O Brasil está em segundo lugar no ranking de países com novos casos de hanseníase, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atrás apenas da India, o país registrou 26.875 casos no ano de 2017, o que representou 13% do total no mundo. Cercada de estigmas e conhecida no passado como lepra, a doença tem se alastrado silenciosamente e com grande intensidade no país, preocupando as autoridades públicas brasileiras.
No Estado do Rio de Janeiro, que registra 1.305 pacientes em tratamento, sendo 16% com algum grau de incapacidade física por conta da doença, o tema também é motivo de preocupação. Tanto que o dia 5 de agosto foi instituído como Dia Estadual de Combate à Hanseníase. Nesta data, chega ao Rio a carreta da saúde do projeto Roda-Hans, para levar atendimento gratuito e exames à população, além de esclarecer dúvidas e conscientizar sobre a prevenção e combate à hanseníase e ao preconceito associado à doença.
Inédito no Rio, o serviço itinerante conta com cinco consultórios e um laboratório montados em uma carreta que fará um roteiro de oito semanas por 19 cidades fluminenses. A primeira parada, de dois dias, acontece em Irajá, na Zona Norte da capital. O projeto oferece consultas dermatológicas e uma equipe que capacitará profissionais de saúde dos municípios, visando ao diagnóstico precoce e ao tratamento. Outro objetivo é deixar um legado na rede de Atenção Primária à Saúde destes municípios, tendo como foco a descentralização e ampliação do cuidado às pessoas diagnosticadas com hanseníase.
Uma doença de difícil diagnóstico
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o número de pacientes tratados atualmente pode não representar a totalidade dos casos existentes devido à dificuldade da identificação da doença, que possui evolução lenta e assintomática. As lesões na pele são o maior indicador da infecção, porém, muitas vezes pouco visíveis. O próprio paciente demora a notar a condição e, em diversos casos, o primeiro diagnóstico é errado por falta de capacitação adequada dos profissionais.
A hanseníase é causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que lesiona os nervos periféricos e reduz a sensibilidade da pele. Geralmente, o distúrbio ocasiona manchas esbranquiçadas em áreas como mãos, pés e olhos, mas também pode afetar o rosto, as orelhas, nádegas, braços, pernas e costas.
Ao identificar um caso da doença, é necessário realizar uma investigação epidemiológica da cadeia de transmissão da hanseníase, examinando qualquer pessoa que teve contato íntimo e prolongado com o paciente, como familiares e amigos. Esse trabalho será feito pelos municípios e acompanhado, durante três meses, pela equipe da Secretaria de Estado de Saúde, em parceria com instituições de ensino e pesquisa.
Leia mais
ONU de olho no aumento de casos de hanseníase no Brasil
Janeiro Roxo: como se proteger da hanseníase
Hanseníase: campanha incentiva diagnóstico precoce
Hanseníase avança silenciosamente no Rio, com mais de 1 mil casos
Remédio de graça e combate ao preconceito
Com mais de 70 mil atendimentos, a Carreta da Saúde, montada pela Novartis, completa 10 anos como uma das principais iniciativas de erradicação da doença no país. A carreta percorre vários estados brasileiros, com objetivo de contribuir para a busca da erradicar a doença até 2020, além de detectar outras doenças de pele, como o câncer.
Após a realização do diagnóstico, os pacientes recebem o tratamento completo por meio de medicamentos da Novartis, doados à Organização Mundial da Saúde (OMS), que os repassa a países como o Brasil. O tratamento poliquimioterapia (PQT), que está disponível gratuitamente em toda a rede pública brasileira, cura a hanseníase, interrompe sua transmissão e previne as deformidades.
Para Alexandre Chieppe, médico da SES, a Roda Hans também tem como destaque o papel estratégico de esclarecer dúvidas sobre a doença e combater o preconceito. “Outro objetivo da Roda-Hans é acabar com o estigma que existe em relação à hanseníase, difundido até mesmo entre profissionais de saúde que não têm a experiência de trabalhar com a doença. Isso faz com que possíveis pacientes tenham medo de buscar atendimento e pessoas com diagnóstico confirmado tenham sua vida social afetada, o que contribui para a diminuição da autoestima e para isolamento do paciente”, afirma.
Capacitação para 1.000 profissionais de saúde
Além de identificar casos de hanseníase, a iniciativa prevê a capacitação de profissionais de saúde das regiões por onde passa, para diagnosticar e tratar clinicamente a hanseníase. Essa capacitação terá sua segunda edição em 2019, por meio da parceria com a DAHW.
Serão capacitados cerca de mil profissionais de atenção primária de todo o estado. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, dentistas, entre outros profissionais, participam das oficinas de capacitação oferecidas pela SES e pelo Ministério da Saúde e depois farão parte da equipe de atendimento da carreta, sob a supervisão de especialistas.
Edmar Santos, secretário estadual de Saúde, ressalta que os treinamentos são essenciais porque possibilitam, ao mesmo tempo, a qualificação dos profissionais e a realização de diagnóstico precoce nestas grandes campanhas, fazendo com que os profissionais de saúde dos municípios realizem as atividades em seus territórios de atuação.
Com isso, as equipes que atuam em clínicas da família, postos de saúde e outras unidades de atenção primária estarão devidamente capacitadas para identificar sinais e sintomas da hanseníase, evitando sequelas decorrentes do diagnóstico tardio da doença”, explica.
Por onde a carreta passará
O serviço de saúde começa em Irajá, em 5 e 6 de agosto, com atendimento na esquina da rua do Encantamento com a rua Monsenhor Felix, das 8h às 17h. Depois de Irajá, a Carreta da Saúde segue percorrendo o estado do Rio de Janeiro até o fim de setembro, passando por municípios como Nova Iguaçu, Belford Roxo, Magé, Mesquita, São Gonçalo, Rio Bonito, Vassouras, Resende, Volta Redonda e Angra dos Reis.
Depois de Irajá (Rua do Encantamento, equina com Av. Monsenhor Félix, perto da saída do metrô), o Roda-Hans estará no dia 7 em Nova Iguaçu; no dia 9, em Belford Roxo; e, no dia 10, em Magé. Na segunda semana, a carreta segue para Mesquita (12 e 13), São Gonçalo (14 e 15) e Rio Bonito (16); e, na terceira semana, em Itaboraí (19 e 20) e São Pedro D’Aldeia (21, 22 e 23).
Na quarta semana, o Roda-Hans estará em Campos dos Goytacazes (26, 27 e 28) e Macaé (29 e 30). Já em setembro, será a vez de Itaperuna (2, 3 e 4), Santo Antônio de Pádua (5 e 6), Nova Friburgo (9, 10 e 11), Cordeiro (12 e 13), Vassouras (16, 17 e 18), Resende (19 e 20), Volta Redonda (23 e 24) e Angra dos Reis (25, 26 e 27).
PARCERIAS – O Roda-Hans é um projeto do Ministério da Saúde iniciado em 2018, em parceria com Conselho Nacional de Secretários de Saúde e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, das coordenações estadual e municipais do Programa de Hanseníase. Tem ainda apoio de instituições parceiras como Fiocruz, UFRJ, Novartis Brasil, Dahw Brasil, Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e as regionais (SBD-RJ e SBD-FL) e o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), além de especialistas em hanseníase.
Da Redação, com Assessorias (atualizado em 4 de agoato de 2019, às 20h)