatistas e com dificuldades de lidar com as frustrações que a vida real impõe. O comportamento inspirou projetos de acolhimento socioemocional focados, sobretudo, nos adolescentes, para ouvi-los e ajudá-los a compreender melhor esta nova fase.

“Com a pandemia ocorreram cenários inéditos para os educadores também. Acolher e ter um olhar afetuoso para as diferentes experiências que crianças, jovens, educadores e famílias vivenciaram nesse período foi fundamental. Acompanhando os alunos cotidianamente de forma mais próxima, foram perceptíveis as marcas deixadas por esse período de isolamento social, como por exemplo: baixa tolerância às frustrações, dificuldade para lidar com os conflitos sociais, pouca escuta e um imediatismo que cresce acompanhando o ritmo das redes sociais”, comentam Fernanda Baldin Camargo e Alexandro Pereira, orientadores educacionais do Colégio Renascença.

A tarefa de acolher os alunos coloca desafios que ultrapassam a readaptação ao convívio coletivo, uma vez que é preciso acolher as experiências diversas de cada estudante durante o isolamento, como a perda de entes queridos ou até mesmo o medo de perdê-los. Nesse sentido, tem sido necessário trabalhar com os alunos aspectos que envolvem o autoconhecimento, a percepção de si, do outro e da sociedade, bem como competências que envolvem a relação do sujeito com o mundo, como a cooperação, empatia, escuta ativa, tolerância e solidariedade, explicam os educadores.

“O ambiente escolar é, sem dúvida, um laboratório social. É o espaço da experimentação, do contato com o outro, da construção da identidade e da valorização às diferenças. Durante a pandemia, ficamos afastados deste espaço em nome da saúde e segurança. As escolas se adaptaram e buscaram, de forma remota, proporcionar a interação para dar continuidade à construção do conhecimento, mas nada substitui o contato próximo, o olho a olho, a interação na vida real”, complementam.

A transição do virtual total para os conflitos da vida real aos poucos vai mostrando a importância do convívio, do papel educador do espaço escolar e dos conflitos para o desenvolvimento da capacidade de lidar com emoções complexas como a irritação e a frustração. Os trabalhos dos professores em parceria com as famílias já demonstram os benefícios e apontam para uma tendência: o acolhimento socioemocional agora é uma matéria indispensável.

“No Colégio Renascença, é parte do currículo trabalhar e desenvolver competências socioemocionais. Diversos projetos são realizados para oportunizar aos alunos situações em que possam refletir sobre o que é ser dentro de um contexto coletivo e de que forma podemos olhar para os conflitos como oportunidade de crescimento individual e enquanto comunidade”, finalizam.

Com Assessoria Colégio Renascença

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