Não é de hoje que o uso de telefones celulares por crianças e adolescentes nas escolas é um tema que vem sendo amplamente discutido na sociedade, com opiniões diversas entre especialistas da área educacional. A recente proibição do celular nas escolas, determinada por lei federal que entra em vigor neste ano letivo, veio para esquentar ainda mais o debate.

Além do cuidado nas escolas, a utilização desses aparelhos e da internet precisam de atenção em casa. O levantamento TIC Kids Online Brasil (2024), realizado pela Unesco e Cetic.br, constatou que 93% das crianças e adolescentes brasileiros (de 9 a 17 anos) usam a internet e, assim como no ambiente físico, o digital também do acompanhamento dos responsáveis.

“Assim como ensinamos às nossas crianças a não falar com estranhos na rua, temos que agora ensiná-las a como se comportar na internet. Atualmente, pais e responsáveis devem trabalhar no letramento digital, supervisionando as atividades e ensinado a dinâmicas mercadológicas, pois o uso inadequado da internet pode gerar um meio propício para o adoecimento físico e mental. Vivemos hoje em um cenário múltiplo, e, ao se falar de infâncias e juventudes, se faz necessário promover um debate sobre o uso consciente de telas e dispositivos e a violência no ambiente digital”, comenta Irmāo Valdir Gugiel, diretor do Centro Marista de Defesa da Infância e membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Santa Catarina.

Para Filipe Colombini, psicólogo parental e CEO da Equipe AT,  a nova lei federal é uma medida importante e bastante efetiva, já que contribui para o desenvolvimento saudável das crianças e jovens. Ainda segundo ele, o tema não deveria ser fonte de tanta polêmica, já que os limites são importantes, seja dentro de casa ou na escola.

Segundo Colombini, um dos grandes prejuízos associados ao uso de celulares por este público é a conexão ininterrupta com as mídias sociais, o que prejudica a socialização na comunidade escolar e afeta o desenvolvimento psicossocial, cognitivo e da linguagem entre os alunos.

É preciso entender que esta lei só traz benefícios, pois agora os alunos vão focar nos conteúdos transmitidos em sala de aula, dedicando sua atenção e concentração às tarefas produtivas. Sou a favor de um uso de telas mediado pelos educadores, pois existem tarefas que dependem da tecnologia e, quando existe essa mediação, o uso de telas é benéfico”, complementa.

O psicólogo destaca que muitos pais não conseguem estabelecer limites para o uso de telas dentro de casa, dando permissão para o uso de celular em horas impróprias – como durante as refeições e momentos de integração em família (como durante leituras, diálogos, etc).

Ensinar a criança a discriminar os momentos adequados para uso do celular é benéfico para a saúde mental”, diz ele. “Os pais precisam entender que os filhos precisam de uma variedade de estímulos para seu pleno desenvolvimento e as atividades de lazer e em meio à natureza, além da prática de esportes são imprescindíveis, assim como permitir que os filhos vivenciem momentos de ócio, que fazem parte das relações humanas”, conclui.

Cinco dicas para proteger crianças e adolescentes na internet

Confira algumas dicas e cuidados com o acesso de crianças e adolescentes em ferramentas digitais:

1. Faça monitoramento e controle parental

O telefone celular é a principal tecnologia pela qual crianças e adolescentes acessam a internet (98%, segundo a pesquisa da TIC Kids Online Brasil). Esse fato representa um desafio para o acompanhamento de pais e responsáveis porque o aparelho, além de ser pequeno e móvel, tem seu uso mais privado.

Clemilson Graciano da Silva, especialista de Proteção do Marista Brasil, explica que o acesso às redes sociais deve ser permitido apenas a partir dos 13 anos e é interessante que os responsáveis fiquem atentos às indicações etárias dos aplicativos de celular, jogos e produtos audiovisuais, uma vez que elas tem o objetivo de alertar para os riscos da atividade, considerando o contato precoce das crianças com conteúdos inadequados para a faixa etária.

Além disso, recomenda a utilização da função “controle parental”, muitas vezes disponível nos dispositivos eletrônicos e em aplicativos. A pesquisa TIC Kids Online Brasil aponta que 67% dos pais ou responsáveis verificam os aplicativos baixados. Para novos contatos em redes sociais, esse número é de 65%. Porém, apenas 32% desses responsáveis utilizam recursos para filtrar aplicativos ou determinar com quem a criança ou o adolescente pode entrar em contato.

Ainda segundo a pesquisa, 76% dos responsáveis ensinam como se comportar na internet e 71% ensinam como usar a internet com segurança. “Às vezes pensamos que a criança pode estar em um ambiente seguro, como com amigos em um jogo online, mas o não acompanhamento próximo das atividades pode abrir possibilidades para que um crime aconteça”, afirma Clemilson.

