O inverno começa oficialmente à 0h32 desta segunda-feira (21/6), mas nas últimas semanas os brasileiros já vêm percebendo a queda nas temperaturas. No Rio de Janeiro, termômetros marcando menos de 20 graus já representam uma mudança e tanto na rotina dos cariocas, que geralmente não gostam de dias nublados e muito menos friorentos. A estação mais fria do ano também é sinônimo de cuidados especiais com a saúde, ainda mais em tempos de Covid-19.

Para ajudar nossos leitores, ViDA & Ação abre hoje a nossa já tradicional série Especial Inverno, com informações, dicas e orientações de especialistas para encarar essa temporada. Confira!

A aposentada gaúcha Gleice Kruker Mosele, de 74 anos, toma cuidados especiais no inverno (Foto: Divulgação)

Ao primeiro sinal de mudança de temperatura, a professora aposentada Gleice Kruker Mosele, de 74 anos, diz que seu nariz já começa a coçar. Moradora de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, há anos ela vive uma rotina de adaptações às mudanças climáticas, e se soma às queixas de tantos outros pacientes que buscam por atendimentos médicos país afora para tratar as doenças típicas desta fase do ano.

Por aqui, o clima é geralmente agradável, mas de maio a agosto, esfria bastante. Em alguns dias as temperaturas chegam perto do 0 grau nas primeiras horas da manhã e eu já aprendi a lição: tiro do armário a minha bolsa de água quente pra manter o corpo aquecido, reforço o agasalho, capricho no chá e em bebidas mais quentes”, conta a gaúcha.

A chegada do inverno traz preocupação para pessoas com problemas respiratórios, pois é justamente nessa época, que pode se estender até outubro, quando aumenta em até 40% a incidência de doenças como gripe, rinite alérgica, asma, sinusite, otite, bronquite crônica e pneumonia. Especialistas e autoridades públicas de saúde chamam atenção para o aparecimento de doenças frequentes dessa época do ano, quando a umidade do ar diminui e as alterações bruscas de temperatura são mais recorrentes.

O perigo da baixa umidade do ar

Nos dias frios do inverno, as doenças respiratórias aparecem e começam a fazer suas vítimas. Nariz escorrendo, tosse, dificuldade para respirar e irritação na garganta são alguns sintomas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice ideal da umidade do ar para manter a saúde é em torno de 60%. Nesta época do ano, esse volume cai para 30% e, com isso, os problemas respiratórios e as infecções por vírus e bactérias se tornam mais frequentes.

A maior incidência de doenças respiratórias nesta época do ano ocorre porque a combinação de ar seco e temperaturas baixas, somada à poluição atmosférica típica da estação, compõem uma fórmula preocupante para quem sofre dessas enfermidades. Além disso, aumenta a tendência de ficar mais tempo em ambientes fechados, o que também facilita a propagação das doenças.

“Gripes e resfriados são os mais comuns, mas na lista das doenças respiratórias que se agravam nos meses mais frios tem ainda a sinusite, rinite, asma, pneumonia e otite”, afirma o médico infectologista Alexandre Cunha, do Grupo Sabin, em recente encontro virtual que debateu o diagnóstico laboratorial das infecções respiratórias virais.

“Isso acontece porque as quedas de temperatura deixam o ar fica mais seco, favorecendo a circulação de vírus e bactérias. E como as pessoas tendem a ficar mais tempo em ambientes fechados, elas acabam ficando mais expostas aos riscos de contágio”, explica.

Cunha deu detalhes sobre a parcela da população que costuma sofrer mais com as mudanças no termômetro. “Idosos e crianças apresentam mais chances de sofrer com estas doenças porque elas têm sistemas respiratório e imunológico mais fragilizados. Para estes, dias frios costumam chegar acompanhados de nariz congestionado, tosse, dores no corpo e febre”, destaca.

