A morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, de 32 anos, em Manaus (AM), causada por uma possível overdose de cetamina, substância anestésica que causa efeitos alucinógenos, levantou o debate sobre a droga, que vem sendo usada no tratamento da depressão severa que pode levar à dependência química.

Em altas doses, no entanto, a cetamina pode causar distúrbios de fala e visuais, amnésia e vômitos. Em casos mais graves, há a possibilidade de depressão respiratória, apneia e convulsões. No entanto, a comunidade científica internacional reconhece a cetamina e derivados como uma das maiores revoluções em saúde mental das últimas décadas. 

O medicamento estava no rol dos remédios para intubação de pacientes graves de UTI Covid durante a pandemia. Há evidências científicas robustas sobre a eficácia , segurança e tolerabilidade da cetamina no tratamento do transtono depressivo, sobretudo cursando com ideação suicida.

Mas, afinal, uma substância que pode levar à dependência e é usada como anestésico pode também ter seu uso em tratamento clínico e eficaz?

A Ebserh possui três unidades hospitalares que estão avançando na área da pesquisa e uso clínico (Foto: Divulgação)

Pesquisas comprovam eficácia da cetamina na depressão resistente

Para jogar luz ao debate sobre essa substância considerada multifacetada, três especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que trabalham em sua forma terapêutica, em seus respectivos hospitais universitários federais, explicam como ela pode ser útil para tratamentos psiquiátricos.

Várias ramificações das pesquisas conduzidas dizem respeito à tentativa de encontrar formas de cetamina acessíveis economicamente e com melhor tolerabilidade para o paciente.

Desde o início de seu uso como anestésico – na década de 70 – já se observava que pacientes submetidos à substância tinham menos ansiedade e depressão. Psiquiatras internacionais publicaram estudos sobre os efeitos da cetamina na depressão e desde então a substância foi amplamente estudada para essa finalidade.

As pesquisas comprovam sua eficácia e superioridade no tratamento de quadros depressivos mais graves e resistentes às medicações convencionais, benefício em pacientes com ideação suicida e no tratamento de pacientes com dores crônicas.

Em 2019 a cetamina foi aprovada pelo Federal Drug Administration (FDA) para uso no tratamento de depressões resistentes. O FDA é o órgão governamental dos Estados Unidos que faz o controle dos alimentos (tanto humano como animal), suplementos alimentares, medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano. Ela também está presente na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Hoje sabemos que o sistema glutamatérgico está relacionado com a fisiopatologia da depressão e que a Cetamina atua modulando esse sistema e melhorando os quadros depressivos de maneira mais rápida e mais potente quando comparada aos antidepressivos de uso oral.”, explica a psiquiatra Valéria Pereira Silva, do ambulatório de infusão de cetamina do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC).

Cetamina no combate à depressão severa

Especialistas explicam que o uso específico para tratamento de depressão severa aconteceu por acaso. Paula Dione, psiquiatra do Serviço de Psiquiatria do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA/Ebserh) explica que foi nos primeiros estudos que cetamina se mostrou como medicação que proporciona esse efeito antidepressivo.

Hoje a gente tem um entendimento da depressão muito maior, muito mais ampliado do que há alguns anos, onde o entendimento era mais restrito. Hoje a gente sabe que tem muitos outros alvos, digamos assim. Então tem drogas que vão mexer com noradrenalina, tem drogas que vão mexer com dopamina, com serotonina e a ketamina que vem pela via do glutamato”, afirma.

Antidepressivo de ação rápida

Psiquiatras que atuam no manejo da cetamina explicam que o medicamento à base da substância preenche uma lacuna que existia pelo fato de que nenhum antidepressivo começava a atuar em menos de 15 dias, após se atingir a dose terapêutica mínima. Com a cetamina e derivados se inaugurou uma nova classe de medicamentos: a de antidepressivos de ação rápida. A aplicação, no entanto, deve ser realizada em ambiente sob supervisão de profissional de saúde.

O uso da cetamina é importante e baseado em evidências fortes, sendo um tratamento essencial para manejo de pacientes que falharam nas outras tentativas de tratamento para depressão grave com ou sem ideação suicida. A depressão é considerada refratária ou resistente ao tratamento quando são utilizados dois ou mais antidepressivos, em dose plena, sem melhoras”, complementa o psiquiatra Emerson Acorverde, do Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Huol-UFRN).

Psiquiatra diz que medicação não gera dependência

Cerca de 70% dos casos de depressão são tratáveis, mas existem pacientes, infelizmente, mais resistentes aos medicamentos e muitos até abandonam o tratamento. No caso da depressão resistente, o quadro é identificado quando o paciente não apresenta melhora de 50% dos sintomas após o uso adequado de dois antidepressivos convencionais diferentes, segundo Michel Haddad, psiquiatra no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).