2. Fique alerta a situações ofensivas

Três a cada dez crianças e adolescentes vivenciaram situações ofensivas, que não gostaram ou os chatearam na internet. Caso não tenha uma ação por parte do responsável, Bárbara Pimpão, gerente do Centro Marista de Defesa da Infância, explica que alguns casos podem evoluir para cyberbullying. “Crianças e adolescentes que estão sendo expostas repetidamente a mensagens que tem o objetivo de assustar, envergonhar ou enfurecer podem sofrer consequências psicológicas, físicas e sociais, como baixa autoestima, depressão, transtornos de ansiedade e insônia”, comenta.

É fundamental criar um canal de contato com um adulto de confiança para que essas agressões cheguem aos responsáveis e eles possam agir, denunciando o usuário, bloqueando o contato e, em alguns casos, até acionando as autoridades. “Segundo a organização social SaferNet, no ano passado mais de 71 mil denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil chegaram à sua Central Nacional de Crimes Cibernéticos. Esse número é 77% maior do que o registrado em 2022”, afirma Bárbara.

3. Explique sobre os perigos do contato com estranhos

Oriente as crianças e adolescentes a não fornecerem informações pessoais para jogadores que não conhecem, isso inclui não mandar fotos, ligar a câmera, adicionar em redes sociais ou aceitar convites para jogar pessoalmente. Explique que quando isso acontecer, um adulto de confiança deve ser informado e poderá ajudar a denunciar o usuário para que não volte a abordar as pessoas desse modo. Outra dica é usar um nickname em jogos online, para não expor o próprio nome.

Medidas como essas podem auxiliar na proteção e reduzir casos de grooming, que é a prática em que adultos buscam estabelecer uma relação de confiança com as crianças e adolescentes, em muitos casos fingindo ser uma criança,.

4. Converse sobre o uso excessivo da internet

Quase um quarto (24%) do total de crianças e adolescentes que foram ouvidos pelo estudo TIC Kids Online Brasil relataram que gostariam de passar menos tempo acessando a rede, mas não conseguiram fazê-lo. O levantamento apontou também que  22% dos entrevistados já se viram navegando na internet sem realmente estar interessado em nada e que 22% das crianças e adolescentes afirmaram que já ficaram muito tempo navegando e que isso os impediu de fazer a lição de casa ou de passar mais tempo com a família e os amigos. Bárbara reforça que, assim como em casos de violência online, o trabalho de conscientização é o melhor caminho.

5. Acessem juntos conteúdos para conscientização

O acesso a materiais e conteúdos que auxiliem as crianças e adolescentes na reflexão e conscientização sobre o tema é uma ferramenta para toda sociedade. Com o objetivo de contribuir com os direitos das crianças e adolescentes no espaço virtual, incluindo seu direito à proteção integral, o Centro Marista de Defesa da Infância aborda o tema por meio de vídeos educativos com linguagem acessível para meninas e meninos entre 4 e 12 anos de idade.  Os vídeos estão disponíveis para toda sociedade em defenda-se.com.

“Caixa do Agora”: lei  inspira ações para conectar famílias também em casa

A família tem um papel essencial no desenvolvimento infantil, especialmente nos primeiros anos, quando as interações estimulam o aprendizado de valores e habilidades cognitivas. No entanto, o uso excessivo de telas tem se tornado um desafio crescente, comprometendo essas relações e afetando o crescimento saudável das crianças.

Com a previsão de início da aplicação da nova lei em breve, o debate se estende também para os lares: como minimizar o excesso de tempo diante das telas em casa? A Eu Amo Papelão (EAP), que desenvolve brinquedos 100% feitos com o material, criou uma proposta, denominada “Caixa do Agora”, que comporta até três aparelhos celulares.

Uma simples embalagem, mas que faz um chamado importante para aproveitar cada instante ao lado da família. O tempo está passando muito depressa e cada minuto ao lado de quem amamos é um presente que não volta mais”, diz Eduardo Mazurkyewistz, pai de três filhos e criador do Grupo Mazurky, proprietário da marca EAP.

Do papelão que é feita a Caixa do Agora, também saem ideias de brinquedos que envolvem crianças e adultos em uma imersão à criatividade, como casinhas, castelos e carrinhos nos quais a criança pode, inclusive, entrar. “A diversão já pode começar na montagem e na personalização, com a família toda se envolvendo, pintando com tinha guache ou colando adesivos. Depois, é só dar asas à imaginação, criar histórias e brincar”, explica Mazurkyewistz.

Os brinquedos de papelão surgem como uma alternativa que não só resgata as brincadeiras de antigamente, sem tecnologia, mas também fortalece laços, incentivando atividades que envolvam todos os familiares. “Não é simplesmente dar um brinquedo; é proporcionar momentos únicos de brincadeira ao lado dos pais e criar memórias duradouras. São lembranças que não se quebram nem se perdem, e que permanecerão para todos”, conclui.

Com Assessorias

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