De acordo com a pneumologista Fernanda Miranda de Oliveira, que possui um consultório no Órion Complex, em Goiânia, a baixa umidade do ar funciona como um agressor das vias aéreas, já que uma das funções do nariz é umedecer o ar inspirado. “Com o ar inspirado seco, o nariz não consegue umidificá-lo adequadamente e ele chega aos pulmões sem a umidade necessária, o que pode causar danos aos brônquios”, explica.

Ela ainda destaca que as pessoas portadoras de doenças respiratórias crônicas, como a asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e rinossinusites, costumam ter uma piora no quadro clínico durante esses períodos do ano em que as temperaturas ficam mais baixas e o ar mais seco. Ela destaca que esses fatores podem prejudicar ainda mais o funcionamento do aparelho respiratório.

Sintomas e diagnóstico

Diante da pandemia de Covid-19, quando alguns sintomas iniciais podem ser confundidos, adotar medidas de prevenção é fundamental. O diagnóstico é, na maioria das vezes, clínico, com consulta médica, além de exame físico. Em algumas situações, podem ser necessários exames laboratoriais e de imagem.

As viroses respiratórias podem causar desde sintomas leves até aqueles mais graves. Na maioria das vezes, elas ocasionam dor no corpo, dor de cabeça, cansaço, tosse, coriza e febre”,  explica Priscila Osorio, imunologista e alergologista da Clínica Felippe Mattoso no Rio de Janeiro. 

De acordo com a especialista, casos com sintomas mais leves são tratados com remédios para combater sintomas como febre e dor, além de manter uma boa hidratação e alimentação. Já os casos mais graves precisarão de tratamentos mais específicos. Também é importante manter a saúde em dia, evitar locais fechados, aglomerações e evitar contato com pessoas doentes.

No caso da gripe, explica a médica, a vacina é uma grande aliada para a prevenção. “Em caso de sintomas respiratórios é muito importante afastar o diagnóstico de Covid-19, por isso o ideal é procurar atendimento médico e seguir as recomendações de usar de máscara, lavar as mãos e evitar aglomerações”, destaca.

Cuidados redobrados com a Covid

Diante do cenário de pandemia, os cuidados devem ser ainda mais redobrados. De acordo com a pneumologista, qualquer síndrome gripal e infecciosa deve ser avaliada para se descartar uma hipótese de Covid-19. “Caso o indivíduo apresente febre, dores de cabeça e pelo corpo, alteração do olfato e/ou paladar, tosse seca e cansaço, apesar de serem sintomas comuns a outras doenças, é necessário avaliar se se trata de Covid”, alerta. 

Um dado que fala contra a hipótese do indivíduo estar com Covid é quando a tosse tem secreção amarelada ou o peito chia. Esses sintomas são mais comuns nas infecções bacterianas”, destaca a pneumologista, que ainda aconselha sempre buscar acompanhamento médico.

Para superar esse tempo seco e frio pelas manhãs característico dos meses de maio a outubro, Fernanda Oliveira detalha que algumas medidas simples podem ser adotadas para melhorar a qualidade de vida e não sofrer com problemas respiratórios. “A pessoa deve se manter bem hidratada, não tomar banhos muito quentes, usar soro fisiológico nas narinas e não realizar atividades ao ar livre entre 10h e 16 horas nos dias em que a umidade estiver abaixo de 30%”, orienta.

Importância da vacina contra a gripe

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES-RJ) lembra que um agravante deste período de inverno é que entre julho e setembro, o Brasil entra no período de sazonalidade da gripe, o que pode complicar ainda mais o quadro de pacientes crônicos. O inverno é a época de maior ocorrência de gripe, e a vacina disponível na rede pública protege contra os diferentes tipos do vírus Influenza e ajuda a prevenir casos graves e óbitos.

A população deve comparecer aos postos de saúde para se vacinar, principalmente os indivíduos do grupo prioritário, que têm maior risco de adoecimento ou de evolução para as formas mais graves da doença”, alerta Mário Sérgio Ribeiro, subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde da SES, que lembra ainda a importância de se lavar as mãos com frequência, usar máscara e manter o distanciamento social.