De acordo com a psiquiatria Maria Fernanda Caliani, especialista em terapia cognitiva comportamental, a depressão refratária é caracterizada pela falta de resposta a pelo menos dois antidepressivos diferentes, administrados em doses adequadas. A ideação suicida, por sua vez, envolve pensamentos e planos de suicídio, representando um risco grave

O Cetamina Intranasal é um medicamento inovador especificamente desenvolvido para esses indivíduos e que age de forma diferente dos antidepressivos tradicionais, promovendo um aumento transitório da liberação de glutamato.. O medicamento tem se mostrado eficaz na reversão desses sintomas em poucos dias ou semanas de tratamento”, explica.

‘Esperança para 11 milhões de brasileiros com depressão’

Para Michel Haddad, o medicamento age de maneira diferente dos antidepressivos convencionais, atuando de forma mais rápida e “renovando a esperança de uma parcela significativa dos mais de 11 milhões de brasileiros com depressão”.

Dra. Maria Fernanda ressalta que os efeitos colaterais da cetamina são geralmente leves e passageiros e não há evidências de dependência química, tolerância ou abstinência com o uso.

Porém, é importante esclarecer que a medicação não substitui os antidepressivos tradicionais, necessários para a manutenção do tratamento a longo prazo. E o medicamento deve ser prescrito por um profissional da saúde autorizado a receitar.

Trata-se uma opção promissora para o tratamento da depressão refratária e da depressão com ideação suicida, com potencial de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Mas nunca se automedique”, finaliza a médica.

A infusão de cetamina é considerada um procedimento inovador para depressão resistente aos tratamentos convencionais, apresentando resultados efetivos, rápidos e satisfatórios, ajudando pacientes a superar as doenças e voltarem a aproveitar a vida, inclusive em clínicas de estética de luxo em São Paulo.

 

Entenda o caso da morte de Djidja

Djidja lutava contra a depressão

No aniversário de 32 anos, no dia 3 de fevereiro, Djidja revelou que lutava contra a depressão em vídeo publicado nas redes sociais comemorando com a família.“Só tenho a agradecer, principalmente por ter passado e superado esses meses doente (depressão, gastrite, etc). Em breve, quando me sentir confortável, eu conto o meu testemunho de como me recuperei e quis viver novamente”, diz Djidja na publicação.

Ex-sinhazinha do Boi Garantido encontrada morta revelou que lutava contra depressão em postagem. — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em outra publicação feita por ela, três dias depois do aniversário, ela relatou que enfrentava depressão há oito meses por diferentes fatores. Djidja também relatou que havia perdido 15 kg durante o período e que estava se recuperando.

Só tenho que agradecer vocês pelas mensagens positivas, tá me ajudando muito a melhorar. Pra quem não sabe ia fazer 8 meses que eu estava com depressão, por diversos fatos. Adoeci e emagreci mais de 15kg, mas já voltei, estou muito bem. Obrigada de todo o coração a todos que estão me ajudando com cada mensagem linda”, conta a ex-sinhazinha.

Droga seria usada em ritual religioso

Dilemar Cardoso Carlos da Silva, conhecida como Djidja, foi encontrada morta em sua residência e sua mãe, Cleusimar, e seu irmão, Ademar, foram presos, sob suspeita de tráfico ilegal de drogas, charlatanismo e outros crimes, além de incentivar o uso da substância que levou a empresária à morte.

Os três já eram investigados pela Polícia Civil cerca de 40 dias antes da morte de Djijha. Eles participavam de uma seita religiosa chamada Pai Mãe Vida, que forçava o uso da droga para alcançar uma suposta plenitude espiritual.

Duas funcionárias da rede de salões de beleza Belle Femme, que pertence à família, também foram detidas como suspeitas de envolvimento no esquema que, de acordo com a investigação, coletava a droga em clínicas veterinárias e distribuía entre os funcionários.

Em imagens gravadas na madrugada de 28 de maio, data da morte de Djidja, pelo seu ex-namorado, Bruno Roberto, de 31 anos, é possível vê-la segurando um frasco de cetamina na mão esquerda e uma seringa, na mão direita. Bruno pede para a ex soltar a droga. Ela resiste.

Em outro vídeo, Djidja aparece na cama enquanto procura a tampa de uma seringa. Bruno reclama que quer dormir e como resposta, ouve: “eu vou me aplicar”. O ex-namorado da empresária também foi preso, suspeito de tráfico de drogas, por facilitar o acesso a ampolas de cetamina, como as encontradas na casa de Djidja e nos salões de beleza da família.

Entre 2016 e 2020, encantou os torcedores do Garantido ao representar a sinhazinha da fazenda, personagem filha do dono da fazenda, que representa a história branca dentro do auto do boi no Festival Folclórico de Parintins. Após se aposentar como sinhazinha, passou a trabalhar ao lado da família no comando de uma rede de salão de beleza no Amazonas.

Atleta de bodybuilding, Bruno seria o responsável pelos treinos, alimentação e suplementação de Djidja e a mãe Cleusimar, que ganharam músculos em velocidade impressionante. Ele também se apresenta nas redes sociais como encantador de serpentes.

(Com informações do UOL e Em Tempo)

 

 

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