Segundo pesquisas, uma queda dos casos graves e óbitos de gripe é observada na série histórica de casos da doença no Brasil, após a introdução da imunização no calendário vacinal. Duas importantes campanhas de vacinação ocorrem neste momento no estado: uma contra a Covid-19 e outra contra a gripe.

Baixa adesão à vacinação contra a gripe no RJ

A campanha de vacinação contra a gripe já está na última fase no Rio de Janeiro e vai até 9 de julho. Mas é importante que os grupos prioritários das primeiras etapas sigam tomando a vacina. Segundo dados oficiais, no caso dos professores, menos de 12,6% estão imunizados no estado. “A vacina contra a Influenza é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde de maneira gratuita”, lembra Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas.

Lançada em abril, a campanha de imunização contra a influenza (gripe) prioriza os grupos elencados pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde e ocorre em três etapas. A primeira contemplou profissionais de saúde, crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e puérperas, além da população indígena.

Na segunda fase, foram priorizados os idosos acima de 60 anos e professores. E a terceira etapa inclui um número grande de pessoas, como aquelas com comorbidades, deficiências permanentes, caminhoneiros, passageiros urbanos de longo curso, trabalhadores portuários, profissionais das forças de segurança e salvamento, entre outros.

Proteção extra em tempos de Covid

A vacina contra a gripe, tambem disponível na rede privada, ajuda o corpo a desenvolver imunidade contra a gripe e ainda combater complicações como pneumonia e outras doenças do sistema respiratório. Além de ser um aliado de quem quer fugir de unidades de saúde e hospitais – em tempos de Covid 19, qualquer forma de proteção e prevenção contra exposição à lugares com aglomerações deve ser levada em conta”, orientou o médico infectologista Alexandre Cunha, do Grupo Sabin.

Indicada para crianças a partir dos 6 meses, adultos, idosos, grávidas, pessoas com sistema imune comprometido, portadores de doenças crônicas, por exemplo, a vacina requer aplicação todos os anos porque o vírus que provoca as doenças sofre muitas mutações. “Sendo assim, as vacinas de anos anteriores perdem a eficácia e por isso é necessária uma nova formulação da vacina todos os anos”, esclarece.

Outra orientação importante é quanto ao intervalo entre as aplicações da vacina de gripe e Covid 19. De acordo com o infectologista, a recomendação é respeitar o espaço de 14 dias entre as doses. Quem tomou a dose contra a Covid-19 há pelo menos 14 dias pode receber a da gripe.

“Pacientes que tomaram as vacinas que precisam de duas doses – como é o caso da Pfizer e Coronavac – devem primeiro receber as duas aplicações dessa vacina e só depois a da gripe, respeitando o intervalo de duas semanas após a segunda dose. Se o paciente recebeu vacinas que precisam de um intervalo maior entre as doses – como a AstraZeneca – a vacina da gripe pode ser administrada entre as duas doses, desde que seja respeitado o período de duas semanas a partir da primeira dose”, orientou.

Cuidados para encarar os vilões da saúde no inverno

Além da vacina, Alexandre Cunha listou no encontrou outras orientações importantes para enfrentar os vilões da saúde em períodos mais frios:

• Como o vírus causador da gripe costuma circular em ambientes fechados, é essencial manter os espaços ventilados e arejados;

• Nos dias mais frios, os ácaros, aqueles agentes que provocam as alergias respiratórias, se proliferam com mais facilidade, por isso é importante dedicar horas a mais do dia na higienização de tapetes, sofás, pelúcias;

• Se alimentar de forma adequada e investir em uma dieta rica em frutas e verduras, além, é claro de se manter hidratado, bebendo cerca de 2 litros de água por dia;

• Se precisar sair de casa, não deixar para trás as máscaras, os casacos e ter em mãos álcool gel, sempre.

Saiba mais em gov.br/saude

Fonte: SES-RJ e Grupo Fleury, com Redação

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